RONALDOEVANGELISTA


partir do princípio



Mês passado rolou um show imperdível (que perdi) no Itaú Cultural: Cidadão Instigado tocando várias músicas novas e com participação do Amarante e da Karine Carvalho. Catatau, Régis, Rian e Clayton já vêm tocando novas do Cidadão desde 2008 (algumas, tipo "O Nada", até antes), mas agora eles já estão naturalmente mais afiados, à véspera de lançar disco novo.

Disco novo, aliás, que boto fé ser o grande lançamento desse 2009 - que já tem altas promessas. O Método Túfo já é incrível, mas algo me diz que Catatau vem ainda melhor com suas novas canções. O disco já está em fase final de gravação (com a base toda registrada em rolo no Kalil) e vai ser lançado em junho no Ceará (parte do Projeto Pixinguinha).

Uma das do disco, "Recomeçar", nesse vídeo filmado e colocado no ar pelo próprio Itaú - então com boas imagens, som, edição. Canção de amor sofrido, Catatau puxando pro lado humano e pro groove, e mandando ver na guitarra Casio DG-20 com som de tecladinho. Na seqüência, no mesmo vídeo, "Evaporar", que Amarante gravou no disco de duos do Lanny e depois com o Little Joy, em versão acompanhado pelo Cidadão.

Marcadores: , , ,

just something available for you to work with



There's this inherent screenplay structure that everyone seems to be stuck on, this three-act thing. It doesn't really interest me. To me, it's kind of like saying, 'Well, when you do a painting, you always need to have sky here, the person here and the ground here.' Well, you don't. In other art forms or other mediums, they accept that it's just something available for you to work with. I actually think I'm probably more interested in structure than most people who write screenplays, because I think about it.

Charlie Kaufman, no Guardian, abismado com quem acusa falta de estrutura em seus filmes.

Marcadores: ,

o sofrimento não nos dá medalha



"Veneno pra dois" é das favoritas da Carmen, grande pérola do Braguinha com Alberto Ribeiro, hino ao desencanto, puro pós-romance, pleno 1938. Ninguém lembra, claro - é não só ano de "Na Baixa do Sapateiro" (e de "E o mundo não se acabou"), como véspera da avalanche "O que é que a baiana tem?". Mas vai ouvindo: clima de combo jazz latinizado, fórmula pop atacando direto no refrão, a interpretação de Carmen mais coquete do que nunca, seus agudos fazendo cada 78 rotações rodar com mais calor que qualquer outro do álbum. Carmen já com uns dez anos de carreira (e sucesso e cassinos e filmes e prestes a ir pra gringa) e uma canção já ali meio embutida de charme old fashioned, de clima choroso, com a melancolia clássica da música brasileira.

pelo sim, pelo não
é melhor não querer
pois quem tem coração
vive sempre a sofrer

no princípio tão bom
diferente depois
que o amor se transforma
num veneno pra dois

um não querendo não existe briga
pois quem desiste não discute mais
de longe a gente é muito mais, amiga
na opinião dos outros não desfaz

você me deixe, pois, em liberdade
que há de ser muito melhor assim
se perguntar por mim dona saudade
pode ir dizendo que esqueceu de mim

pelo sim, pelo não
é melhor não querer
pois quem tem coração
vive sempre a sofrer

no princípio tão bom
diferente depois
que o amor se transforma
num veneno pra dois

o que hoje é declaração de guerra
ontem já foi declaração de amor
dura tão pouco tudo nesta terra
hoje está frio e ontem fez calor

o sofrimento não nos dá medalha
quem faz sofrer não deve ter amor
vou desistir, que sem haver batalha
não há vencido nem há vencedor




(Foto daqui.)

Marcadores: , ,

U-R the 1



Saca o groove absurdo, a voz elástica, o soul synth, a guitarrinha funk, o solo de keytar, o óculos-branco-e-boné do batera, as calças, camisas e lenços rosa e a dancinha coreografada e me diz: você também não fica feliz com quem consegue se sair bem nos early 80s? Tipo Motown futurista.


Onde você ouve?
veneno

Marcadores: , ,

Señor Silver



Horace Silver (ou Horácio Silva, como o chamava Moacir Santos) já teria seu lugar garantido no coração de qualquer um que ouvisse as gravações que fez em 1955 com Art Blakey - que nos deu "Doodlin'" e inventou não só os Jazz Messengers como todo o Hard Bop. Mas fez mais: um ano depois, já largado os Jazz Messengers e Art Blakey e com nova banda afiada na mão, compôs e gravou "Señor Blues", amostra ao vivo em Newport no vídeo acima.

Talvez por sua ascendência e influências portuguesas (realmente se chamava Silva - Martin Tavares Silva), puxadas pro afro caboverdeano, sempre teve um groove a mais que qualquer contemporâneo. Como um Duke Ellington endemoniado por um Thelonious Monk, conseguia levantar o groove mais perfeito com os arranjos mais criativos e passeando pelas notas do piano como se zombasse delas.

