RONALDOEVANGELISTA


Coisas



Atenção, todos os amigos que disseram que queriam ver a big band Coisa Fina, dedicada à obra de Moacir Santos: hoje é a última terça em que eles tocam lá no Cedo e Sentado, do Studio SP. Quem conhece o Moacir Santos já sabe, é coisa de outro mundo. Afrojazz Ellingtoniano, nordestino, sofisticado, delicioso, sobrenatural de tão fantástico. E o Coisa Fina sabe. Sente o clima no vídeo aí em cima.



Uma das maiores honras da minha vida foi ter tido a oportunidade de ouvir a história do Moacir Santos contada ali, em primeira pessoa. Foi em 2005, alguns meses antes de sua morte. Eu colaborava com a revista Bizz, na época editada por Ricardo Alexandre, para quem fiz a pauta. Fui encontrar Moacir, de passagem pelo Brasil e por São Paulo, em um hotel e ali conversamos por algumas horas - eu, ele e Eugênio Vieira, que fez algumas fotos lindíssimas, que podem ser vistas aqui ou ao longo desse post. Foi uma tarde incrível pela conversa, pela delicadeza, pela sabedoria, pela humildade de Moacir.



Eu já era apaixonado por ele há alguns anos: nosso primeiro Coisas pirata a gente nunca esquece. Junto com o Tim Maia Racional, o Coisas era, até 2005 (quando foi relançado pelo selo MP,B), provavelmente o disco brasileiro mais lendário e pirateado nas internas. O disco original foi lançado em 1965 pela Forma - e uma cópia em bom estado do LP passa fácil dos mil reais no mercado negro dos colecionadores. E quer saber? Se o valor estiver ligado à qualidade do disco, está barato.

Felizmente, hoje em dia qualquer um pode conseguir uma cópia com a facilidade de um clique, aqui.

Abaixo, a entrevista, quase como publicada na Bizz.



O maior clichê em qualquer texto sobre Moacir Santos é começar citando o que diz sobre ele Vinicius de Moraes, na parte recitada da música "Samba da Bênção": "A bênção, maestro Moacir Santos, que não és um só, mas tantos".

É claro que nós não seríamos a exceção, mas talvez agora seja um bom momento para lembrar que a maior parte das matérias lidas por aí não vai muito além do clichê. Moacir Santos tem uma das histórias mais fascinantes de qualquer músico, de qualquer estilo, de qualquer época - mas até hoje muito pouco contada.

O que se sabe, em qualquer texto: foi professor de músicos como Nara Leão, Baden Powell, Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Carlos Lyra; seu álbum de 1965, "Coisas", é um dos mais geniais e desconhecidos da música brasileira; em fins dos anos 60 trocou o Brasil pelos EUA e, de lambuja, assinou com a maior gravadora de jazz do mundo, a Blue Note, que lançou três álbuns seus.

O que não se comenta com tanta freqüência: Moacir veio do sertão nordestino e tem história de vida que parece ter sido pura criação da cabeça de Guimarães Rosa. Acompanhando sua história, é fácil entender a riqueza de sua música, ao mesmo tempo simples e complexa, uma espécie de afro-jazz brasileiro e camerístico, tão sofisticado quanto irresistível por sua musicalidade imediata.

Em 1997 sofreu um derrame que lhe paralisou a mão direita, entre outras conseqüências. Com sua história de vida e seu constante espírito leve, não parece ser algo tão trágico. Afinal, coisas boas é que não faltam em sua vida atualmente.

O desconhecimento a respeito de sua obra começou a ser diminuído em 2001, quando os músicos Mario Adnet e Zé Nogueira produziram o CD duplo Ouro Negro, com regravações - a partir dos arranjos originais - de músicas de toda sua carreira. Depois disso, vieram o relançamento em CD do clássico "Coisas", livros de partitura do seu cancioneiro, e, em 2005, um novo álbum de canções inéditas, "Choros & Alegria", apenas o sexto de sua carreira. Agora, às vésperas de completar 80 anos (em 26 de julho), Moacir se prepara para ver relançados em CD, pela primeira vez, seus álbuns americanos.

Durante algumas horas em um lobby de hotel em São Paulo e mais algum tempo por telefone de sua casa em Los Angeles, Moacir conversou conosco falando devagar, como um conta-gotas de histórias incríveis, com longas lembranças que se confundem entre si e emocionam - mais de uma vez, lágrimas vieram aos seus olhos ao lembrar de algum detalhe até então escondido na memória.

Com seu jeito pessoal de falar, misturando narrativa e música, chamando o pianista Horace Silver de "Horácio Silva", despejando doçura, Moacir adora contar histórias. A cada pergunta, repetia, satisfeito: "Ah, isso é outra história. Vou contar, hein?"

Então, senta, que agora Moacir vai contar história.


Qual a sua primeira lembrança musical?

Sinto necessidade de contar uma história. Quando mamãe morreu, eu tinha já uns três anos, mais ou menos. Me lembro disso. Eu estava no quintal da casa, batendo latas, imitando a banda da cidade. Eu tinha uma bandinha. Uns cinco meninos, tudo nuzinho. Por duas razões. Uma, porque lá é muito quente. A outra, porque a gente era pobre. Então, estava batendo lata e uma pessoa disse, "Moacir, venha cá pra você ver sua mãe". Eu não sabia o que era morte, mas eu cheguei e senti que estava faltando alguma coisa nela. Aí, foi parede do quarto e chorar. E eu estava batendo lata. Isso aí é o pivô da história, isso aí eu lembro. Muito digno de mencionar.

Vocês garotos já tinham algum instrumento?

O meu instrumento era lata, eu ficava batendo lata de goiaba. Tatatata, tocando. Eu tenho isso pra mim que eu já nasci músico, nasci com a música. Eu era também diretorzinho dos meninos, da banda, quando a gente era criança, lá em Flores, cidadezinha que eu morava, que tinha seis ruas principais, agora deve ter oito ou nove.

E depois que sua mãe morreu?

Cada família de Flores apanhou um dos meninos, uma das crianças dos filhos de mamãe. De Julita, que era minha mãe. Éramos cinco. Três meninas e dois homens. Eu fui tomado pra uma família, me adotaram, e a casa era muito perto da sala do ensaio da Banda Marcial que tinha. Não pode ter sido uma banda fenomenal não, muito resumida. Mas tocava na igreja. Então eu imitava, como criança, à medida que eu via. E houve uma coisa muito importante na minha vida: quando eu tinha mais ou menos nove a dez anos, fui assistir um ensaio. Eu entrei lá e não me resistia a coisa de mexer, de tocar no instrumento, encostar. Coisa de criança mesmo. Aí um dos rapazes da banda, ele me repreendeu. "Não mexe aí não, ô, moleque." Ao invés de ficar ressentido e deixar de assistir à banda, eu continuei, próximo ensaio eu estava lá. Então, alguém sugeriu que escolhêssemos Moacir para tomar conta dos instrumentos da banda quando eles tinham um breakzinho, um café, fumar, alguma coisa. Aí, pronto, eu aprendi todos os instrumentos. Porque vigia era diferente, aí eu posso mexer, tocar, aí eu aprendi todos.

Você tocava todos os instrumentos? Ia lá e tocava um pouquinho de cada?

É, porque eu era vigia, tocava. Aprendi tudo. Eu tocava trompete, violão, bateria...

E quando você passou a tocar o seu primeiro instrumento?

Isso é uma passagem com o Mestre Paixão. A Brigada de Pernambuco sempre expediu um músico do interior pra tratar da educação musical das crianças. Então era o Mestre Paixão, tocava trompete, era moreno, alto. Então uma vez eu fui na casa dele de manhã, ele estava botando uma gravata, pra ir pra missa, e falei com ele. "Mestre, o senhor podia me dar um instrumento pra eu tocar?" Eu estava ficando muito cansado de teoria, eu queria instrumento. Aí eu peguei um trompete - que não era trompete, era piston, que é menor do que o trompete - e "dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó, si, lá, sooool, lá, si, dooó". O grave e agudo! Aí o mestre olhou pra mim e: "humpf". Mas você vai tocar clarinete, garoto. Ele disse isso pra mim, eu não esqueço nunca. Mas tanto faz. O trompete, o clarinete.

Por que ele disse isso?

