RONALDOEVANGELISTA


Os Mutantos, Paris, 1969



Janeiro de 1969, Os Mutantes (com Dinho e Rogério Duprat, mas ainda sem Liminha) embarcaram para Paris, na conta da Philips, para apresentação-showcase no MIDEM e estratégias de divulgação, como a sensacional aparição na TV francesa no play acima. (Foi um ano e meio depois, em outubro de 70 que voltaram para temporada no Olympia e aproveitaram para gravar o incrível álbum Tecnicolor.) O trio mais baterista e maestro tinham acabado de terminar as gravações do segundo disco, em dezembro, então a afiação era total - embora toquem aqui duas do primeiro, do meio do ano anterior. A dança do rapaz (no 1 min), o bigode e chapéu de Dinho (aos 3 min), os sininhos e o longo close no rosto de Rita (entre os minutos 6 e 7), não tem preço. // E que triste pensar que dez pessoas no palco hoje não criam como quatro criavam então.

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Yusef Lateef e o Amor Supremo de Coltrane



Todo louvor devido a Deus e ao homem. Dois breves parágrafos sobre o Alcorão, Juanita Naima Grubbs e o grande desabrochar espiritual de John Coltrane, da autobiografia do doutor Lateef.

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As Aventuras da BLITZ



Não foi só no logo da banda, inspirado no dos X-Men. A relação da Blitz com os Quadrinhos simbolizava todas a vocação pop-arte da banda, como o colorido new wave, as gírias, o humor, os músicos-personagens.

Quando da primeira tiragem do primeiro disco da Blitz, 1982, junto com o LP vinha um gibi homônimo, criado pela dupla de designers Luiz Stein e Gringo Cardia (então no estúdio A Bela Arte e, como a Blitz, em começo de carreira), com anúncios absurdos estrelados pela banda e uma HQ contando a história de "Você não soube me amar", toda feita com colagens e participações discretas de Fantasma, Madrake, Mulher-Gato.

As Aventuras da Blitz No 1, janeiro de 1982. Via Gramatologia.







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Yèkèrmo Sèw



Mulatu Astatké ao vivo, em dezembro último, pra dar sorte.

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Sometimes I Feel Like a Motherless Child



Exprimindo desde o século retrasado a triste sensação de ser um filho sem mãe, um cidadão sem pátria, um ser humano sem amor, o spiritual "Sometimes I Feel Like a Motherless Child" ganha beleza transcedental e quase kitsch no vídeo acima, Sonya Robinson no violino, Malik Cohran no contrabaixo e o grande Kelan Philip Cohran no trompete, na seqüência no seu frankiphone. Mais essa incrível dançarina sem nome, acompanhando os sons com seus movimentos. Aparentemente filmado em algum momento dos anos 80, hipster involuntário, altamente emocionante, intimismo e improviso, melhor música e melhor vídeo do mundo. Música, maestro, por favor.

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Gigante Gentil

Se a busca pela beleza é o foco e a curiosidade o combustível, o caminho é infinito. Aproveitando a vinda de Doutor Yusef Lateef ao Brasil na semana que vem, liguei para Amherst, Massachussetts, para um papo sobre tão brilhante, longa e humana carreira. O resultado, no caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo de hoje, por aqui, ou expandido quase íntegra logo abaixo.



Yusef Lateef não é músico de ser apresentado como "tocou com tal lenda do jazz". Se “lenda” significa alguma coisa, ele o é por si só. E, aliás, o que faz não é jazz. Não apenas uma questão semântica, mas de formato e expressão. Se o jornalismo é construído sobre simplificações, enxugar um conceito para explicá-lo, isso é o oposto da busca de Lateef - expandir os limites e explorar as possibilidades, muito mais compositor que intérprete de standards.

Se a princípio parece estranho querer fugir  do rótulo de jazz quando se gravou pela gravadora Impulse, tocou na orquestra de Dizzy Gillespie e, dizem, influenciou espiritualmente John Coltrane, é porque admitir-se jazz é admitir os limites de sua criação. O que Dr. Lateef faz é Música Autofisiopsíquica - não confundir com free jazz, que parte de pressupostos parecidos mas para implodir a própria linguagem do jazz. O ponto de Lateef é a curiosidade, a beleza. E, se o novo intimida, é o que explica Lateef não estar entre os mais conhecidos - embora esteja entre os mais respeitados por quem conhece.

Flautista, saxofonista, oboísta, claronista, um dos primeiros a se interessar profundamente por padrões musicais orientais e africanos, ainda na década de 50, Lateef foi e é até hoje, aos 90 anos, um dos mais estudiosos e expressivos inovadores com senso de naturalidade, do jazz ou não. Estudioso da beleza, com infinita curiosidade, mergulha profundo nos seus estudos e aprendizados musicais e também na própria sensibilidade, o que gera um virtuosismo de expressão individual.

Além de multiinstrumentista, pesquisador, mestre, professor, aos 90 anos continua compondo e em ocasiões especiais viaja para shows como o que fará pela primeira vez no Brasil, no teatro do Sesc Pompéia, sábado (12) e domingo (13), acompanhado de Rob Mazurek (trompete), William Parker (baixo), Jason Adasiewicz (vibrafone), Thomas Rohrer (rabeca) e Maurício Takara (percussão).



