RONALDOEVANGELISTA


A capa de Blue Train

Em 2005, escrevi dois textos para a edição especial As 100 Maiores Capas de Disco de Todos os Tempos (não em tamanho), da revista Bizz. Abaixo, sobre Blue Train, único elepê de John Coltrane para a Blue Note.



Foi o segundo álbum de Coltrane. No mesmo ano, 1957, o saxofonista já havia gravado seu álbum de estréia na gravadora Prestige, com que mantinha contrato. Mas era fã da Blue Note e havia prometido, faria um disco lá. Segundo o jornalista e historiador Richard Cook, autor do livro Blue Note Records - The Biography, o tal álbum só não havia saído antes por um motivo bastante prosaico: no dia em que o futuro autor de álbuns como Giant Steps e A Love Supreme visitou a sede da Blue Note o gato dos donos do selo, que morava no escritório, fugiu pela janela e a visita teve que ser adiada. Mas Blue Train aconteceu, e se tornou um marco nas carreiras tanto do músico como da gravadora.

Em 57 Coltrane estava em franca ascensão, tocando com o popular quinteto de Miles Davis e, nas horas vagas, improvisando com Thelonious Monk. No começo do ano lançou seu disco de estréia como líder e pouco depois este seu primeiro álbum cinco estrelas, onde surgia acompanhado dos melhores músicos da Blue Note: Lee Morgan no trompete, Curtis Fuller no trombone, Kenny Drew no piano, Paul Chambers no baixo e Philly Joe Jones na bateria. Com cinco músicas (quatro delas novas composições), todas entre 7 e 10 minutos, o saxofonista alternava sua genialidade entre o suíngue do hard bop e a sensibilidade das baladas, com sua eloqüente voz ao tenor. E, além dos músicos estelares e do fato inspirador de se estar na melhor gravadora de jazz do mundo, a Blue Note trazia outro aspecto irresistível: as capas, sempre antológicas.

Para a capa de Blue Train, Francis Wolff fez uma sessão de fotos com Coltrane pensativo, inspirado, com alguma idéia acabando de lhe chegar à mente. A foto era tão boa e captava tão bem o espírito do disco que o designer Reid Miles não teve que fazer muito: apenas deu o tom azul à foto e distribuiu harmoniosamente a tipografia com o nome do músico (verde, em minúsculas), o título do disco (branco, em maiúsculas) e o nome da gravadora seguido do número de catálogo (cinza, minúsculo, menor). Tudo aparentemente simples e perfeitamente em seu lugar, mas de alguma maneira original, apresentando uma nova maneira de ver o que achávamos que já conhecíamos. Como a música que embalava.

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Sambossa 5

Humberto Clayber, contrabaixista vindo do Sambalanço Trio, ali em 1965 mesmo. Kuntz Naegelle, sax e líder d'Os Copacabana nos anos 50 e em 65 também gravando no Sabadabada com Erlon Chaves. José Resala aka Turquinho, com seu bada-BAM, lenda da bateria em São Paulo desde o tempo das orquestras de baile. Luiz Mello, aluno de Moacir Santos, pianista de toque elegante e profundo, depois no Milton Banana Trio. Magno -Maguinho- D'Alcântara, trompete preza, baluarte do primeiro clássico paulista de samba-jazz, Projeção, e logo menos tocando no RC-7. Sambossa 5, melhor conjunto samba-jazz de São Paulo, standards MPM e temas originais e formação de quinteto, Horace Silver power: piano-baixo-bateria mais sax-trompete. Um disco em 1965, Som Maior. O segundo, Zero Hora, 1966, RCA Victor.









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Veneno Conjunto Nacional



É o Vira Cultura, virada da Livraria, Paulista com Augusta, Conjunto Nacional, desde hoje à tarde até amanhã fim do dia. Logo mais à uma de sábado pra domingo eu chego junto sob a rampa, Espaço Vinil, representando o Veneno Soundsystem, grooves a granel, spiritual jazz, sons afro, baiões, Fafá Lemos, brasilidades setentistas. Diversão e amizade: ao longo da virada, no som, Matias, Chaka, Paulão, Brandão, Nuts, Tibira, Farinha, Frasa, Lucas, Miranda. A imagem, meramente ilustrativa, Conjunto Nacional, 1968, velho recorte.