Ah, agora ele já morreu, não pode dizer. Eu penso que talvez se eu fosse tocar trompete, ia tomar o lugar dele. Não sei se precisava de clarinete na banda. Depois o Mestre Paixão ficou cuidando de mim por um tempo, quando eu era adolescente.

Cuidando de você?


Foi numa cidade chamada Arcoverde. Eu estava lá, e quando terminou a temporada dele nessa cidade, ele me adotou. Quer dizer, não por escrito. Dois e eu. Então, eram três filhos adolescentes. Fomos pro Recife. Lá, ele tomava parte, tinha influência, em uma Banda dos Operários. Fui levado por ele a tomar parte dessa banda. Me lembro que cheguei lá e perguntaram, "o que o rapazinho toca?" Eu disse, "qualquer um". Eu estava doido pra tocar. Não foi assim arrogância não de minha parte. Era pra dizer que o que tivesse eu tocava.

E você acabou tocando o quê?

Ah, eu disse, "mas se o senhor me der um saxofone, melhor ainda". Uma passagem digna de sorrir é que o saxofone que ele me botou pra tocar estava tão guardado que eu tive que botar água pra tocar. Mas quando fui botar água, saiu um rato lá de dentro. [risos]



Isso foi depois que você pediu o instrumento pra ele em Flores?

Sim, bem depois. Eu saí fugido de Flores.

Fugido? Por quê?

É história idiota. Eu cheguei a um ponto que lamento muito. Eu ia buscar a chibata pra apanhar. Não era a família, era só uma moça. Uma senhora, minha tutora, tudo era com o Moacir. Tudo era "vai buscar a peia". E eu ia buscar pra eu apanhar. Ela batia muito. Mas é um pouco talvez porque foi logo depois dessa coisa de abolição dos escravos. Era uma casa de gente branca. Então, fugi, com 14 anos de idade. Fui perambulando de cidade em cidade. Fui saindo, ia acompanhando as cidades onde tinha banda tocando. Eu não demorava sequer um mês em cada uma. Qualquer coisa eu me desligava da cidade. O meu gênio não suporta coisa que me aborrece. Cheguei a trabalhar até em um circo, chamado Paraíso. Por isso que no meu último disco tem uma música chamada "Paraíso", por causa desse circo. Eu deixei o circo Paraíso para ir pra Salvador, Bahia. Aí, lá aprendi muito, peguei muita coisa, havia muitos músicos americanos.

Você já sabia ler música?

Sim, em Flores foram muitos professores, até os 14 anos. Mas teve uma história. Em Salvador tinha um rapaz chamado Joca do Piston, tocava trompete. Quando eu cheguei na cidade, alguém me convidou para tomar parte de um ensaio na casa de Joca, em uma orquestra que ele estava fazendo. Mas, quando eu estava lá, a orquestra parou no mínimo umas quatro vezes por minha causa. Jazz, coisa americana, não conhecia essas coisas. Eram muitos detalhes, eu não acompanhava, lia muito devagar. Nesse ensaio, ele disse: "vocês tenham paciência com esse garoto, ele é promissor". Isso foi muito importante. Eu tinha uns 16 anos. Só sei que quando saí da casa de Joca, fui chorar. A decepção que eu passei. Saí vendo a coisa diferente, por causa da vergonha que passei. Tive que aprender. Depois disso, me tornei um exímio da leitura. Em qualquer lugar eram filas de gente, estudantes, músicos, para me ver tocar, observar minha leitura. Então, não sei o mistério da natureza.

Você ficou muito tempo em Salvador?

Não. Lá, eu fiquei com saudade do meu Pernambuco. Resolvi voltar. Fui numa das docas pedir uma passagem de navio. Mas eu não tinha dinheiro. Aí eu encontrei um caminhoneiro. Ele era conhecido em Salvador e eu conhecia ele de Flores. Ele me levou até o Ceará, onde faz fronteira com Pernambuco, a ponte liga. Por isso que tem uma música minha chamada "De Bahia ao Ceará".

Você tinha o quê, 16 anos?

Minha vida é um encadeamento sem fim. Isso já é outra história. [risos] Quando eu estava em Salvador e resolvi voltar, fui nas docas pedir uma passagem, me perguntaram, "quantos anos você tem?", e eu não sabia. Tinha dois senhores. Um deles disse, "esse menino não tem mais do que 16 anos". Aí, foi assim, fiquei com essa idade.

Você não lembrava a sua idade?

Não sabia mesmo. Não sabia nem onde tinha nascido, não sabia o meu nome direito, só sabia que é Moacir. Meu pai tinha largado a gente, minha mãe morreu eu tinha três anos, depois eu fugi da cidade. Eu me sentia como um ser, órfão, sem saber direito o meu nome nem quando eu nasci. Parecia uma criatura numa pedra no meio do mar, com as águas batendo, como as pessoas perguntando, "quem é você, qual o seu nome, quando você nasceu, onde você nasceu?", e eu não sabia de nada. Mas agora eu sei. "Agora eu sei" é o título de uma das coisas aí, de uma música minha.

E como ficou sabendo?

Eu fiquei com uma coisa aqui até que numa viagem dessas, recente, isso não faz muitos anos não, eu encontrei meu batistério, minha certidão. Sabia mais ou menos cidades em que eu provavelmente havia nascido. Então eu comecei, numa viagem que a gente fez pro Brasil. Fui nessa cidade de Serra Talhada e cheguei numa circunscrição chamada Bom Nome. Porque quando muito pequeno ouvi certa vez meu irmão dizer que tinha nascido num rincão de Serra Talhada. É complicado. Então eu fui em Bom Nome primeiro. Parei na porta da igreja e fui conversar com o padre. Perguntei: "Quem é a zeladora da igreja?" Aí segui uma rua e fui parar em outra cidade, chamada São José do Belmonte. Lá, eu fui sabedor. Estava eu, um sobrinho, uma encarregada da casa, umas quatro pessoas. Distribuímos os livros que constavam as idades e fomos lendo. Felizmente, eu fui o vencedor. Quer dizer, estava com a idade certa e achei meu nome. Aí essa coisa foi a verdadeira coisa de Moacir Santos.

Você finalmente achou lá registrado seu nascimento, em São José do Belmonte.

Ah [suspirando aliviado], isso.



Então a sua mãe estava em são José do Belmonte quando você nasceu?

Não. Isso aí é a circunscrição de igrejas. Quer dizer, eu nasci num rincão, numa fazenda de Serra Talhada, mas foi registrado ali, na igreja. Me lembro que quando descobri, pedi licença à moça encarregada da igreja em Bom Nome. Licença pra eu dedicar uma coisa pra ela, improvisar uma coisa pra minha mãe e chorar. Eu pedi licença e toquei o órgão. Porque mãe é mãe. Mãe é tudo na vida. Não tem jeito. Portadora da nossa vida.

Quando você se cansou de viajar, depois de ter fugido com 14 anos?

Eu me casei com 21. Só aí parei. E nesse tempo todo o único lugar que eu demorei mais do que um mês - acho que foi um ano, dois -, foi na Paraíba. Somente a polícia fez eu parar. Mas com a música. [risos] Eu era músico da polícia de João Pessoa, tocava sax. Foi lá que conheci também Cleonice, minha esposa. Mas nessa ocasião eu já era maestro da Rádio. Por que o que aconteceu foi que a orquestra de Severino Araújo, que tocava na rádio, foi para o Rio de Janeiro e levou quase todos os músicos. Aí ficou necessidade de músicos e do maestro. Me lembro que fui na casa do comandante da polícia e disse que eu estava sendo requisitado com urgência. Ele foi um santo e prontamente me dispensou. Então saí da polícia para tocar sax na rádio e em pouco tempo virei diretor e regente. Era a rádio PRI-4, Rádio Tabajara. Acho que a orquestra de Severino passou a chamar Tabajara quando foi pro Rio, por causa da rádio.

E quando você foi embora de João Pessoa?