Imagino que seja um termo restritivo, mas gostaria de saber se o senhor considera sua música jazz, ou o jazz como parte de sua música.

A palavra jazz de nenhuma maneira define o que faço. Prefiro Música Autofisiopsíquica, que quer dizer do físico e da mente, do espírito e do coração.

Bem, improviso é uma busca por expressão individual, então imagino que seja onde o conceito de jazz encontra a música Autofisiopsíquica.

Mesmo a palavra improviso não é apropriada, porque a definição que conheço de improviso é fazer algo sem preparação. Se isso fosse verdade, ninguém precisaria praticar ou estudar música.

Sendo uma expressão tão íntima de cada um, o senhor acha que a música pode ter um efeito maior do que agradar os ouvidos, um alcance espiritual?

Sim, acredito que há qualidades estéticas que vêm da música, algo como para boas pessoas há boa música e para más pessoas há má música. (risos)



Essa idéia de expressão individual, música autofisiopsíquica, foi o que lhe atraiu para diferentes sons e instrumentos?

Sim, desde o começo me senti atraído por essa beleza que vem da música. Existe uma forma de arte prototípica que vem de certas músicas, mas há também outras formas de música menos aparentes. Cada país tem algo único, suas estéticas peculiares. Assim como cada pessoa tem sua linguagem. As pessoas expressam suas experiências, seus desejos, suas crenças, seu conhecimento através da música.

O senhor diria que a linguagem de uma pessoa se modifica ou continua a mesma em diferentes instrumentos?

Bem, música em si é uma linguagem e comunica idéias. Ou não comunica. Algumas idéias são claras, outras nem tanto. Há diferentes níveis de entendimento. Diferentes idéias são expressadas através de pessoas diferentes. E através de instrumentos diferentes, é claro.

Quando o senhor começou a estudar e tocar instrumentos como oboé e fagote, havia um modelo para isso ou a falta de modelo era o que lhe atraía?

Desde o começo havia exemplos. Toda a natureza é um modelo, a beleza que pode ser percebida e transmitida pela música. Um pôr-do-sol, por exemplo, é uma mensagem, algo que se sabe apreciar, algo pelo que se sabe ser afetado. Uma flor e suas pétalas expressam beleza, e simplesmente refletir sobre essa beleza... é algo que transparece na música de certos indivíduos que são sensíveis à beleza da criação.



O senhor passou quatro anos na Nigéria. Como foi a experiência?

Fiquei quatro anos, de agosto de 1981 a agosto de 1985. Eu era um pesquisador sênior na Universidade Ahmadu Bello em Zaria, na Nigéria. Minha pesquisa era um instrumento da etnia Fulani, a flauta Sarewa. Também uma de minhas funções era interagir com músicos e dramaturgos, como consultor musical. Realizamos um drama chamado Rainha Amina, baseado em uma verdadeira rainha que viveu na Nigéria há algumas centenas de anos. Chegamos a levar o espetáculo para Sofia, Bulgária, em um festival de 28 nações. Foi muito informativo.

É muito comum chamar a música que tomou forma no último século nos Estados Unidos de música afro-americana. Enquanto o senhor esteve na África, teve uma sensação de proximidade das origens?

Sim. Descobri que muitos temas comuns ao blues - blues de 12 compassos, blues modal e talvez toda a música da América - foram herdados da música dos povos Tiv - para citar um entre centenas de grupos étnicos na Nigéria. Pesquisei uma forma musical que eles chamam de Canções Órfãs. Muitas vezes eles cantam as mesmas canções, às vezes até com as mesmas palavras, mas em diferentes melodias. Alguém que perdeu a mãe, por exemplo, cantaria “ó mãe, se você estivesse aqui eu não estaria passando pelos problemas por que passo agora” ou “ó mãe, se eu tivesse sido bom não sentiria esse peso no coração”. A mesma construção de frases, as mesmas histórias típicas de sofrimento etc que você encontra no blues americano, você encontra nas Canções Órfãs na Nigéria.



Doutor Lateef, quando ouço sua música tenho uma profunda sensação de humanidade. Essa é uma definição de sua música que o agrada?

Aahh, sim. Fico tão feliz. Amo a humanidade e quando minha música toca o coração sinto como se tivesse sido um recipiente para comunicar algumas das belezas da criação.

Depois de tantas coisas que o senhor fez, há algo que o deixe especialmente orgulhoso, que você carregue com um carinho especial?

Bem, não sou orgulhoso. Tento não ficar. Tento ser humilde e servil e grato, essas são minhas aspirações.

O senhor completou 90 anos há poucos meses. Tem trabalhado muito?

Acabo de terminar minha série de sinfonias. Estou trabalhando em uma ópera. Se for a vontade de Deus, a terminarei.

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Vincent Moon no Brasil








O cara que criou os famosos Concerts à emporter, filmou Curumin num hotel e Andrew Bird em Montmartre, entre mil projetos legais, aportou no Brasil há uns meses, no seu circuito de cineasta nômade, e apontou o approach naturalista e olhar certeiro pra um monte de gente legal. Em breve invadindo a internet como parte da onda Brasil Invasion 2011 os vídeos de Vincent Moon para as séries Petites Planetes e Take Away Show, com, além de Holger e Thiago Pethit, Tom Zé, Jorge Mautner, Dona Inah, Zé Domingos, Ney Matogrosso e Elza Soares, respectivamente nas imagens acima.

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