RONALDOEVANGELISTA


Tonight I'm gonna do something just for me

O Sawyer a gente não sabe que fim levou. O Jack tá fugindo e evitando vê-la com o bebê. À Kate do futuro, só resta uma opção: Live Links.

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"I have been thinking about how as adults we bury our emotions..."

Com a desculpa de "abrir as cortinas do processo criativo", o New York Times convidou quatro músicos e compositores a escrever em um blog, Measure for Measure. Estreando a série, escreveu lá ontem o Andrew Bird - talvez o músico mais criativo dos nossos tempos. O mais legal é que as composições do Bird são todas meio alegóricas, simbólicas, misteriosas, prosaicas e complexas ao mesmo tempo, e no texto ele fala de todo seu processo criativo. Além de comentar sobre como compõe, grava, toca e se inspira, ele descreve passo a passo a última música que escreveu - e ainda está escrevendo: "Oh No". Torço pra surgir uma demo no MySpace ou vazar uma gravação de show em breve.

De quebra, ele ainda libera a boa notícia que tem onze músicas prontas e semana que vem começa a gravar novo disco.

***

Almost every breath contains some fragments of an escaping melody. If I shape my lips so as to whistle, my breath will take on a musical shape like sonic vapor. Words are much trickier. I would forgo words altogether if I didn’t love singing them so much. My choice of words and my voice betray so much and that’s what’s so terrifying and attractive about it.

I’m not the most forthcoming person — I only speak when I have something to say. What is becoming more challenging of late is dealing with so many fully formed melodies that are unwilling to change their shape for any word. So writing lyrics becomes like running multiple code-breaking programs in your head until just the right word with just the right number of syllables, tone of vowel and finally some semblance of meaning all snap into place.

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Marketing solidário



DR PEPPER
WILL GIVE EVERYONE* IN AMERICA A FREE SODA IF AXL ROSE RELEASES NEW GUNS N’ ROSES ALBUM, CHINESE DEMOCRACY, IN 2008

*Guitarists Slash and Buckethead Will Not Be Eligible For Free Soda

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E a vinhetinha, e a vinhetinha?



Mais zoneado do que nunca, está no ar a quinta edição do estrondoso Qualquer Coisa, podcast apresentado por José Flávio Junior, Paulo Terron e Ronaldo Evangelista, vulgo eu mesmo. Essa semana, falamos todos ao mesmo tempo sobre a qualidade da música pop de Fergie, Hanson e New Kids on the Block, sobre Otaviano Costa, Tom Zé, Twister, a não-audição e a sensualidade soturna do Portishead, João Marcello Bôscoli brincando de Ronnie Von e o imperdível show da Tania Maria. Dessa vez, com a estréia do esperado Link Zappia, cheio de delays, chiados e novidades londrinas como a pessoa Dawn Landes e três ex-mulheres do Jimmy Page. Sentado na cadeira de convidado, contando seus causos e estratégias de marketing, o grande Rafael Rossatto - não só uma lenda do rock em primeira pessoa com o Bidê ou Balde mas que também trabalhou com gente de sucesso como Belo (ex-Soweto, fã de tecidos finos) e hoje é empresário de Mallu Magalhães (pequena grande folkeira, fã de "Leãozinho", do Caetano).

Ouça aqui ou baixe aqui.

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Quieto no meu quarto

Noite branca. Nada passa pro papel. Vontade imensa de escrever, mas tem boi na linha. Outro cigarro, outro cigarro. O álcool começa a fazer minha cabeça. E se eu parasse de beber e dar bola e agüentasse a palo seco a porra da ansiedade? Outro dia tentei e não deu pé. Suei frio, deu tremendeira, achei que ia pirar. Não conseguia juntar três palavras numa frase; caí então no rum, única bebida que sobrara em casa. Matei metade da garrafa. A noite ficou mais suportável, escrevi uma carta pra Sônia com desaforos mais ou menos líricos. A bebida desce raspando as unhas na minha garganta e abrindo um buraco ardente no meu estômago. Meu pobre estômago malhado. Na janela, o cubo da noite convida poeticamente pro salto.