Aconteceu que a gente não tinha instrumento e fomos tocar em um lugar com os instrumentos da rádio. Todos foram multados. Eu, que era o regente, e também os músicos. Mas parece que a rádio tinha um diretor artístico que não me queria, havia dito "ou ele, ou eu". Então, depois que eu fui multado, a polícia me levou pra conversar com um Dr. Renato, que era do governo. Ele me chamou pra resolver e falou, "Moacir, os órgãos do governo não podem ser desmoralizados". Aí eu repeti a expressão do diretor artístico, "ou ele, ou eu", e ele respondeu, "sendo assim, pra onde você quer ir?" Eu não pensei muito: "Rio de Janeiro". Então eles mandaram uma carta pra Rádio Nacional, no Rio, recomendando a minha pessoa.

Você foi como músico?

Fui trabalhar como músico, embora eu tenha me tornado maestro. Todo mundo, de qualquer lugar, era requisitado e entrava. Pelo nome já ia direto. Já o rapazinho do norte, que sou eu, teve que se submeter a uma prova, um teste. Mas eu já lia bem, já fazia quase milagres em música. Então aconteceu uma coisa muito interessante. Fiz o teste com o Maestro Chiquinho, um dos maestros da Rádio Nacional, e na mesma semana o diretor da rádio perguntou a ele, "que tal o rapazinho do norte?" E ele disse: "Senhor diretor, o teste foi pra nós. A gente botou uma música e ele tocou como se conhecesse. Depois ele botou uma e a gente não conseguiu tocar."

Você já chegou lá conhecendo muito de música.

É, e nessa mesma época eu havia feito uma jura com nossa senhora, de estudar até saber o que eu faço em música. Eu fazia sem saber as coisas, era intuição mesmo. Eu estava morando na Rua do Catete quando fiz essa promessa. Estudei tudo, eu queria saber teoricamente o que sabia em música. Eu tive aula e depois fui até assistente de Koellreutter. Quando ele viajava pra Salvador ou São Paulo, era eu assistente, ficava no lugar. Depois eu tomei grande parte dos alunos dele, quando me tornei professor.

Foi assim que você conheceu e passou a dar aulas pro pessoal da bossa nova?

É, foi um período trunfo da minha vida e da minha música, na bossa nova. Eu lembro, por exemplo, de ter feito um arranjo pra um samba carnavalesco, chamado "Madalena". Uma geração depois, eu era apresentado como o arranjador daquela música. Então, me acostumei a fazer coisas pra geração futura. Me convenci que o agora já era, vão entender melhor no futuro. Porque a música é um som que vai acontecer e o povo vai sentir. Mas é muita coisa que eu faço que a massa ainda não pode entender. Agora, não pergunte o que faço, não sei explicar. É a evolução das coisas. É um mistério.

Você participava das reuniões da bossa nova?

Ah, sim. Freqüentemente. Quase sempre com o Baden. Eu tocava clarinete ou saxofone. O clarinete é mais suave, então era mais fácil para aquelas reuniões, que começavam depois das onze horas da noite. Saxofone ia acordar todo mundo. Naquela época, eu e o Baden fazíamos um espetáculo com "Nanã" que não era brincadeira. Em Copacabana não tinha um momento em que eu não tocasse "Nanã". Em cada reunião musical em que eu estava presente eu tinha que tocar. Foi assim que ela se popularizou. Me lembro de uma reunião na casa não lembro de quem, acho que da Nara Leão. Tom estava lá, com um namoro, com uma pessoa. Então eu só sei que quando a gente estava tocando ele saiu de lá e veio aqui e pediu a mim que passasse a noite inteira tocando essa canção. "Toque essa música o tempo todo enquanto eu estiver aqui."

E quem foi a primeira pessoa a gravar "Nanã" cantando?

Eu acho que foi Nara Leão, na trilha do filme "Ganga Zumba", do Cacá Diegues. Lembro que o Cacá Diegues ouviu, acho que numa reunião, e ficou encantado, então me disse "quero essa música na abertura do filme". A Nara cantava cantarolando, somente laralara, porque parece que ainda não havia letra não.

E como aconteceu a letra? Vinicius ia escrever, depois foi Mário Telles...

O Vinicius era parceiro meu nessa ocasião, a gente se gostava muito, era muito íntimo. Ele vivia em minha casa como eu na casa dele. A cachaça, a cana de açúcar foi introduzida na casa de Vinicius por mim. Um dia ele perguntou: "Moacir, o que você quer, um uisquezinho?" E eu: "quero tomar um 'crushzinho', um pingo de cachaça no Crush". Aí a cachaça entrou na casa de Vinicius por minha causa. [risos] Mas teve uma coisa que ele botou na letra de "Nanã", ele disse umas coisas, que eu não gostei. Aí certa vez houve uma recepção qualquer no Rio de Janeiro e eu fui falar com ele, "Vinicius, você foi para o exterior, nem me avisou", e ele disse, "eu estava muito aferrado em minhas coisas". Aí eu compreendi que eram coisas que eram dele e dispensei. O Mário Telles vivia também em minha casa, então eu dei a ele para fazer a letra, sugeri coisas. Fiz a letra com Mário: "não, isso aí não, isso aqui". Pronto.

E por que você não havia gostado da letra do Vinicius?

Porque "eu fui olhar o banho de Nanã". Só isso. Aí eu não gostei, essa coisa de espiar o banho de Nanã, espiar Nanã tomando banho. Qualquer coisa, menos espiar o banho dela, aí eu não gostei.

"Nanã" é mais antiga, nasceu antes das "Coisas"?

Ela nasceu antes, só como "Nanã". Porque tinha sido feita antes das "Coisas". Algumas coisas viraram "Coisas" depois de feitas. Porque isso aconteceu quando Baden me convidou a eu fazer parte do disco dele que estava fazendo com Jimmy Pratt, baterista americano, lá na rua Avenida Rio Branco. "Moacir, gostaria que você fizesse alguma coisa na minha gravação, qualquer coisa." Aí eu fui lá, com muito prazer. Alaíde Costa também estava lá presente, cantando, ela é um xodó de Vinicius. Quando chegou lá, gravando, uma música minha, o moço da cabine de som desceu e perguntou: "qual o nome dessa?" E aí, e agora? Eu admirava e andava estudando muito forte os opus e tive a idéia. Mas quem sou eu pra escrever um opus? Então eu, "isso é uma Coisa". E foi aí que ficou o título, as "Coisas" de Moacir Santos. Por causa disso. Eu não podia "opus", então "Coisas".

E foi por causa das "Coisas" que você acabou gravando pela Blue Note?

Não, foi Horácio Silva o causador, que me levou pra Blue Note e fez eu lançar o disco lá. É uma história que tenho satisfação grande de contar. Primeiro me contaram de um evento, ele tinha ido em Niterói, na casa de Sérgio Mendes, e lá cheio compositores da bossa nova, jovens músicos, todo mundo pra tocar e mostrar suas músicas. Escutou muita coisa, mas teve uma música que chamou muito a atenção. Ele parou num certo momento e disse, "de quem é essa música?", e responderam, "de um professor aí". Era "Nanã". Alguns anos depois, eu estava morando em Los Angeles e tinha um amigo, que era chefe do departamento de correio e adorava o Brasil, que foi me visitar e me convidou pra gente ir dar um passeio, uma volta ali na cidade, ver o que é que está acontecendo. Ele queria ir num lugar chamado Lighthouse. Eu perguntei a ele quem é o artista que ia tocar hoje, ele disse Horácio Silva. Aí a gente foi e no primeiro break ele foi parabenizar o conjunto, que eu gostei muito também. Aí me apresentei, o autor de "Nanã", e depois, antes de tocar de novo, ele disse: "Senhoras e senhores, eu tenho o prazer de apresentar a vocês uma pessoa, um músico que vocês ainda não conhecem, mas vão conhecer". Proverbial essa sentença, "vão conhecer". Quer dizer, já estava na mente dele, já estava escrito que ele ia me lançar no mundo da música nos Estados Unidos.

Depois disso vocês ficaram amigos?

Isso. Aí um dia eu tinha ido passar uma semana em Nova York pra fazer um disco do João Palma, que era baterista do Sérgio Mendes, e aproveitei pra visitar Horácio Silva, que morava lá. Então me convidou pra um jantar à presença do diretor artístico da Blue Note, e aí aconteceu. Ele me pagou um adiantamento imediatamente, sem ter ouvido a coisa, só pela palavra do Horácio Silva.

E aí você gravou seu primeiro disco lá?

