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batizado bom



Em 1976, Tom Zé abria um de seus melhores discos, Estudando o Samba, com "Mã", das principais experiências dentro da idéia de desconstruir o mais famoso ritmo brasileiro. A idéia toda nasceu de uma conversa com Duprat, me contou Tom Zé, na época do aniversário de 30 anos do disco: Em 1975 o samba estava muito denegrido, todo mundo dizia que estava repetitivo, estava mal. Aí um dia o Rogério Duprat me falou uma coisa que me iluminou, disse, "Tom Zé, você veja, o samba está esculhambado, mas, se você pegar aquela estrutura que faz o samba - o surdo, o tarol, a caixa, o tamborim, a cuíca - e analisar, isso é de uma sofisticação que não tem tamanho." E quando ele me disse isso, rapaz, eu fiquei num contentamento que me deu a idéia de fazer o Estudando o Samba.

Longe de um disco de samba, mas um riquíssimo disco de Tom Zé sobre e a partir do samba - crônica, paródia, pastiche, ironice; elementos da música de Tom Zé de 1955 a 2009 e além. "Mã", especificamente, com sua intro na percussão e riffs de cavaquinho e guitarra que entram em lugares inesperados, genuinamente entortando o samba, era tão emblemática que ainda acabou retrabalhada por Tom Zé como "Nave Maria", no disco homônimo, 1984.



Vinte anos depois do lançamento, o arame farpado em torno da capa com a enorme palavra SAMBA chamou a atenção de David Byrne em uma passagem pela Galeria do Rock, em São Paulo. Comprou, levou pra casa, ouviu, trincou e relançou por seu selo, Luaka Bop. Ponto de partida de toda uma nova fase na carreira de Tom Zé: ídolo cult pop experimentalista para mais de uma geração de americanos (e europeus e et ceteras) interessados em seu anti-pop engenhoso e deliciosamente anárquico. De Tortoise a Cake, passando por Amerie, rappers, indie-rockers e free-jazzistas...

Instintivamente, Tom Zé, com sua formação de músico erudito de vanguarda e sua sensibilidade pop ácida do sertão, atinge com suas construções sonoras totalmente particulares e constantemente únicas um centro nervoso de estímulo pulga-atrás-da-orelha que se comunica universalmente, de tão sensoriais.

Veja o Nomo, banda de Detroit, naquele universo recente de "afrobeat" pós-Pós-Rock. Saca a versão de "Mã" que a banda lançou há poucos meses, no álbum Invisible Cities - onde a voz vira naipe de sopros, a guitarra vira sax barítono, o cavaquinho vira guitarra e o intrincado arranjo de Tom Zé, construído sobre ostinatos em contraponto, se torna base de uma interessante interpretação, toda cerebral e hipnótica, girando sobre si mesma:

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