Me lembro da manhã de verão ensopada de sol, numa rua do Leblon, em que vi Drummond. Camisa abotoada até o pescoço. Cruzei com ele e seus olhos cinzentos fixos em qualquer coisa que andava à sua frente e não se via. Não eram os edifícios, não eram as caras da rua, nem os outdoors. Não se via. Tive um tchans muito estranho vendo a cara do poeta, que me pareceu de uma serenidade quase sem vida. E aqueles olhos que olhavam o que não se via. Passou por mim e eu vupt fiz meia-volta e fui atrás dele. O homem que uma vez disse que é apenas um homem seguia imperturbável seu caminho, ali na minha frente.

Fui seguindo Drummond pelas calçadas do Leblon até me convencer de que o homem à minha frente não era o poeta. Era mesmo apenas um homem dentro dos seus sapatos. O poeta está guardado em mim, num lugar que nem desconfio, e não tem cara e não tem corpo. É só uma vibração que me acompanha nas minhas noites brancas, vida afora. Larguei de segui-lo. Voltei pelo mesmo caminho, fui cuidar da vida.

Não seguro a barra dessa solidão espessa sem um copo na mão. E um charo bem enrolado. tem razão o Pascal: o homem não toma jeito enquanto não aprende a ficar quieto no seu quarto. Ele diz também que a calma entedia o cidadão e o obriga a sair e "mendigar o tumulto". Jogo mais uísque nas pedras.

A França, quietinha lá fora. Acho que francês segura melhor a barra da solidão que brasileiro. Parece, pelo menos. O brasileiro tem medo pânico da solidão. É um ser que padece de pluralidade. Um cara solitário no Brasil é tratado socialmente como tuberculoso e se sente pessoalmente como leproso. Brasileiro só acata a solidão na privada e no caixão. E, às vezes, nem aí: quantos não caem na vala comum...

Fiz trinta anos e ando com medo de levar a breca na vida. Ficar sem grana, sem amigos, sem mulher. Um ratê baixo astral, desses que sentam no meio-fio e vertem lágrimas grossas como pitangas. E se deixam lamber na cara por um vira-lata sarnento. Te esconjuro, Nelson Rodrigues!


Do Tanto Faz, do Reinaldo Moraes.

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Eu insisto procurando amor



De um especial de TV do começo dos anos 70, Elis canta com Dom Salvador e a Banda Abolição um dos maiores hits do cânone black nacional, "Uma Vida". A Abolição de Salvador foi a primeira formação musical brasileira notória dentro da onda de orgulho negro - conceitual e musical - que pegava o mundo pelo colarinho nessa época. Então, saca a manha do Luis Carlos (que pela mesma época cantou no disco do Verocai e alguns anos depois fundou a Black Rio com Oberdan) tocando bateria e mandando um proto-rap no começo da música, repara bem nos cabelos, roupas, instrumentos e estilões e me diz se a Abolição ficava devendo qualquer coisa a Sly & the Family Stone, Isley Brothers, Watts 103rd Street Rhythm Band e afins.

uma vida
uma vida não é nada
se não tem nenhum amor

um sorriso não é um riso
um sorriso não é preciso
se não tem amor

uma casa é tão fria
apenas, apenas uma moradia
sem amor

eu persigo o meu destino
meu futuro inseguro
levando sempre, sempre a minha dor

não descanso, não, eu não desisto
eu insisto
eu insisto procurando amor

alegria, alegria
é manhã de um novo dia

vou andar onde o amor levar
vou descobrir a vida
vou construir meu lar
eu vou sair de mim
eu quero me encontrar
sei que vou ser feliz
meu dia chegará

alegria, alegria
é manhã de um novo dia

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O seu bezerro gritando mamãe