É, mas antes disso já estava certo que eu ia gravar por outra companhia, e o Henry Mancini ia produzir. Ele foi incumbido de lançar meu primeiro disco nos Estados Unidos, mas não aconteceu porque antes ele fez um disco, aquele "Romeu e Julieta", e teve um sucesso muito grande. Aí o disco de Moacir caiu da mão dele, né? [risos] Tem outra história também, que eu morava numa rua perto do estúdio da Paramount, acho. E aí me apontaram para eu fazer umas pontas lá com a equipe de Lalo Schifrin. Eu trabalhei como compositor fantasma, não aparecia meu nome lá, era a época da série do "Missão: Impossível". E eu nunca nem vi o Lalo Schifrin, só através de foto.

E hoje em dia, Moacir, você sente falta de tocar?

Há 12 anos já que eu tive um "stroke" (derrame) e me retirei, parei de tocar. Tenho exercitado, porque é uma ajuda muito boa, o piano me ajuda muito, mas minha mão direita não toca. Eu não sinto falta porque a imaginação vem por outras fontes. Eu ainda componho.

Tem muita música sua que ainda não foi gravada?

Tem algumas.

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A verdadeira MPB


Se eu te perguntar quais os dez discos mais vendidos da música brasileira, quais você vai chutar? Algum Roberto Carlos, talvez? De repente uma Marisa Monte, uma Bethânia, quem sabe uma Galzinha? Às vezes até um Caetano entrou na lista, vai saber.

Pff. Eles ainda precisa comer muito feijão com arroz pra chegar aos pés dos verdadeiros popstars da música brasileira: Padre Marcelo e Xuxa. Aqui, a lista dos dez discos top de vendas do nosso mercado fonográfico.

Acompanhando o enviado de Deus e a atriz/modelo/apresentadora de TV, com disco com mais de três milhões vendidos, só mesmo Leandro e Leonardo. O resto da lista - Mamonas, Só Pra Contrariar, Terrasamba - tem que se contentar com a faixa dos dois milhões.

(Foto do Min.)

O LSD e um dia na vida de George


A partir dali, não tinha mais volta. A gente via o passado e o futuro, o tempo parava. Não tinha nada a ver com ficar chapado. É devastador, porque atinge o corpo, a mente, o ego. É perturbador, como se alguém de repente apagasse tudo que a gente aprendeu ou acreditou desde criança e dissesse: "Não é nada disso". A gente vai longe demais, os pensamentos ficam muito elevados e a gente acha que não tem jeito de voltar.

George Harrison, contando da sua primeira viagem de ácido, em abril de 65, com John e as respectivas esposas, Pattie e Cynthia.

Li aqui.

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Poison heart


Acontece hoje a volta de uma das baladas mais divertidas dos últimos tempos: o Baile VENENO, festa dos bons sons, boas pessoas e noites históricas. Dessa vez no cult Hole Club, na Augusta, onde nos anos 60 funcionava a boate Saloon, freqüentada por gente do naipe de Roberto Carlos e Jorge Ben. No som, música brasileira de todas as épocas e estilos, nessa edição do Baile com um especial Wilson Simonal - dos cantores mais suingados da nossa história, prestes a ganhar documentário dedicado a sua história, Ninguém sabe o duro que dei.

Nas picapes, nata seleção do bom gosto de Max de Castro, Tatá Aeroplano, Ronaldo Evangelista, Mauricio Fleury e Michel Alquimix.

Para mandar nomes pra lista e pagar com desconto, clique aqui.

Baile VENENO
No Hole Club: Rua Augusta 2203
15 reais / 10 com flyer ou lista
Mulheres free até às 0h
http://www.myspace.com/baileveneno

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Você quis olhar pra mim


Já viu que foda o primeiro vídeo do 3 na Massa, de Tatuí, música do Amarante com vocal da Karine Carvalho? Muito estáile.

Aproveita e saca mais vendo esse EPK sobre o disco:

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Oh, where can you be?


Adorei essa idéia de chamar pessoas legais para colocarem som nas quintas do Cedo e Sentado. Mais do que figurar de DJs de pista-de-dança, a idéia é que os convidados criem um conceito, escolham músicas favoritas, apresentem idéias, mostrem sons, com liberdade total.

Um dos primeiros que chamei foi o Guga - com seu bom gosto e conhecimento de causa em jazz e música latina (e recente interesse em música eletrônica), não tinha como dar errado. Aí perguntei o que ele estava pensando em tocar e pedi pra ele dizer algumas das coisas. Assim a gente aproveita e ainda fica com boas dicas de sons.

A resposta:

O repertório será composto 100% de remixes de jazz. Dividirei o tempo entre remixes de outros produtores e alguns do meu repertório. Tocarei também o vibrafone eletrônico em algumas canções, no formato Live PA. Por ser dia dos namorados, incluirei Marilyn Monroe em "Diamonds are a girl's best friend" e também "Lover man" de Billie Holiday. Darei ênfase a remixes de Duke Ellington, de músicas como "C jam blues" (1939), a suíte "Black, brown and beige" (1946) e "That rhythm man" (1928).

Feliz dia dos namorados pra todos nós.

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Shows da semana (passada)


Sociedade da Grã-Ordem Mojiquista
Cedo e Sentado, Studio SP, quarta 4/6


Massíssimo o encontro do Tatá com Peri com Mauricio com Isi com Pedro. Muito sensacionais as músicas, divertidíssimo o show. Deu orgulho de ser amigo do povo, deu felicidade de estar ali vendo aquilo. Rolou samba sobre cortar as unhas até a raiz dos dedos, funk carioca sobre o desquite do Frankenstein, folk de terror sobre o Satã Tantã, disco music com baixo acústico e citação de Sergio Sampaio e aparições da voz do Mojica ele próprio rogando praga em todos os presentes. Como a aparição dos grã-ordeiros só acontece uma vez a cada lua cheia, não perca por nada se souber de algum próximo show.

Cidadão Instigado
Studio SP, sábado 7/6


Semana passada tive um insight: não dá pra perder mais nenhum show do Cidadão. É bem possível que eles sejam a melhor coisa acontecendo na música em São Paulo hoje, eu é que não quero ficar pensando depois que devia ter ido naquele show... Nos últimos meses eu vi três e achei pouco - foi cada um melhor do que o outro, cada um dando mais vontade de ver o próximo. Eles estão prestes a entrar em estúdio para gravar o terceiro disco e o show tem sido recheado de canções novas incríveis. Para quem já achava o Método Túfo um dos grandes clássicos dos nossos tempos, aguarde o impacto desse próximo. Pra mim, o show já começou mágico: eu estava por algum motivo a semana inteira com "Lá Fora Tem" na cabeça, e com qual música eles abriram o show? Acertou. Teve ainda concentração de celebridades do bem, o que é sempre sinal de que algo está acontecendo. Vi por lá Jeneci, Nina, Amarante, Andréia, Massari, Helio, Ganja, Gui, Carol e mais um monte de gente tão legal quanto, mas menos conhecida.


Arnaldo Antunes
Sesc Pompéia, domingo 8/6


Eu achei o Ao Vivo no Estúdio tão simpático, estava tão curioso para ver o Jeneci com ele e foram tantas coincidências e assuntos que caíram no Arnaldo Antunes essa semana que resolvi recepcionar a noite de domingo assistindo esse show às seis da tarde no Sesc Pomp. Por incrível que pareça, a última vez que vi o Arnaldo ao vivo foi na época do disco Ninguém - portanto, há mais de dez anos. Tive algumas boas e más surpresas, mas no geral foi mais ou menos como eu esperava: tudo que acho ótimo nele estava lá, tudo que acho nem tão ótimo também. Foi bem linda a versão de "Socorro", uma das mais bonitas dele (e com a Alice Ruiz). Foi impressionante ver a quantidade de crianças na platéia (nem tantas, mas ainda assim mais do que eu imaginava) e a quantidade de mulheres gritando "lindo!" e se amontoando na frente do palco para vê-lo de perto. E foi um pouco chocante ver o quanto ele realmente assume o papel que cristalizou pela época do disco Silêncio - e confesso que acho um pouco ridículas aquelas danças desengonçadas e aquela postura toda meio boba.

