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Miles, 85

Miles Davis foi assunto em tantas conversas ultimamente que os 85 anos que completaria se estivesse na área, hoje, foram ponto de partida pra pergunta séria para pessoas sérias - qual seu disco favorito do Miles? - e matéria que saiu na Folha. A foto estilosa abaixo é de 1958 (de imagens inéditas publicadas agora pela Time) e o texto você segue lendo.



Se estivesse vivo, Miles Davis estaria diferente. Diferente do que ele era, diferente do que você esperaria que ele fosse.

Era assim: em 65 anos de vida, com o som do seu trompete, inventou o jazz moderno, criou estilos, lançou tendências e viveu diferentes fases - cada uma com sua estética e proposta particulares e revolucionárias.

Se estivesse vivo, estaria completando 85 anos hoje. Vinte anos depois de sua partida, sua presença - em sons, idéias, pensamentos, histórias e um punhado de obras-primas em um número de discos - continua influenciando o mundo em que vivemos.

No mínimo desde a década de 50 e até hoje, a força da música de Miles Davis como influência passa por todos os gêneros e gerações. O músico Pedro Paulo, conhecido por seu trompete em discos de samba-jazz dos anos 60, de nomes como JT Meirelles, Edison Machado e Tenório Jr, cita o som de Miles como principal inspiração.

“O ‘Kind of Blue’ foi uma referência total, total”, conta. “Ouvimos muito para tirar aquele som com o quinteto Meirelles & Os Copa 5, de sax e trompete com surdina. Quem marcou o som da surdina no mundo foi o Miles.”

O maestro Julio Medaglia reforça o peso da arte criada por Davis, citando o LP “Sketches of Spain” como favorito. “Os arranjos do Gil Evans nesse disco fazem um trabalho mais nos timbres do que na tradição, o Gil reformulou toda a orquestração jazzística”, observa. “Mas o Miles era o cara que trazia as ideias - ele passou por vários estágios, foi a pessoa que mais descobriu músicos, seu trabalho tem várias dimensões. Miles vivia sempre se renovando.”

Também conhecido como Guizado, o trompetista Guilherme Mendonça cita como favorita a fase elétrica de Miles, do fim dos anos 60, em especial o disco “Miles in the Sky”. “Ele estava tocando na sua melhor forma”, conta. “Tinha voltado a praticar diariamente, largado a heroína, estava treinando boxe e além disso havia o momento sócio-político da época, tudo isso influenciou muito o jeito dele tocar.”

Elegendo o álbum "Bitches Brew", o trombonista Bocato concorda: “É um disco que cativa gente do rock e do jazz, tem de tudo. Ele agrega muitos músicos e dá o caminho para todo mundo, a fusion nasce ali.”

O saxofonista Thiago França lembra-se da primeira que ouviu o trompete de Davis: “Fiquei completamente estonteado, o improviso parecia que contava a história melhor que a letra”.

Entre tantas experimentações, é impressionante que Miles tenha deixado tão claro ao mundo seu estilo, sua voz, sua personalidade. A melhor definicão veio de França: “o que ficou mesmo foi essa impressão de que ele estava sempre mais preocupado com novos caminhos estéticos do que com o virtuosismo gratuito.”

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