Morbidez, mau gosto, sangue, maldade: é o Qualquer Coisa #4, especial PROIBIDÃO. Eu, Zé Flávio, Paulo Terron e nosso convidado Ivan Finotti abraçamos de corpo e alma o politicamente incorreto e conversamos sobre o saudoso NP, a perna do Roberto, a morte do Skylab, o futuro câncer no cérebro do Zeflas, o encontro de Zé do Caixão e Michael Stipe, a pílula do teletransporte, o encontro histórico dos Brothers of Brazil, o lado bom e mau dos piratas vazados na internet, Jards Macalé e Tom Waits, o melhor show da música brasileira hoje e ainda, de lambuja, Finotti conta para nossos 16 ouvintes porque fez Mallu Magalhães chorar no show do Bob Dylan - e ainda conta sua própria experiência pessoal de partir o coração: aos 15 anos, jovem fã de Kiss, foi esnobado por Paul Stanley. Por que as pessoas são tão cruéis?

Ouça aqui ou baixe aqui.

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Before sunset, before sunrise

Dia se pondo em pinheiros e nascendo na Paulista:

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Algo que não deve ser imposto, mas que existe por si mesmo



Dylan caro? E o Morricone, por R$1500 - o mais barato R$700? Em homenagem ao show do ano, para poucos e bons de bolso, lembro de quando entrevistei o maestro italiano pra Folha, no ano passado. Bem, entrevistei mais ou menos. Foi absolutamente surreal - preparei a pauta e mandei o questionário; depois liguei pra nora (ou ex-nora, não me lembro bem) do Morricone, que havia feito as minhas perguntas e gravado as respostas. Aí eu ficava ouvindo de fundo a voz italiana dele saindo das caixinhas de som do gravador e ela ia traduzinho, em um português meio enrolado: "ah, ele está dizendo que..."

Isso, é claro, depois de dias de negociações, horários marcados e desmarcados, e o risco de tudo ser cancelado a qualquer momento.

Improvavelmente, até que saiu um texto razoavelmente decente disso:

Música para cinema é diferente de tudo

Aos 78 anos, 46 de carreira, mais de 400 filmes no currículo, cinco indicações ao Oscar e um prêmio especial da Academia concedido pouco mais de dois meses atrás, o compositor italiano Ennio Morricone desembarca nesta semana no Brasil pela primeira vez, para fazer finalmente sua estréia em um palco brasileiro.

Morricone vai fazer apenas um show, neste sábado, dia 5, no Teatro Municipal do Rio, acompanhado da Orquestra Petrobras Sinfônica e 18 músicos italianos que traz na bagagem, inclusive a soprano Susanna Rigacci.

Se a chegada do cultuado compositor em terras brasileiras é motivo de excitação, o que dizer de feito similar nos EUA -país para onde Morricone produziu grande parte de sua obra? Pois foi apenas em fevereiro passado, poucas semanas antes de sua premiação na festa do Oscar, que o autor se apresentou pela primeira vez na América, para um público de 5.000 pessoas.

Pode parecer uma excentricidade do italiano não ter se dedicado com mais afinco ao seu potencial grande público, mas Morricone trabalha só com suas próprias regras. Outra prova disso é o fato de, mesmo tendo realizado obras em parceria com diretores americanos, como Brian De Palma, o maestro nunca ter se dado ao trabalho de aprender inglês.

E foi assim, cercado de improbabilidades e particularidades, que a Folha foi atrás de uma entrevista com o músico. Regra número um: ele só falaria à intérprete que ele conhecesse e aprovasse, de preferência alguém de sua equipe. Regra número dois: o horário teria de ser o que lhe servisse melhor, não importando quantas vezes fosse necessário remarcar a entrevista. Regra número três: ele não falaria diretamente à reportagem, mas sim com sua intérprete, com as nossas perguntas na mão, e ela depois transmitiria as respostas.