Mas, aí, fiquei pensando: o papel do artista é expurgar as travas e exprimir os desejos que sua audiência carrega sem nem saber. Nesse sentido, a hipérbole é uma figura de linguagem tão boa quanto qualquer outra. Ser uma personagem meio ridícula é uma tática já muito usada desde o tropicalismo, muito por Tom Zé até hoje e também, por exemplo, pelo Zeca Baleiro - figura com quem simpatizo consideravelmente. Então, apesar de às vezes ser realmente cansativa a esperteza excessiva de algumas sacações e trocadilhos de suas músicas, muitas das suas composições são impressionantemente bonitas. "Alegria", por exemplo, é das favoritas de sempre. "Desce" é outra. E já é muito mais que muitos artistas oferecem. Aí percebi que o exagero caricato e algo infantil do Arnaldo no palco é uma maneira muito esperta de chamar a atenção para a delicadeza, beleza e singeleza de suas canções.

Assim como o detachment übercool do Los Hermanos funciona como contraste e amplificação do ultra-romantismo das suas composições. Mas isso já é outro papo.

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Músicas para uma manhã de terça


Uma mixtape sem mais. As faixas que acordaram na minha cabeça hoje, tentando soar mais altas em sua delicadeza do que a obra nervosa que insiste em madrugar aqui do lado.

01 chet baker old devil moon
02 ringo starr step lightly
03 camera obscura before you cry
04 domenico+2 telepata
05 the impressions people get ready
06 paul mccartney let 'em in
07 hot chip baby said
08 tamba trio sonho de maria
09 syreeta to know you is to love you
10 billie holiday trav'lin' light
11 batatinha hora da razão
12 donovan sun
13 she & him sentimental heart
14 tommy dorsey oh! look at me now
15 joão donato nunca mais
16 jamie lidell all i wanna do

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Completely unexpected



Adoro esquecer os contos do Roald Dahl só pra poder relê-los.

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Eu não presto, mas eu te amo


Hoje, 20h30, de graça, no Studio.

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Quintessência


Ontem, no Studio, enquanto o Gui discotecava, tava trocando idéia com o BNegão e ele me solta essa: Meirelles passou pro outro plano. Choque total, o Meirelles não achei que estivesse indo tão cedo. O cara era mestre absoluto, inventor da coisa toda e até outro dia ainda a todo vapor.
*
Infelizmente não achei nenhum vídeo dele tocando seu tenor nervoso, mas nada mal esse "O Barquinho" com flauta e o trio do Dom Salvador.
*


O Som, pra mim, é o grande disco brasileiro de jazz. É o disco que define o samba-jazz. É o Kind of Blue brasileiro, é o Moanin' brasileiro, o Chega de Saudade da improvisação brasileira. É mais: é O Som. Pefeição do começo ao fim, composições, arranjos, seqüenciamento, capa, gravação, masterização, mixagem, ilha deserta. O que dizer de Quintessência, Nordeste, Solitude? E dos acompanhantes: Dom Um Romão, Tenório Jr, Manoel Gusmão, Pedro Paulo? Sem falar em todos os sons, arranjos e composições que o Meirelles espalhou em grandes discos por aí, de Jorge Ben a Sergio Mendes a Edison Machado a tantos outros.

Baixe já, aqui.

*
Em 2005, quando escrevi uma matéria sobre samba-jazz pra Folha, o Meirelles foi o primeiro cara pra quem liguei, e ouvi grandes histórias.

Antes ainda, no começo de 2003, quando fui chamado pra trabalhar na revista Jazz+, a primeiríssima coisa que quis fazer foi entrevistar o Meirelles. Fui num show dele aqui em São Paulo, o cerquei depois do show, consegui um número e semana seguinte batemos longo papo, que se transformou no primeiro entrevistão da primeira edição da Jazz+.

Na época, ele tinha acabado de voltar a tocar depois de anos, seus dois primeiros discos tinham acabado de ser relançados, ele tinha feito um disco novo e - lembra? - havia até um personagem na novela das oito inspirado nele, interpretado pelo Tony Ramos.

Abaixo, versão redux da entrevista.

Como foi voltar a tocar depois de tanto tempo?

Eu fiquei sem tocar uns 10 anos, cheguei até a vender meu sax e comprar um computador. Os computadores estavam em ascensão na época, era um instrumento novo, só que era um instrumento muito solitário. Então, eu voltei a tocar por insistência dos amigos, que não se conformavam que eu tinha parado. Eu achava que não valia a pena. Você só ouvia por aí axé e pagode, não havia espaço para outra coisa. Tiraram até o rock da mídia, quem diria o samba-jazz. Não se pode brigar com o sistema. Mas aí alguns amigos insistiram, me deram um novo saxofone de presente, programaram alguns shows, isso três anos atrás. Aí eu voltei a tocar, misturando o meu repertório antigo mais alguns jazz estrangeiros clássicos. Posteriormente fui tocar no bistrô, na Modern Sound, e fiquei lá dois anos. Lá eu tocava também bastante bossa nova, porque era uma coisa bastante heterogênea, era uma loja de discos, um bistrô, eu tocava para aquele público, o que aquele público queria ouvir. Eu aprendi a ser profissional. Já estou muito velho para precisar ficar me afirmando.

E como foi o relançamento dos seus dois primeiros discos?

Os meus dois primeiros discos se tornaram muito procurados, muito raros. Eles chegavam a valer US$400 em vinil. Imagina, US$400 por um LP? Eu mesmo cheguei a vender duas cópias que eu tinha do meu primeiro disco por US$200 cada. Então eu tive várias propostas para o relançamento dos meus dois primeiros discos, várias gravadoras entravam em contato comigo querendo relançá-los, mas as propostas não eram interessantes. Até que a Dubas, pela pessoa do Ronaldo Bastos, junto com seu irmão e a Marisa Goldman, entrou em contato comigo e eu achei que a proposta era legal. Foi uma coisa de intuição mesmo. Eu vi que o interesse deles era mais do que comercial, eles tinham interesse em valorizar o produto histórico. Nós conversamos, eles concordaram com a maneira que eu queria que os discos fossem relançados e os discos saíram, com distribuição da Universal.

Eu dei muita sorte, porque eu recebi uma mídia muito forte por causa desses relançamentos. Eu não esperava que tanta gente gostasse e tivesse interesse em mim, no samba-jazz. Acabaram saindo matérias nos principais veículos, n'O Globo, no Jornal do Brasil, na Folha de S.Paulo, na Veja, eu inclusive me tornei amigo de muitos dos jornalistas que entraram em contato comigo para fazer matérias. Tudo isso ajudou muito na divulgação desses relançamentos.

E o disco novo?

Eu fiz questão de ter um produto novo, de sair do passado, eu finalmente deixei de ser um artista virtual. Toda matéria que falava de mim dizia que eu era "lendário", que eu era "um mito", eu achava isso um saco! Tinha todo o espectro dos anos 60 sobre mim. Eu fiquei 30 anos sem tocar uma música minha. Eu era muito radical, achava que não valia a pena. Até que voltei a tocar, vi o interesse das pessoas e surgiu a proposta da Dubas de gravar o disco novo. É muito raro alguém se dispor a bancar um disco instrumental aqui no Brasil. É mais fácil você gravar de uma forma independente, lançar por um pequeno selo sem distribuição, mas não é a mesma coisa. Nisso, o Antonio Adolfo foi pioneiro [com seu disco Feito em Casa, de 1977]. Naquela época, ninguém gravava disco instrumental. Aí ele gravou em casa, no seu home studio. Claro que a qualidade não é a mesma, e é esse o problema. Eu sempre acreditei que o profissional tem que ser valorizado, tem que ter o mínimo de qualidade para fazer as coisas. E com a Dubas foi exatamente como eu queria. Chegamos a um denominador comum, em termos de orçamento, cada parte cedeu um pouco, e foi tudo certo.

Eu tive que praticamente iniciar minha carreira novamente, na terceira idade. Então quis gravar um disco novo, com um grupo novo. Fui lá, escolhi os músicos, escolhi o estúdio, em um mês eu escrevi as músicas e os arranjos do disco novo e em três dias gravei tudo, com mais um dia para masterização. Eu passei 15 anos como músico, produtor e arranjador contratado da ODEON, então ganhei prática, gravar rápido não foi um problema.