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tendo isso tudo eu não preciso de mais nada, é claro



Em 1955, Johnny Alf gravou um 78 RPM com seu trio e provocou uma pequena comoção entre alguns bem aventurados: "Rapaz de bem", um samba descolado tocado como se fosse o King Cole Trio, com melodia muito particular e interpretação à Sarah Vaughan, como um Dick Farney menos almofadinha, com a sensibilidade à flor da pele, endiabrado mas suave. A letra, esperta e com o leve hedonismo jovem dos antigos sambas de Noel, Custódio, Geraldo, Carmen, somado com a sofisticação consciente de Gershwin e do jazz dos anos 50. Aquilo invadiu o inconsciente coletivo de toda a bossa nova e foi essencial na equação construída sobre as bases de Tom e João mas, como eles e Donato, existe à parte.



você bem sabe eu sou um rapaz de bem
e a minha onda é do vai e vem
pois com as pessoas que eu bem tratar
eu qualquer dia posso me arrumar
vê se mora

no meu preparo intelectual
é o trabalho a pior moral
não sendo a minha apresentação
o meu dinheiro só de arrumação

eu tenho casa, tenho comida
não passo fome, graças a Deus
e no esporte eu sou de morte
tendo isso tudo eu não preciso de mais nada
é claro

se a luz do sol vem me trazer calor
e a luz da lua vem trazer amor
tudo de graça a natureza dá
pra que que eu quero trabalhar?

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Baseado





No começo de tudo era o choro. Não somente pelas primeiras acusações de influência do jazz a Pixinguinha, mas simplesmente porque o choro era por excelência e apuração a linguagem de improvisação brasileira - enquanto o jazz de orquestras, pré-bebop, era apenas um gênero. Algumas das melhores faixas dos discos de orquestras brasileiras nos anos 50 são os choros, como em discos da Orquestra Tabajara, de Severino Araújo, de Recife. Ou Moacir Santos, que em 1953 escreveu o choro "É você, Kuntz?", em homenagem ao clarinetista e saxofonista Kuntz Naegelle, maestro e mestre dos instrumentos, vindo das orquestras de cassinos cariocas nos anos 40 até o auge do samba-jazz paulista nos 60. Em 1947, logo após o fim dos cassinos, Kuntz criou ao lado do irmão também saxofonista Quincas a pequena grande orquestra Os Copacabana, que se orgulhava dos big sons que tirava com apenas oito músicos, formação ideal para boites. No LP de dez polegadas que Os Copacabana lançaram em 1955, com capa estilosa à jazz em tom vermelho, Vadico ao piano e já imbuindo no inconsciente a idéia do bairro carioca como meca de modernos instrumentistas brasileiros, talvez o ponto alto seja o choro "Baseado" (de Kuntz e Edison Marinho), levado por clarinete lírico e piano expressionista. É fato, até a bossa nova abrir a porteira conceitual para uma música brasileira auto-consciente e deliberadamente pra frente, os melhores momentos de desenvolvimento de arranjos, performance pessoal, interação musical estavam nos choros dos discos de orquestras.

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bloco de pra



Enquanto Moreno produz disco novo da madrinha Gal Costa, com canções inéditas de seu pai Caetano e a guitarra do parceiro Pedro Sá, e Kassin produz geral (Jeneci e Vanessa da Mata os mais recentes) e prepara segundo disco em grande estilo para 2011, o terceiro elemento do +2, Domenico Lancelotti, vem com sua tradicional despretensão abençoada e talento tranquilo: sai em pouco Cine Privê, seu disco novo, pela gravadora Coqueiro Verde, cheio de canções espertas e sons legais. Só pra entrar no clima mas manter o suspense, acima "Comigo", do clássico discreto Sincerely Hot, em momento bis do show de pré-lançamento do disco, terça passada no Rio.