Brasil
Notório avesso a entrevistas, Morricone foi uma tour de force, mas não se esquivou de falar, desde que seguidas suas regras. Ganhar o Oscar? Sim, foi um reconhecimento que lhe deixou muito emocionado e surpreendido. O Brasil? É um país que admira de longe, e sobre o qual tem grande interesse. A música brasileira? Tem uma simpatia enorme, e foi forte influência no seu começo como compositor. Ter gravado um disco ao lado de Chico Buarque em 1970? Claro que se lembra, e foi uma experiência com resultado muito original, do qual se orgulha muito.

Conhecido principalmente pelas trilhas que escreveu nos anos 60 para os filmes do italiano Sergio Leone, lembrados até hoje como westerns spaghetti, Morricone tem aquilo como ponto de partida para uma carreira longa, rica e variada. Formado em composição pelo Conservatório de Santa Cecília de Roma e interessado em jazz e música de vanguarda, Morricone faz uma música distante dos clichês, utilizando-se de precisão erudita sobre melodias simples e instrumentação criativa -é notória sua mistura de cravos, sintetizadores, vozes femininas e orquestras.

Depois de tantos anos e tantas composições, qual pode ser o segredo da criatividade até hoje? "Esse segredo é a coisa mais simples que se pode imaginar", diz ele, por meio de sua intérprete. "Quatrocentas trilhas não é muito se pensarmos em Johann Sebastian Bach, que escrevia uma cantata por semana, sempre comissionado por um príncipe, um rei. Ou seja, sempre existiu a música por comissão, a criatividade surge quando a pessoa reconhece que ama o próprio trabalho, que foi escolhido para aquilo."

Então, qual o segredo dessa música que funciona tão bem acompanhando imagens quanto sozinha? "A música para cinema é diferente de todos os outros tipos de música", ele explica. "A grande diferença é o condicionamento: à história, ao diretor, ao público que é do filme, não da trilha. Esse condicionamento deve ser superado pelo estilo do compositor -algo que não deve ser imposto, mas que existe por si mesmo. Esse estilo deve conseguir encontrar seu caminho apesar dos condicionamentos."

E a paixão pela música, afinal, segue até hoje? "Não gosto de usar a palavra paixão, porque paixão acaba", esclarece. "A música, pelo contrário, é uma fonte inexaurível. A disciplina é tão importante quanto a paixão: com ordem e disciplina, paixão vira continuidade."

Aposentadoria, então, nem pensar? "Ah, essa palavra ele odeia, nem citei para ele", diz a intérprete. "O que ele mais gosta de fazer é trabalhar."

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Analogias pra vida

Wikipedia is like hearing a great story in a bar: You hope it's true, but never bother confirming it.

Starbucks is like that crazy ex-girlfriend you still get together with: You hate yourself for going back, but the familiarity makes it convenient, and until you find something better, it's all you've got.

A world where Will Smith is the last human alive is like a bowl containing one M&M: Maybe it'd be better if it was empty.


Gênio. Mais aqui.

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carapuça

você diz que não me compreende
que não me entende e que sente horror
dessa vida louca que ando levando
desvairado amor

não percebeu que acabou-se o tempo
em que ficava ouvindo seu lamento
minha paciência se acabou
tchau, fui, adiós

olhe
não me incomode
não me dê bode
me deixe em paz
eu não quero te ver mais

você se acha o mais esperto, o mais envolvido
sabichão com diploma, todo esclarecido
sempre por dentro da situação

o mais malandro, o mais sagaz, o mais bonito
mas o que você não sabe, amigo
é que o mundo não gira em torno do seu umbigo

olhe
não me incomode
não me dê bode
me deixe em paz
eu não quero te ver mais

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Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa



Olha, gente: é preciso fazer uma distinção importante: uma coisa é ser consumidor de arte, ouvir, ler, gostar. Outra coisa é ser produtor de arte: você pode gostar de Assis Valente, mas não tem obrigação nenhuma de fazer o que ele fazia. Você não pode mesmo fazer nada dentro do universo de linguagem em que ele se movimentou. Já pensou se o Jorge Ben fosse dar uma de Pixinguinha?