Depois que gravei o disco novo, aí sumiu o estigma de "músico lendário". Eu fiquei dois anos tocando no bistrô, todo mundo já sabia onde me encontrar, já me ouvia tocar. Agora eu estou na atualidade, estou satisfeito. Eu levei três anos para fazer tudo isso. Se eu tivesse pensado em voltar de verdade antes de tocar um pouco, gravar disco novo, fazer músicas novas, ter uma banda nova, as pessoas iam olhar pra mim e dizer, "mas de onde ele veio?"´

Então eu me assumi o rei do samba-jazz. Não tem o rei da bossa nova, o rei da cocada preta? Então eu sou o rei do samba-jazz. Não sobrou mais ninguém mesmo.

Agora eu parei de tocar músicas estrangeiras. Isso é uma coisa que eu achei que tinha que fazer. Todo mundo fez isso quando assumiu um papel de liderança. O Paulo Moura, o João Donato, o Johnny Alf, eles tocavam músicas estrangeiras, mas quando assumiram um papel importante dentro da música brasileira, eles pararam com as músicas estrangeiras. Não posso querer comer e guardar o bolo, não é? O artista brasileiro tem uma certa responsabilidade, tem algo a representar. Eu sempre relutei, sempre fui um profissional e não um artista, mas agora resolvi assumir. Dá muito trabalho, é seu nome ali, você tem que administrar tudo. Agora acho que estou conseguindo as coisas como quero, então vale a pena o trabalho.

Aqui no Rio tem uma meia-dúzia de lugares onde acho que vale a pena tocar, como o BNDES e o CCBB, que têm um orçamento legal e bons espaços para música instrumental. Além desses lugares só tem barzinhos, onde você ganha mal e não tem espaço pra tocar com uma formação maior do que um trio. Eu gostaria de tocar em lugares com uma estrutura boa, com a mesma dimensão de shows grandes da música brasileira. Acho que a música instrumental deveria ter esses espaços. Mas aos poucos estou conseguindo isso. Acho que estou conseguindo abrir um espaço que espero que ajude outras pessoas também.

E você já está pensando em gravar outros discos?

Eu já estou com alguns projetos para discos novos. Eu recebi um convite da Deck Disc e de um produtor japonês para gravar um disco do Meirelles e os Copa 5 junto com a Wanda Sá, e espero que isso se concretize. Se der certo, isso deve ser já em abril. A Wanda Sá tem tocado sempre lá no Japão, com o Menescal, e acho que seria uma coisa bem bacana pra gente. Mesmo porque meus discos vendem muito bem no Japão, e não só os discos da Philips. Outros discos meus que eu gravei na ODEON também saíram lá e vendem muito bem. Além disso, existe um projeto com a Dubas de gravar um disco ao vivo do Meirelles e os Copa 5. Aí a idéia é gravar numa sala legal, com os músicos com quem eu tenho tocado ao vivo, músicas do disco novo e também algumas das minhas músicas antigas, coisas do presente e do passado.

No seu show em São Paulo você disse que nesses 39 anos entre seu segundo e seu terceiro discos a sua música não mudou, o que mudou foi o público. Suas influências ainda são as mesmas?

Não, de jeito nenhum. Eu não ouço mais jazz. O jazz já perdeu todo o significado pra mim. Mas é como um alemão que vive 20 anos no Brasil e não perde o sotaque, eu nunca vou perder o sotaque do samba-jazz, faz parte da minha personalidade. Hoje em dia eu ouço cada vez mais música brasileira, mas minha formação foi no jazz. Eu tinha 23 anos, vivia jazz, ouvia o tempo inteiro o jazz americano. Aliás, acho que em São Paulo toda a turma só ouvia discos de jazz americano. Não existia samba-jazz em São Paulo, o estilo estava todo calcado no jazz americano. Naquela época, acho que o único de todos nós que já tinha um estilo definido era o Dom Um Romão, que não tinha influências americanas. Ele tocava jazz, mas era muito brasileiro. O meu estilo mesmo, dava pra perceber, era muito influenciado por quatro saxofonistas, só variava de música pra música - mas não vou te contar quem são os quatro, você tem que ouvir e descobrir.

Depois eu toquei sax alto, mas naquela época eu ainda tocava tenor. Eu acho que é muito importante a pessoa achar o estilo. Você vê essas pessoas, esses músicos que agora vão estudar nessas escolas americanas de música, aprendem determinadas coisas e ficam só repetindo aquilo, comigo isso não funciona. Eu tenho que tocar a minha emoção, a minha melodia. Esse é o estágio final do que eu gosto de fazer, e eu acho que agora eu estou conseguindo isso. Acho que o único músico que eu conheço que começou assim, achando o seu estilo de cara, foi o João Donato, ele nasceu pronto. Desde 1958 que ele toca do jeito dele, nunca mudou, sempre foi original e com uma maneira própria de tocar. Eu não, tive que correr atrás do meu estilo. Eu fui muito influenciado por ele, inclusive. Mas hoje em dia eu acho que já tenho meu estilo, meu jeito de tocar.

Como você começou sua carreira, com o Sylvio Mazzuca, tocando no Bottle's etc, e como você chegou a tocar com o Jorge Ben?

Eu comecei a tocar em 1958, aqui no Rio de Janeiro, com o João Donato, o Johnny Alf... Depois o Johnny Alf foi pra São Paulo e eu fui também. Havia vários grupos e várias casas noturnas na época, então a gente fazia bastante coisa. Nessa época aí em São Paulo eu comecei a tocar também com o Sylvio Mazzuca, eu estava sempre indo e vindo, sempre entre o Rio e São Paulo.

Em 1963 eu estava passando a maior parte do meu tempo aqui no Rio, tocando no Bottle's, e o Jorge Ben costumava aparecer lá para tocar. Lá no Bottle's a gente não gostava disso, a gente não gostava de bico, mas os dois únicos que funcionavam, com quem a gente adorava tocar, eram a Rosinha de Valença e o Jorge Ben. O Jorge Ben sempre aparecia lá e tocava aquelas duas primeiras músicas dele ["Mas, Que Nada" e "Por Causa de Você, Menina"], até que o Manoel Gusmão levou ele lá na Philips, pra ver se ele gravava. Aí o Armando Pittigliani adorou, porque ele era um cara completamente desconhecido e em uma semana vendeu cem mil discos. Que naquela época não era nem compacto, era 78 rotações, esse foi o último 78 rpm, sabia? Depois vieram os Long-Playings e depois os compactos.

E quando nós fomos lá e gravamos com o Jorge Ben, o Armando Pittigliani chegou pra mim e disse: "o Jorge Ben é ótimo, mas o som dessa sua banda é bem interessante, hein?" e convidou a gente pra gravar um disco. Ele, inclusive, só conheceu o som do disco depois de gravado. Ele era um cara que acreditava muito na gente, por isso que ele produziu as melhores coisas, o Tamba Trio, Os Cariocas... E esse foi o meu começo. Depois disso eu fui pra ODEON, onde eu também gravei bastante coisa. Tem até um disco de 1969, Tropical, que é legal e acabou de ser relançado por uma gravadora inglesa. Mas esse não é samba-jazz, é latin jazz, por isso eu até mudei a formação e o nome, de Copa 5 pra Copa 7.

Então por que você diz que o Samba-Jazz!! é o seu terceiro disco?

Eu digo que o disco novo, Samba-Jazz!!, é o meu terceiro disco porque é o terceiro disco do Copa 5, que é o meu projeto pessoal. Os outros que eu lancei não fazem parte dessa minha trajetória. Quando eu estava na ODEON eu produzi, arranjei e orquestrei muitos discos, mas não botei meu nome em nenhum deles, para não misturar as coisas, não virar uma salada. Eu fiz arranjos até pro Chacrinha, mas ninguém sabe disso. Eu quis conservar o meu nome ligado ao samba-jazz, e acho que consegui. Senão fica como esses artistas que cada ano estão fazendo uma coisa diferente, você nunca sabe qual é a cara deles, o que eles gostam de fazer. É uma questão de estilo, é a minha maneira de fazer as coisas. Eu gosto de escolher os músicos com quem eu vou tocar, arranjar tudo legal. Eu tenho 60 anos, não preciso ficar me exibindo, mesmo porque eu sou meio preguiçoso. Mas eu gosto de interatividade, de tocar com pessoas diferentes, ver o que elas acrescentam às minhas músicas com seus solos. Não é como aquele menino, Yamandu Costa, que toca até demais. Ele é virtuose demais, não sobra espaço pra mais ninguém tocar com ele. [risos] Eu tenho segurança e posso dizer, nunca gravei um solo de bateria em um disco meu. E olha que eu toquei com os melhores bateristas, como o Dom Um Romão e o Edison Machado. E isso é uma questão estética, é um tipo de sonoridade que eu quero preservar em meus discos. Ao vivo é outra coisa, existe mais liberdade, mas nos discos eu quero manter um padrão. É tudo feito com espontaneidade, mas é uma espontaneidade organizada.