Ahmad Jamal, Ramsey Lewis, Joe Zawinul, todo o soul-jazz, Art Ensemble of Chicago, Moacir Santos - estamos em 1959 e está tudo aí. Em "Señor Blues", toda a levada afro e o tema e solos dos sopros já são impressionantes, mas o solo de piano que começa ali pelos três minutos e vai até os nove é inacreditável. (Pela segunda metade o vídeo começa a sair de sinc e não dá pra acompanhar direito as mãos no piano, mas vale pelo que dá.)

Marcadores: , ,

estruturando o consumo



Almodóvar, falando como consumidor e produtor de arte, no El País, pelo Mais!.
(Foto do NYT.)

*

O ano de 2008 foi muito ruim para o cinema espanhol. Em 2009 estão previstas cifras melhores, graças à estreia de seu filme e os de Alejandro Amenábar, Isabel Coixet, Fernando Trueba etc.

A crise está afetando o cinema positivamente. As pessoas deixam de ir jantar fora, mas querem continuar saindo às ruas, e o cinema é um entretenimento acessível, bom para estes tempos.
Sobre a redução no número de espectadores, acho que a pirataria tem muito a ver com isso. Vivemos uma fase de mudanças muito grandes em tudo o que diz respeito ao consumo de imagens, e só existe uma saída: estruturar esse consumo.
Não acredito que o cinema visto nas salas de cinema esteja morto, assim como não acredito que os jornais estejam mortos. Não vou a um café para ler o jornal no meu computador, e, como eu, há muitas pessoas.
Existem muitas coisas paradoxais, como o fato de que vejo os filmes muito melhor em meu televisor de plasma do que numa sala de cinema.
Isso me dá calafrios, porque aquilo de que gosto é justamente ir ao cinema, me sentar com pessoas que não conheço.

Marcadores: , ,

Think Tank 3




No ar a terceira edição da roda de debates Think Tank. Funciona assim: juntamos em sofás lá na YB uma roda de cabeças pensantes para conversar sobre o que anda acontecendo com a música, os discos, a mídia e essa coisa toda. Então temos pitacos, pensatas, palpites e exercícios de futurismo por Carlos Eduardo Miranda, Pena Schmidt, Ronaldo Evangelista, André Bourgeois, Juliano Polimeno e Mauricio Tagliari. Desta vez, com o notório Alexandre Matias sentando com a gente para fazer suas notações, observações e participações.

*

Eugênio Vieira apareceu e levou seu olhar e registrou imagens massa, aqui e aqui.

Vídeos e comentários (que você também vê aqui) logo abaixo.

*



De cara, começamos com Pena já causando: os discos foram um acidente de percurso! Miranda completa, "só inverteu a ordem, antes o cara fazia disco pra poder fazer show, agora faz show pra poder fazer o disco". E Matias nota que essa tal crise da música não é uma crise da música, é crise das gravadoras. A conclusão, Midani já sabia, é retomar o poder da mão dos tecnocratas.



No segundo bloco, Pena e Miranda explicam que o importante é o artista fazer sua música reverberar. Por exemplo quem se agiliza e cola no SXSW. Opa, mas SXSW? André discorda: o festival não é tão legal assim. Mas tudo bem, é um exemplo, o importante é se agilizar, tem que fazer o interesse acontecer.



Matias observa que em termos de shows, a cena em São Paulo é uma coisa recente. Portanto, os artistas de hoje ainda estão descobrindo sua audiência. Mauricio pergunta: tem futuro o artista que já não vende discos e não toca na rádio, e ainda faz show pra poucos? Mas Ju Polimeno conta suas estratégias secretas (discos sob medida?) e percebe: de cinco em cinco gatos pingados, as bandas formam seu público. Miranda já nota um problema de continuidade e Matias arroja: o cara que gosta de forró universitário pode gostar de Hurtmold.



Enquanto Ronaldo e Matias criticam as majors por fazerem frente à evolução natural da distribuição irrestrita, Mauricio faz ressalvas e Pena chama pênalti e faz importante contexto histórico, explicando que as lojinhas não estão fechando por causa do Pirate Bay, e sim por causa das próprias majors. A lógica tecnocrata das grandes gravadoras é revelada: artista bom é o que vende rápido e muito, arte dá trabalho.



Quando a coisa já parecia estar chegando ao fim, Mauricio coloca Ronaldo na parede e explica pra imprensa: é muito charmoso - mas irresponsável - traduzir free-livre como free-grátis.

Marcadores: ,


Busca


[All your base are belong to us]

Evangelista Jornalista
Investigações Artísticas

*Anos Vinte







@evansoundsystem



Feed!



© 2001-2010 Ronaldo Evangelista