***

A exportação não pode ser um critério de julgamento: pode ser, quando desejada, uma parte do trabalho que se realiza, tão passível de crítica quanto o resto. Talvez a mais perigosa, é só. Não se trata de fazer uma jovem inglesa inteligente entender o Tuareg; não é isso que vai testá-la. Uma jovem inglesa inteligente me disse ao ouvir o Tuareg que é muito triste ver que os groups brasileiros tentam imitar as imitações que a western music faz da música oriental, em vez de utilizar seu próprio primitivismo. Eu disse a ela que é muito triste constatar que suas próprias palavras justificam o desprezo com que ela diz western music.


Caetano, de Londres, em carta ao Pasquim, 1970.

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Não se avexe não





Agora vai! Recuperados do choque de termos tido mais de dez mil ouvintes em pouco mais de duas semanas, gravamos a já clássica terceira edição do Qualquer Coisa, podcast meu, do Terron e do Zeflas. Dessa vez, com nosso amigo Max como convidado, participação especial do incrível Thiagoney e papos furados sobre o nosso podcast rival, o Klaxons e a Orquestra Klaxon, o Carne de Segunda e o Do Amor, a relação secreta entre Mister Sam e Montage, o novo ainda inédito do Che e mais os habituês Bonde e Mallu.

Só clicar aqui.

(Ou baixar aqui.)

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Viver em plena consciência é uma coisa meio louca

O freak supremo Skylab anunciou a própria morte em seu blog.
No que vai dar, não sei. Mas me pareceu uma boa desculpa pra recuperar essa matéria que eu escrevi na Trip ano passado. Apesar da obra dele, foi uma das entrevistas mais divertidas, interessantes e surreais que já fiz na vida. Qualquer dia recupero o material bruto pro meu livro de entrevistas.

De tirar o sono
Ele é um pacato funcionário do Banco do Brasil. Alguns juram que ele é louco, bobagem. A culpa é de sua persona dominate, Rogério Skylab, que rouba o sono dele



Por Ronaldo Evangelista Foto Caroline Bittencourt

Rogério Skylab não é louco. Talvez você já tenha duvidado disso, se já esteve presente em algum de seus shows ou se já ouviu alguma de suas músicas, talvez algum hit como “Matador de Passarinho”. Talvez você tenha achado perturbador, talvez engraçado. Mas Skylab não é nem uma coisa nem outra: ele está falando sério.
Talvez louco seja Rogério Tolomei Teixeira, identidade que Skylab assume nas horas normais, seis por dia, trabalhando no setor interno do Banco do Brasil, cumprindo a mesma rotina há décadas. Puro pragmatismo: é uma máscara. “Ter múltiplas personalidades e viver uma vida dupla é algo fundamental para a arte contemporânea, serve de inspiração”, diz a personalidade dominante, Skylab. Sua insanidade é o que o mantém são.
E, se passa os dias no banco, é à noite que ele vive de verdade. “A madrugada pra mim é sagrada”, conta. “É ali que eu faço minhas músicas. Eu durmo tarde e durmo pouco, é um hábito: quatro horas de sono. Se eu dormisse dez estaria mais disposto, mas eu prefiro viver nesse estado de torpor, de sonolência. Viver em plena consciência é uma coisa meio louca. Prefiro viver longe do mundo, preocupado com a minha vida. Isso está ligado ao pensamento do Foucault, de fazer de sua vida uma obra de arte, como os gregos antigos. Quero dar à minha vida um valor estético, sem representação, sem política. Quero chegar num ponto em que você me pergunte quem é o presidente da República e eu te diga ‘não sei’.”