Havia mais efervescência na música nos anos 60?

Essa é uma boa maneira de dizer isso. A música era melhor naquela época. Mas acho que isso foi um reflexo de todo o momento criativo dos anos 60, tudo era mais rico, em todas as manifestações artísticas. Inclusive aqui no Brasil. Mas infelizmente nós tivemos o problema político que interrompeu e tornou tudo cada vez mais difícil. Na música acontecia também que nós tínhamos 20 anos, éramos todos muito românticos. Nós gostávamos tanto de tocar que não nos importávamos com a falta de profissionalismo. Os que tinham visão tomaram um avião e foram embora do Brasil. Porque aqui era assim, quem tocava tinha que tocar sem luz, sem som, sem palco. Mas nós tocávamos sem pensar muito, era como um hobby, era algo paralelo. E é assim até hoje. Eu tenho amigos aí em São Paulo que trabalham com publicidade, fazendo jingles, há 20 anos. Mas eles estão sempre tocando música instrumental por aí, ninguém agüenta ficar só fazendo jingles. Hoje eles tocam com um nome, amanhã com outro. Eu acho que esse nosso romantismo parou nos anos 60, agora a gente tem que buscar o melhor pra gente da melhor maneira.

Será que a música instrumental brasileira está tendo uma segunda chance?

Acho que a burrice da música nos últimos 10 anos entupiu as pessoas. As gravadoras não sabem mais o que fazer, ou melhor, não sabem mais fazer. É tudo tão repetitivo e tão ruim que o mercado ficou muito esquisito. E agora eles acordaram um pouco, você vai nas lojas e vê só relançamentos, de todos os estilos. É uma coisa que eles deveriam ter feito há muito tempo, mas ainda bem que estão fazendo. Então acho que essa coisa boa que nós temos agora é uma coisa de relançamentos, acho que continua sendo muito difícil para a música instrumental ter uma oportunidade em disco hoje em dia. E, para tocar ao vivo, talvez esteja melhorando pouco a pouco. Muita gente tem tocado, mas não da melhor maneira. As pessoas tocam hoje aqui, amanhã ali, em uns 4 lugares por semana, ganham R$100 por lugar, no fim do mês pagam o aluguel. Mas eu quero fazer samba-jazz e quero ter espaço.

O samba-jazz deveria ser reconhecido como um estilo do jazz, como o be-bop ou o cool jazz?

Acho que sim. Porque você veja, gente como o Stan Getz e o Bud Shank ficaram famosos assim e não compuseram nada como eu. Eles pegaram a bossa e ficaram ricos, sem compor. Não é uma música instrumental original. Mas aqui o rei sou eu. [risos]

Você passou um tempo no exterior. Por que decidiu voltar, se lá as oportunidades eram melhores?

Eu morei no México, na Suécia, em Monte Carlo, mas no fim eu sempre queria a minha cidade. Eu fui viajar com a minha família, foi ótimo, tive ótimas oportunidades. A melhor oportunidade da minha vida foi em um cassino em Monte Carlo. A Grace Kelly ainda estava viva, eu tomava uísque com o Frank Sinatra na mesa. E o dono do cassino me pagava muito bem. Mas uma hora a ficha caiu, aquilo era muito bonito, mas não era aquilo que eu queria, era tudo muito comercial. Talvez eu devesse ter tido paciência, ficado mais um pouco, enchido o bolso de grana antes de voltar, mas eu não agüentei. E, no fim, quando eu voltei, era o governo Médici e as coisas estavam ainda piores.

No texto da contra-capa do seu primeiro disco, de 1964, você escreveu que "nesta era de produções em massa", era um "velho sonho feito realidade" gravar "uma música sem preconceitos e limitações comerciais". E o que você acha da música hoje?

Pois é, eu tinha 23 anos e já era pessimista, e hoje em dia as coisas só pioraram. Acho que a indústria fonográfica do jeito que está é uma coisa antropofágica, que se destrói. Essa coisa da Egüinha Pocotó, não tinha isso nos anos 60. Tinha coisas ruins naquela época, mas elas não tiravam o espaço das coisas boas. Hoje em dia tem muita gente interessada em música boa, mas ninguém tem acesso. Quando as rádios FMs surgiram, elas só tocavam música instrumental, o tempo inteiro. Hoje em dia, você ouve uma hora por semana de música instrumental e é quase um favor. As coisas mudaram radicalmente, e eu não entendo porquê. Chegou um ponto em que eu desisti. E isso foi logo depois de lançar meu segundo disco, em 1965. Não acreditava mais naquilo. Eu vi amigos meus enlouquecerem, literalmente, e morrerem. Uma mistura de drogas e bebidas e frutrações, e eu não queria isso pra mim. Mas hoje as coisas estão melhorando, pelo menos para mim. Espero que melhore para os outros também.

Você está até sendo citado na novela das oito. Como aconteceu isso?

Eu conheço o Manoel Carlos há bastante tempo, trabalhei com ele na TV Record. Outro dia eu toquei na festa de lançamento da novela das 8, em que o meu amigo Laércio de Freitas está atuando. Ele foi o pianista do meu disco novo e agora é o pianista da banda do Tony Ramos na novela. Além de músico ele é ator. Então às vezes o Manoel Carlos coloca alguma piada comigo no texto. O pessoal da banda fala para o tony Ramos, que é um saxofonista, "toca direito senão a gente vai chamar o Meirelles pra ficar no seu lugar, hein?" e ele responde, "e você acha que alguém como o Meirelles vai querer tocar aqui?!". [risos]

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Água na boca


Mais um da série Música Brasileira Legal no YouTube: Rita Lee versão 1979 - pós-Mutantes, pós-Tutti-Frutti, pré-tia do rock, no programa Mulher, da Globo. Eu amo muito tudo que a Rita Lee fez até meados dos 80, mas esse momento é provavelmente meu favorito, quando ela aceita o pop e o amor good vibe como tema absoluto. O vídeo tem ela cantando e tocando uma das suas melhores músicas, "Mania de você", em versão com violão folk, Roberto de Carvalho no Rhodes e uma percussão discreta de fundo. Nada melhor do que não fazer nada.

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Sou feminista triste


Outro dia o Tatá sacou o violão no Ensaio e mostrou uma música, chamada Machismo às avessas, que de repente se tornou hino do momento histórico. A primeira estrofe:

sou uma presa fácil nessa jungle freak
elas tomaram conta da minha egotrip
garotas saem pra caçar no melhor estilo sex and the city
e os garotos se reúnem para chorar

Para ouvir a pérola e sacar a letra inteira , você vai ter que ficar de olho e não faltar no próximo Ensaio Aberto, mas hoje o Diego captou perfeitamente o espírito e resumiu o zeitgeist, em resenha do filme Sex and the City, publicada no G1. Clássico.

Sob o pretexto de reafirmar a tal independência da mulher contemporânea, forma-se um complô contra o sexo masculino pronto a se levantar diante de qualquer "injustiça" cometida pelos homens.

Vish!

Aqui.

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Você só ganha o que você merece

Tá ligado o Portishead? Tá ligado o disco novo? Tá ligado aquela introdução em português? A Kakau descobriu como aconteceu e quem gravou e botou no blog dela entrevista com o dono da voz: um professor de capoeira que mora em Bristol.

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Me and you and everyone we know

E o bom gosto, as boas idéias e as pessoas legais continuam se espalhando: Catatau e Bid estão no disco novo do Chico César e Caldato, Pupillo e Dengue fazem o novo do Seu Jorge. Boto fé.

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Na Augusta, às oito da noite e de graça!