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Betina, Arranjo e Regência: Tom Zé, 1973









Um ano depois deu seu primeiro disco pela Continental (e terceiro de carreira), no mesmo ano em que gravaria o arrojado Todos Os Olhos, 1973, Tom Zé fez um frila para a Chantecler: arranjou e regeu duas músicas suas para a voz de Betina - possivelmente o único lançamento de uma cantora hoje completamente desconhecida. No lado A, pequena obra-prima com brilhante e esquecido arranjo de sopros no contraponto, a então inédita "Que bate calado" (regravada por Tom Zé três anos depois como "Dói", no Estudando o Samba). No lado B, versão mais lenta e levada pro romântico de sua recente "O anfitrião" (do álbum de 72, mesmo de "Se o caso é chorar" e "Edifício Itália"), com o autor puxando o coro no refrão.

Betina com vocal claro e natural, melancólico e forte, de especial expressão e especialmente mágica para interpretar a riqueza de sentidos das canções de Tom Zé, comprovando cedo que os experimentalismos do ex-tropicalista fazem camada para canções que soam bem com mais de uma leitura - de amor mas esperta, de tristeza mas humorada. (E vale notar recentemente o mesmo efeito em discos de Monica Salmaso, Adriana Maciel, Marcia Castro, Bárbara Eugênia.) Tom Zé ali ele próprio no olho do furacão de seu auge criativo, colocando todas as forças a favor de um novo artista se lançando com suas músicas, compondo, cantando junto, arranjando, liderando a banda. Banda, aliás, toda particularmente inspirada - o baterista é algo a se ouvir. Pouco mais de sete minutos de música perfeita, Compacto Simples Chantecler C 33.6445, 1973, filho único querido escavado (terá sido Eric ou Henrique?), invendável e inemprestável, até onde sei nunca relançado em nenhum formato. Nem Tom Zé tinha, me pediu e copiei. Aproveitei para registrar o que ele se lembrava sobre a gravação, Betina, a idiossincrasia da situação:

Alguém me pediu que fizesse arranjo pro disco de inauguração de Betina. Não sei se ela chegou a gravar um LP, eu escrevi só duas músicas pra um compacto simples. Ela era uma pessoa séria, uma artista que já nasce madura. Cantava na noite, uma moça muito importante, tenho pena de não ter conhecido ela direito. Me lembro que eu estava de férias em São Sebastião, escrevi o arranjo lá, marquei com os músicos e vim tocar. Quando eu acabei de gravar, o próprio produtor me falou que tinha defeitos. Claro que a linguagem dele era outra mesmo, mas eu fiquei com pena dela. Betina, me perdoe por você ter chamado um artista tão sofisticado. Se ouvir a gravação, eu acho bom. Mas botar ela pra concorrer no mundo da música popular com aquilo, não era perfeito. Rogério Duprat, quando fez seus primeiros arranjos, já tinha a força de tudo pronta. Eu estava ainda armando, começando a montar minha linguagem, com aqueles blocos de metais. Mas era muito incipiente ainda, não era acompanhado por uma percussão forte, pra poder dar uma coisa pra manter o artista cantando. Aquilo ia ser minha linguagem já formada em 1976, quando escrevi a música novamente.

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Weldon Irvine



Meados dos anos 70, o estudante de cinema Collis Davis resolve fazer sua tese de mestrado sobre seu amigo músico Weldon Irvine, compositor elevado, jazzista revolucionário dos sons bonitos, rimador, poeta, parceiraço de Nina Simone no auge. Distribuidor de inspiração para gente como Madlib e tantos outros em tantos estilos, que sua alma descanse em paz entre tanto amor - Weldon suicidou-se em 2002. Ali, entre 74 e 79, Collis filmou Weldon tocando sozinho no estúdio, com sua banda no Village Gate em NY, em sua aula de artes marciais, em casa falando sobre se isolar e se entregar pela arte. O documentário, The Edification of Weldon Irvine, dá pra conseguir direto com o autor, siga o link. Trecho acima, Weldon simplesmente ao piano, "Pleasure, pain & me", mostra o poder de sua sensibilidade.

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VINTEDEZ




Alta e baixa cultura, comportamento pop e mundo real, insights e papo furado, teorias e tratados, contemplação e análise: Vintedez, algo como um podcast ou programa de rádio caseiro, eu e Alexandre Matias comentando assuntos absolutamente relevantes ou completamente absurdos, a depender do ponto de vista. As duas primeiras edições no ar no Trabalho Sujo, as próximas possivelmente toda semana, só acompanhar.