Skylab, é verdade, parece um ser estranho. Mas, ele jura, é uma pessoa normal. Tão normal que parece estranho. Conversar com Skylab é uma experiência muito diferente de ouvir suas músicas. Formado em filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele é tão culto e esclarecido quanto suas músicas, de qualquer um de seus sete discos, são vulgares e ofensivas. Afinal, sua estética é a do confronto, de chocar. Em uma letra como a de “Câncer no Cu”, por exemplo, em que o cantor pergunta qual a diferença entre Mario Covas, Ana Maria Braga e ele – e responde: Mario Covas já morreu, Ana Maria Braga está morrendo e ele um dia vai morrer. De quê? O título é auto-explicativo.
Como se justifica tamanho baixo nível? Não se justifica, e essa é a questão central de Skylab. Sua vulgaridade é um de seus maiores patrimônios. O que ele faz, afinal, é mostrar possibilidades ainda inexploradas da música brasileira, ainda que lançando mão de uma estética de gosto duvidoso.

“Quando eu falo em escatologia, sei contra quem estou falando: contra a MPB. Porque o que está em jogo em toda a história da música popular brasileira é a idéia de comunicação. O que está sempre presente é a consciência, o racional, a reflexão. Mesmo com uma poesia difícil, é sempre algo cabeça. A escatologia não é cabeça, é a volta do corpo”

Figura cult, visto como transgressor nos circuitos paulistano e carioca de shows alternativos. Personagem adorado, engraçado, habitué do programa do Jô Soares. No fundo, Skylab é um incompreendido. E essa, ele diz, é exatamente a razão de existir de toda a sua música.
“Freud dizia que a origem do riso é o familiar”, ensina. “A beleza clássica está ligada à idéia do reconhecimento. Uma música estranha nunca vai ser bela. E o meu trabalho não é voltado a olhar pro familiar, mas pro estranho. No fundo, meu trabalho está voltado pra não-comunicação.”
Ou seja, suas músicas apenas parecem impressionantes porque não estamos acostumados a ela. As coisas que ele diz não são chocantes em si, o chocante é ele dizê-las. Se ele é louco e bizarro, é por assumir o papel de cantar o que pensa e se expressar como se expressa. Normal não é. Mas vá dizer que realmente não é.
“Tem uma coisa nisso de voltar contra si próprio”, auto-analisa. “De não se levar a sério, de desconfiar do ego. É achar que o ego já é uma falsificação, uma invenção sua. Arte não explica nada. Arte é. E cada um capta o que pode captar. Daí a superioridade da arte em relação a um discurso explicativo. O meu discurso é inferior aos meus discos. Mas se você ouvir meu disco e achar uma bobagem, achar que eu sou um pateta, problema seu. Sartre dizia: quando você lança um trabalho, no que ele se transforma já está fora de quem o elaborou.”

Basicamente, Skylab não facilita as coisas pra ninguém. Você ouve e gosta, seja lá por qual motivo, ou detesta. De repente você acha engraçado, apesar de ele dizer que, se há humor, é acidental. De repente você acha muito louco e curte ouvir, como um adolescente querendo irritar os pais. Difícil é entender completamente o que se passa ali, mas isso é afinal o que torna a música dele no mínimo interessante. A verdade é que nem ele sabe exatamente o que está fazendo, mas sente que tem que fazer mesmo assim.
“Fazer música pra mim é a imagem de um motorista de olhos vendados dirigindo um carro em alta velocidade”, visualiza. “É algo misterioso, você faz por uma força impulsiva. Minhas músicas são uma ficção, têm um aspecto sensorial. Eu falo de coisas terríveis que não são reais, mas que são uma realidade profunda. Quando eu falo de câncer no cu, é um artifício, quero dizer uma outra coisa. Mas você vai ter que mergulhar pra saber o que é.”

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I don't see what anyone can see in anyone else but you



Uns dois anos atrás minha amiga Pacolli - mestre em descobrir as músicas mais lindas do mundo - me mandou um mp3 de uma banda que eu tinha ouvido falar mais uns anos antes, mas nunca tinha escutado direito.