Certeza que você já sabe: o Studio SP mudou. E, na migração da Vila Madalena para o Baixo Augusta, junto fui eu e o projeto do qual sou curador, Cedo e Sentado. Mas a mudança não foi só física, todo o projeto só faz melhorar no endereço novo. Primeiro que agora os shows são todos, sempre, DE GRAÇA. É só chegar, entrar, se acomodar e curtir o som. Segundo que agora tudo acontece mais cedo. Ao invés de shows às 22h30 (nem tão cedo, portanto), no Studio novo os shows do Cedo e Sentado vão acontecer às 20h30. Na hora certa pra você ir no fim do dia, pra terminar a noite ou só começá-la.

Outra boa novidade é que agora os dias estão ainda mais tematicamente divididinhos, você pode até escolher qual seu Cedo favorito. Às terças, teremos temporadas de jazz. Às quartas, artistas novos, cantores, projetos. Às quintas, sempre gente legal colocando um som, mostrando seus discos favoritos, fazendo uma discotecagem low-profile. E, às sextas, cantoras. Tudo do bom, do melhor, do novo, lindo, bonito e joiado e com selo de aprovação Evangelista.

Então, teremos:

Todas as terças de junho
O Projeto Coisa Fina é coisa absolutamente finíssima: big band de doze integrantes tocando repertório do mestre dos mestres Moacir Santos. Afro-jazz-brasileiro daqueles de congelar o tempo de tão bonito. Dá uma olhada nesse vídeo e diz se dá pra perder: http://www.youtube.com/watch?v=ca6w_OQL-JY.
http://www.myspace.com/projetocoisafina

HOJE, quarta, 4 de junho
Criado por Tatá Aeroplano (Cérebro Eletrônico, Jumbo Elektro, Ensaio Aberto), ao lado de Peri Pane (Odegrau), Isidoro Cobra (Cérebro, Jumbo) e Mauricio Fleury (Le Rock Démodé, Multiplex), a Sociedade da Grã-Ordem Mojiquista é uma homenagem em som e espírito ao grande José Mojica Marins, vulgo Coffin Joe, vulgo Zé do Caixão. Terror e trasheira em canções surreais e arrepilantes. Venha, vá se esquentando para o hype vindouro da estréia do novo do Zé do Caixão e tome cuidado com monstros como o Satã Tantã e a Perna Cabeluda.

Amanhã, quinta, 5 de junho
Lançando seu disco Punx a qualquer momento, Gui Mendonça, o Guizado, volta ao Cedo e Sentado - mas dessa vez com uma proposta diferente: colocando seus discos favoritos pra gente ouvir e sacar um pouco das suas influências. Jazz intensos e hip-hops quebrados não vão faltar.
http://www.myspace.com/guizado

Sexta, 6 de junho
Eu sei que você gosta da Amy Winehouse. A atriz, cantora e presença Miranda Kassin também. A diferença é que ela, além de ouvir, resolveu fazer um show em homenagem à nossa junkie favorita e todo o universo que ela insinua, com versões de Etta James, Carmen McRae, Morphine, Stones e afins. Espetáculo de som, imagem, clima e diversão. Tó um gostinho de como foi seu primeiro show no Studio:
http://www.youtube.com/watch?v=ngG6MV1_cS0

Quarta, 11 de junho
Cada vez mais comentado por aí, o Duo Moviola chega para mostrar novas e atuais possibilidades do samba - com ambiências cinematográficas, senso de humor e subversão das tradições. Formado por Douglas Germano e Kiko Dinucci - este último, recentemente entrevistado pela revista +Soma. E aqui, link só pra te dar o clima:
http://www.youtube.com/watch?v=3-pCvrId9ns

Quinta, 12 de junho
Nouvelle, Heartbreakers, HB Tronix, inúmeros músicos por aí: infindável e invejável a ficha corrida de Guga Stroeter, vibrafonista e personalidade. Além de ser um dos homens por trás do Studio SP, Guga é mestre do bom gosto e vai mostrar isso pra todo mundo colocando seus discos de jazz, música latina e sofisticações em geral.
http://www.myspace.com/gugastroeter

Sexta, 13 de junho
Vocalista da adorada banda Comadre Fulozinha, Karina Buhr prepara agora disco solo, aprimorando sua incrível mistura de regionalismo massa e criatividade em estado bruto. Bateria, trompete, escaleta, teclados, climas, melodias e a bela voz de Karina. Para ver em primeira mão? Só colar junto.
http://www.myspace.com/karinabuhr

Quarta, 18 de junho
Uma das mais gratas surpresas dos recentes meses de Cedo e Sentado, Peri Pane é gênio, maluco, jornalista, músico, escriba e compositor, entre outras tantas coisas. Tocando violão e violoncelo, cantando e falando, brincando e sendo sério, Peri criou, junto com o incrível poeta arrudA, uma sonoridade particular, toda própria, que eles estréiam aqui, no Cedo e Sentado, ao lado de Isidoro Cobra no contrabaixo acústico e Beto Montag no vibrafone.
http://www.youtube.com/watch?v=9CHPTwsxRjE
http://www.myspace.com/peripane
http://saudadedopapel.zip.net/

Quinta, 19 de junho
Fernando Catatau você conhece: é o homem por trás do Cidadão Instigado, das melhores coisas sendo feitas na música brasileira atualmente. Mas já ouviu o Catatau tocando seus vinis do fino do fino da tal música brega dos anos 70? Eu já, e garanto: é uma experiência imperdível.
http://www.myspace.com/cidadaoinstigado

Sexta, 20 de junho
Certo dia toca meu telefone, é Tom Zé. Papo vai, papo vem, ele me fala de uma cantora bacana, que o convidou a participar do disco dela e que agora quer fazer shows por aí. Yadda yadda yadda, claro que convidei Beatriz Azevedo a tocar no Cedo - ainda mais que ela está com disco novo na praça: Alegria (Biscoito Fino).
http://www.myspace.com/beatrizazevedo

Quarta, 25 de junho
Compositor de ótimas trilhas sonoras, produtor de gente como a Céu, autor do ótimo disco Excelentes Lugares Bonitos, Beto Villares é um que estou de olho tentando marcar no Cedo e Sentado desde que me tornei curador do projeto. Agora finalmente conseguimos ajustar nossas agendas e bobo de quem não aparecer para vê-lo.
http://www.myspace.com/ambulantediscos

Sexta, 27 de junho
Se você me conhece faz tempo, certamente já até cansou de me ouvir elogiando a Lulina, genial compositora e cantora singela e bem-humorada de Recife. Se me conhece faz tempo, também sabe que não elogio as coisas à toa. Com disco no forno, prometido pra breve, ela volta aos palcos do Cedo com o projeto que criou pra nós: Mamãe, Quero Ser Zeca Pagodinho, em que abre uma roda pra cantar muito simpaticamente sambas de seu repertório e de gente como Cartola, Miriam Batucada, Billy Blanco.
http://www.myspace.com/lulina

Tudo bom e de graça. Tem desculpa pra não ir? Nos vemos em todos.

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Somando tudo


Curtiu Nina? O Cheiro do Ralo? O Natimorto? Continuando a onda de transformação do Mutarelli de desajustado social em referência cultural, ano que vem chega ao cinema O Dobro de Cinco, filme adaptado da HQ que marcou o momento de mudança na carreira (e na vida) dele. Aqui, no blog do Grampá - desenhista de produção do filme, saca o nível do traço -, dá pra descolar umas novidades sobre o filme, tipo o pôster aí em cima. Segundo ele, o trailer vaza em breve. Sensacional o Diomedes de carne e osso, diz aí. Aqui dá pra ver também uma animação curtinha tirada do filme e aqui descrição do processo de feitura da animação.

E qualquer hora conto como entrevistei o Mutarelli pra um zine que nunca saiu, em meados dos anos 90, quando tinha uns 16 ou 17 anos. Aliás, qualquer hora acho essa fita e transcrevo a entrevista aqui.

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Bóin. Bun tcha.

Em homenagem ao show do Kassin que eu perdi sexta passada, três videozinhos videogames: um mutcholôco da Yellow Magic Orchestra (que, aliás, voltou), um do lendário Golden Shower (aliás, Bêla, cadê sons novos?) e um do próprio Kassin - repare nas dancinhas.



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