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Marcelo Jeneci & Marcelo Camelo




Logo na primeira música Jeneci deu um passo à frente no palco do Sesc Vila Mariana, algumas luzes se acenderam e ele fez o lugar parecer até pequeno para o quanto tinha pra mostrar. Na terceira, já puxou um coro perfeitamente afinado da platéia pra lhe acompanhar - provavelmente algum recorde, considerando que era o show de lançamento de um disco que ainda nem saiu fisicamente. A naturalidade com que recebeu Marcelo Camelo e o quanto ofereceu de espaço na sua música para a dele foi tocante, e desconfio que não só pra mim. Acima os dois momentos dos Marcelos juntos no palco: versão incrível de "Doce solidão" - Jeneci levando o groove no piano e cantando doce, Laura sentada ao lado puxando assobio e riffzinho no agudo, Camelo entrando no rocksteady - e "Liberdade" - no disco com acordeão de Dominguinhos, Jeneci dando seu toque ao instrumento em dueto com Camelo no violão.

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Marcelo Jeneci & Arthur Verocai



Jeneci é o cara que mais tem capricho e busca o melhor e vai no alvo, em timbres, melodias, letras, formação, dedicação. Não tinha como ser diferente no show de lançamento do primeiro disco, "Feito Pra Acabar": cem por cento em todos os sentidos, do começo ao fim. Para os arranjos do disco e para apresentar ao vivo, foi direto ao ponto e chamou Arthur Verocai, que colocou a orquestra no palco e pontuou as canções com momentos de roubar o fôlego. Enquadrados no vídeo acima, Jeneci à esquerda ao piano, maestro Verocai ao fundo à direita na batuta, momento sublime com "Quarto de dormir".

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Feito pra lançar



Os relatos do primeiro dia já foram de máxima ressonância emocional, ontem, com Arnaldo Antunes. Hoje, Jeneci lança seu primeiro disco, no Sesc Vila Mariana, com orquestra, Arthur Verocai, Marcelo Camelo, Tulipa Ruiz, Laura Lavieri e grande elenco de bambas.

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xaxado xaxado xado



Sai sai do sereno minino! O xaxado esquenta na gafieira logo mais no Astronete, Baile VENENO especial, mixtape nova pros melhores dançarinos e mais simpáticos, 100% vinil e 300% amor com o power trio Mauricio Pleuro's, Peba Tropikators e Ronaldo Adventista. Quem vai, quem vem, let's?

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Futurível



Gil, intuitivamente (porque nunca ouviu nada do Macaco Bong antes), declarou depois do ensaio que o resultado sonoro era algo nem exatamente Gilberto Gil nem exatamente Macaco Bong. Acertou na mosca. A soma das partes está dando numa terceira coisa. “Cérebro Eletrônico” e “Essa É Pra Tocar No Rádio”, se não é sacrilégio dizer isso, estão saindo redescobertas e revalorizadas. E “Palco” ainda deve ganhar um saxofone (do saxofonista Marcelo Monteiro da banda deo DJ Tudo).

Alex Antunes comenta um momento do encontro de Gilberto Gil com Macaco Bong, mais aqui. No palco, o resultado desse ensaio hoje, Auditório Ibirapuera, sete da noite.

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Blubell Bar B



Dia cinzinho, frio pré-verão, sábado véspera de domingo véspera de feriado, cidade tranquila e sentidos em câmera lenta: clima perfeito para noite no Centro, janelas pro mundo, calçadas iluminadas, pessoas geniais, sons bonitos, o incrível charme do Bar B e a incrível voz de Blubell. Hoje, cedo a partir de 22h, Bell toca e canta e experimenta e transcende com voz, guitarra, pedais, efeitos e repertório sentimental. Logo antes e logo depois, eu faço a trilha buscando a alta beleza, só jazz, magia do improviso.

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Casa Pelada + Gente que TRANSA



Por aqui ainda? Só pode ser um sinal: convocação de Dionísio, estudantes universitários, cortejo de leite mau na cara dos caretas, festa Casa Pelada + Gente que TRANSA. Logo menos, Pista 1, 100% vinil, 200% amor, na parceiragem com Peba Tropikal. Let's?