Corta para uns meses atrás e eu começo a ouvir falar de um filme que termina com dois personagens tocando exatamente a tal música. Tristemente, a Pacolli, superprotetora dos seus amores, criou birra pelo filme e não viu Juno, mas eu finalmente assisti. Uma graça, como realmente todo mundo já tinha me dito.

(E, Terron, reclamar que nenhuma adolescente fala como a Juno é igual reclamar que o Hurley não pede peso depois de três meses na ilha. Alegoria!)

E a tal música que a Pacolli me mandou, "Anyone Else But You", da Kimya Dawson / Moldy Peaches, é realmente fofíssima. Letra singela, melodia simples, dueto gracinha. Em homenagem a ela (e ao personagen Alta Fidelidade do filme), um top 7 altamente pessoal das canções-declaração-de-amor mais lindas de todos os tempos nesse momento:

Tom Jobim - Lígia (Tom Jobim)
Paul McCartney - Maybe I'm Amazed (Paul McCartney)
Cinerama - Barefoot in the Park (David Gedge)
Squirrel Nut Zippers - Meant to Be (Tom Maxwell)
Chet Baker - Time After Time (Sammy Cahn / Jule Styne)
Erasmo Carlos - Sábado Morto (Roberto Carlos / Erasmo Carlos)
Fred Astaire - The Way You Look Tonight (Jerome Kern / Dorothy Fields)


E, só pra equilibrar, as cinco músicas mais tristes de fim-de-amor:

Caetano Veloso - Não Me Arrependo de Você (Caetano Veloso)
Blur - No Distance Left to Run (Damon Albar / Graham Coxon / Alex James / Dave Rowntree)
Dionne Warwick - Walk On By (Burt Bacharach / Hal David)
Chico Buarque - Samba do Grande Amor (Chico Buarque)
Edu Lobo e Maria Bethânia - To Say Goodbye (Edu Lobo / Torquato Neto)


E, pra terminar animado, as cinco mais sexy:

Ray Charles e Betty Carter - Baby It's Cold Outside (Frank Loesser)
Peggy Lee - Fever (Otis Blackwell / Eddie Cooley)
Dusty Springfield - The Look of Love (Burt Bacharach / Hal David)
Chico Buarque - Samba e Amor (Chico Buarque)
Fred Astaire - Night and Day (Cole Porter)


Quais eu esqueci?

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de l'amour



Mais um show Do Amor no Studio, mais uma noite histórica. Além de Pepeu, até Jimmy Cliff e Ian Curtis baixaram neles. Como já está virando tradição, a noite ainda foi longe no Agripino - além dos quatro Do Amor, ainda Tatá, Max, Clarah, Zeflas e Nina. A foto aí em cima é do exato momento em que os quatro mandavam uma esfiha e discutiam a complexidade da obra de Mallu Magalhães.

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Cedo & Sentado: as emoções continuam

Caros, prezados, queridos, rapeize.

Quem sambou, sambou. Quem não sambou, está na hora de sambar. Fevereiro foi meu primeiro mês de curadoria do projeto Cedo & Sentado lá no Studio SP e foi tudo sensacional. Vi pela primeira vez artistas incríveis como a Claudia Dorei e a Tulipa Ruiz; bons momentos com a trilha sonora cool do Blú Jazz Trio tocando Chet Baker; recorde de público no C&S com o show da Mallu Magalhães; novidades ótimas nos shows (criados especialmente para o projeto) de Lulina e Romulo Fróes; e ainda o Ensaio Aberto - que quem viu já percebeu que é demais e duvido que perca os próximos.

