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singularidades

Semana passada conversei com Wayne Shorter para matéria publicada na sexta na Folha, sobre o show que ele faz no auditório Ibirapuera próximo dia 10 de junho. Em sua última vinda ao país, em 2005, também conversei com ele e assisti o show, e ele está falando sério: quando subir ao palco e começar a tocar, qualquer coisa pode acontecer - e acontece. Celebrando a música como evento inesperado e lição maior, abaixo nossa conversa.


(foto daqui)

Wayne Shorter negocia o inesperado em volta ao Brasil
Saxofonista, que já tocou com Miles Davis e Herbie Hancock, toca com quarteto acústico

"Tente ensaiar viver no momento", desafia Wayne Shorter. "Não é possível, você simplesmente vive."

Está falando, é claro, da expressão de sua música, e do ato de estar no palco. "É isso que é o jazz, todo o processo criativo. O jazz é uma das formas de arte em que você precisa estar no momento. Acho que os pintores fazem o mesmo quando pintam: é como se não houvesse ninguém por perto."

Shorter, 77 anos, vem ao Brasil para sua primeira visita desde 2005, quando se apresentou no Tim Festival. Em São Paulo, toca no dia 10 de junho dentro do BMW Jazz Festival, realizado pelos mesmos organizadores do antigo Tim.

A seu lado, os já parceiros de longa data de seu mais recente quarteto, acústico, com Danilo Perez no piano, John Patituci no contrabaixo e Terri Lyne Carrington na bateria (substituindo aqui Brian Blade). "É, tocamos juntos há mais de dez anos, quase tanto quanto o Weather Report", calcula em voz alta, lembrando os tempos da banda superstar do jazz elétrico de fins dos anos 70.

Com o quarteto, no Brasil, no palco do Auditório Ibirapuera, Shorter pretende se lançar ao desconhecido e reinventar na hora a própria musicalidade. "Nós não ensaiamos, gostamos de refletir sobre o que está acontecendo naquele dia, naquele momento" explica, ao telefone. "Esse é o desafio que encontramos no palco quando tocamos, você negocia o inesperado de uma maneira nunca feita antes."

"Não falamos sobre o que vamos tocar. Entramos no palco e quem quer de nós que faça o primeiro o primeiro som, os outros dizem, ok. O que você faz depois que diz oi? Você apoia qualquer som que vem no seu caminho, ao invés de lutar contra - seria como interromper a conversa de alguém."

Qualquer um que já tenha ouvido a impetuosidade dos discos que gravou ao lado do famoso quinteto de Miles Davis nos anos 60, ou seus próprios álbuns, clássicos pela Blue Note como "Speak No Evil" ou "Juju", pode reconhecer 50 anos de vigor criativo. Mas, ele diz, é um aprendizado constante - e a vontade de tocar o momento é "algo que está sendo percebido mais".

"Estou lendo "The Grand Design", do Stephen Hawking, que diz que o universo não foi criado por algum poder sobrenatural. O universo se cria. E ele usa a palavra singularidade. Olhei no dicionário e diz: um evento único, que nunca aconteceu antes. A maior parte das conversas em qualquer língua é repetição, variação, de novo e de novo e de novo. Nós precisamos de singularidades na vida de cada um."

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