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Baião Groove





Momento quente das pistas Veneno, set especial em tons de forró, mixtape nova: Isso é que é bonito. Play acima ou cópia física, essa espécie em extinção, na sua mão no próximo baile, jogando em casa: domingo véspera no Astronete. O baião groove é seleta especial do começo ao fim: Gal Costa, Antonio Carlos e Jocafi, Tom Zé, Raul Seixas, Zé Ramalho, Luiz Gonzaga e tudo mais que você ouvir.

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BIXIGA 70




Comentei do Bixiga 70 quando ainda se chamava Malaika, e quem viu o show de estreia na Festa Fela mês passado já viu que não era brincadeira. Arrasando geral em tempo recorde, a primeira banda preza de afrobeat em São Paulo tá chegando hoje em Santo André, além de vários porvires nos picos mais massa da capital, fica de olho e não perde. A parada é séria: nove músicos no grau, mandando não só Fela, Budos Band e K. Frimpong, como também sons próprios da pesada. Acima, dois temas e arranjos de Mauricio Fleury, piano elétrico e órgão, do Som da Selva. Além dele, representando na guitarra Cris Scabello, do Rockers Control; bateria Décio 7, que toca com Leo Cavalcanti e percussão no Rockers; no trompete Gralha, do ProjetoNave e sempre somando no Otis Trio; no tenor Danny Boy aka Daniel Nogueira, do Projeto Coisa Fina; no trombone Tiquinho, de mais bandas que seria possível listar; mais barítono, percussão e vai segunindo nos vídeos acima, feitos pela Nina Cavalcanti, Estúdio Traquitana, Treze de Maio 70, Bixiga.

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Dizzy Gillespie no Brasil, 1956



Agosto de 1956, Dizzy Gillespie chega ao Rio de Janeiro, banda completa: Benny Golson, Quincy Jones, Phil Woods, Melba Liston, orquestra de 16 músicos. Além da recepção na Embaixada dos Estados Unidos, apresentação na moderníssima TV Tupi - primeira emissora de televisão da América do Sul -, e grande despedida no Jóquei Clube, Dizzy fez cinco big apresentações no Teatro República, de 8 a 12 daquele mês. Parte de uma grande turnê que o trompetista estrela do bebop jazz moderno fez pelo Oriente Médio, Ásia e América do Sul com apoio do Governo de Estado norte-americano.



Cumprindo o papel de embaixador musical, Dizzy ainda aproveitou pra passar no bairro de Madureira e visitar o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, breve vídeo do momento logo acima. No Hotel Glória, do Rio de Janeiro, Dizzy fez uma grande jam com a Orquestra do Maestro Cipó, diretor musical da Tupi, cruzando os ângulos bebop com ritmo brasileiro, pré-samba-jazz. Neste CD, trecho de onze minutos desse encontro: "Cepao's samba", aliás "Cipó's Samba".



Acima o anúncio da temporada, pescado aqui, e recorte de uma página da autobiografia do Dizzy, com foto da banda. Abaixo cobertura do show do dia oito para o jornal Última Hora, do Arquivo Público do Estado de São Paulo.












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Tom em casa







Falando no Tom, imagens do fim dos anos 50 ou começo dos 60, piano, cigarro e família. Fotos de Melo para o jornal Última Hora, do Arquivo Público do Estado de São Paulo.

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É madeira de vento



Tom Jobim, num telhado da vida, tocando flauta em algum momento dos anos 70.

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TRIO SURDINA






A emissão suave, a pronúncia coloquial, a sensação de perto do ouvido, a leveza e atualidade do som, o arranjo com poucos instrumentos e muitas dinâmicas. Quase dois anos antes de Chet Baker começar a cantar, pelo menos cinco antes de João Gilberto lançar sua batida cristalizada de violão-e-voz, doze depois do encontro de Django Reinhardt e Stephane Grappelli no Hot Club da França, o Trio Surdina vivia seu momento cheio de revoluções silenciosas: o violinista (e vocalista e assobiador) Fafá Lemos, o violonista Garoto e o sanfoneiro Chiquinho do Acordeom, músicos e estrelas da Rádio Nacional e em suas próprias carreiras.






Em quatro sessões entre os últimos dias de 1952 e os primeiros de 1953, nos estúdios da própria Nacional, o trio gravou um punhado de músicas com concepção assombrosamente moderna, arranjos de tirar o fôlego, malandragem, senso de humor e romantismo e criação em processo máximo de inventividade, unindo características muito particulares e complementares de cada músico. Um violinista assobiador cantando como João Gilberto seis anos antes da Bossa Nova? Um violonista com tanta clareza de toque e evolução de idéias? Um acordeão criando esses sons inéditos e em fusão com os outros instrumentos? Um trio inspirado em jazz e samba de breque? O nome perfeito, cheio de sentidos adequados, vinha do programa em que os três se encontravam com frequência e sucesso no formato: Música em Surdina, de Paulo Tapajós, circa 1952. Os Três Mosqueteiros da Bossa era um dos epítetos delegados a eles no ar em suas condições de ases e modernistas.






Fafá vindo do sucesso nacional de "Vingança", de Lupicínio Rodrigues, na voz de Linda Batista e com seu violino, e já às vésperas de ir aos Estados Unidos tocar com Carmen Miranda e gravar seu primeiro disco - com orquestra e clima Exótica, contemporâneo de Les Baxter e precursor de Martin Denny e Esquivel. Garoto, já revolucionário do choro, paradigma do seu instrumento, ousando nos acordes, invertendo ritmos, inventando andamentos, brincando com bordões e dedilhados. Chiquinho soando seu acordeão como órgão ou palheta, piano ou orquestra, fazendo cama ou solando, segurando ou soltando o groove, dialogando no registro agudo com o violino ou criando riffs em uníssono com o violão, lírico e criativo.





Os três juntos, em melhores momentos e disposições, alimentando-se da criatividade extra necessária para um trio de violino-violão-acordeão criar e preencher sons e espaços e o inevitável senso de diversão despretensiosa que nasce como consequência. Tangos, foxes, beguines, baiões em pegada entre o improviso do jazz de salão e a roda de morro. O samba de bossa de Noel Rosa, a beleza de Dorival Caymmi, a aristocracia de Ary Barroso. O arrepiante violão de Garoto a um passo de João Gilberto e além, os impressionantes timbres do acordeão de Chiquinho e o lindo tratamento das melodias por Fafá, glissandos, rubatos, pizzicatos, vocal ultra-cool e solos de assobio. Vinte e oito músicas, uma hora e vinte minutos preciosos: toda sua obra oficial em três LPs e meio de dez polegadas pela gravadora Musidisc, os dois primeiros, respectivamente, em vinil amarelo e verde.

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sabadabada

sabadabada

Não basta ser samba-jazz finesse, noneto com Raulzinho, Costita, Kuntz, Zezinho Alves, o melhor disco do mundo. Ainda tem que ter esse nome pop-fônico onomatopaico, essa capa maravilhosamente moderna e ter saído em vinil roxo, tipo 1965. Continental, Erlon Chaves, Alfredo Borba, onde vocês estavam com a cabeça? Onde quer que fosse, obrigado.

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Novembro Veneno



Novembro tá quente: abrindo o mês Veneno hoje tocamos no Estúdio Emme, lançamento do filme José & Pilar (também conhecido como O Documentário do Saramago). Amanhã são três simultâneas: discotecagem jazz no Bar B, banda afrobeat no Tapas e Tropikalismo em Fortaleza. Semana que vem o ritmo vai igual e pelo mês ainda acontecem Baile no Astronete, Proibidão, Curitiba, Gente que Transa, mixtapes novas, adesivos e vai acompanhando por aqui.

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Cigano no Baião



Alguém por favor mostra isso pro Andrew Bird. Fafá Lemos é o cara.

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João Gilberto et Os Cariocas - Só danço samba



As harmonias vocais (agudas, graves, abertas, dissonantes) dos Cariocas são chocantes, especialmente sobre a base zen do violão do João (e um breve "vai vai vai vai vai" aos 2m31s), mas a cereja do bolo é a caidinha que João dá com a voz aos 36 segundos, de resumir toda sua genialidade em um suspiro - enquanto canta sozinho uma vez antes do grupo vocal entrar rasgando. Gravado para a bande originale do filme Copacabana Palace e só lançado em um EP (ou "compacto duplo") na França, 1962.




[via Loronix]

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