Agora, em março, mais um monte de gente legal topou essa idéia de fazer um showzinho cedo, no gostoso espaço superior do Studio, com direito a luz de velas e vista da Vila Madalena. Pra todos os gostos, formas e tamanhos. Lembrando, pra quem ainda não entendeu completamente: o Cedo & Sentado acontece no Studio SP, sempre antes do show principal, sempre PONTUALMENTE às 22h30, sempre com bandas muito legais, sempre naquele espaço de cima, com aquele janelão de vidro e cervejas e drinques servidos com muito amor. E, chegando pro Cedo & Sentado, você ainda pode ficar por lá e ver o show principal - dois shows pelo menor preço. Você pode checar a programação com regularidade (e conferir preços, endereço e quaisquer outras informações úteis) no http://www.studiosp.org.

Mas, pra ir animando, já adianto o que acontece de mais legal por lá:

Sexta, 7 de março
Alguém ainda não conhece a Tita Lima? Se você conhece, vale ver o showzinho lindo que ela está fazendo no Cedo & Sentado, semi-acústico. Se ainda não conhece, não há oportunidade melhor.
http://www.myspace.com/titalima

Sábados, 8 e 15 de março
Já veterana do Cedo & Sentado - não por mera coincidência! - a elogiada - não por coincidência! - Tiê faz dois shows pra gente, com ótimas participações de Thiago Pethit e Gabi Caraffa, neste sábado e no próximo. Eu vou nos dois. E você?
http://www.myspace.com/tiemusica

Terça, 11 de março
Projeto criado com Tatá Aeroplano, Léo Cavalcanti e Maurício Fleury, o Ensaio Aberto é dedicado à movimentação da nova música em São Paulo. Sempre com convidados, os três tocam versões diferentes de músicas de seus repertórios, canções novíssimas de cada um, abrem espaço para as novidades, ignoram as panelas, mostram possibilidades e provam que para se fazer e descobrir boas músicas novas é só manter os ouvidos e olhos abertos.

Quartas, 12, 19 e 26 de março
Continuando as Quartas Jazz do Cedo & Sentado, o sensacional Otis Trio faz uma temporada nervosa, com participações especiais. Modéstia à parte, um dos melhores espaços para sentar e assistir algo novo e interessante dentro do universo do jazz - sem caretice e sem clichês.
http://www.myspace.com/otistrio

Quinta, 13 de março
Falei mal deles uma vez na Folha e mordi a língua: Danilo Moraes e Ricardo Teté são dois garotos bem talentosos que exploram com personalidade todo o infinito universo da música brasileira. Não resisti e os convidei para tocar só pra poder ver o que eles andam fazendo. (Na mesma noite, depois, no palco principal, show da Andréia Dias - das melhores coisas sendo feitas em São Paulo hoje!)
http://www.myspace.com/danilotete

Sexta, 14 de março
Membro de bandas ótimas como Bagdá Vermouth e Julia Car, Pipo Pegoraro está prestes a lançar seu primeiro álbum solo - tenho a impressão que vamos todos ainda ouvir falar muito dele! Enquanto isso, é hora de ouvir seu interessantíssimo som aqui.
http://www.myspace.com/pipopegoraro

Terça, 18 de março
Samba, blues, funk, Mutantes, Tom Zé, Jimi Hendrix: tem espaço pra tudo, e com naturalidade, no som do trio Joana Flor e seus 2 Maridos. Música brasileira com pegada, para quem está interessado em ouvir o que se faz de novo por aí.
http://www.myspace.com/joanaflorseus2maridos

Quinta, 20 de março
Um dos dias mais imperdíveis do mês, com a música pop explodindo em criatividade de Dan Nakagawa, artista único, inclassificável, inteligente e divertido. Pode clicar aqui no MySpace dele e ouvir, que você não vai conseguir não ir no show.
http://www.myspace.com/dannakagawa

Sexta, 21 de março
Altamente recomendados por figuras de bom gosto, o trio Tokyo Bordello é outro nome de que ainda vamos ouvir falar muito, tenho certeza. Jazz com sensibilidade pop e bons ouvidos para sonoridades contemporâneas.
http://www.myspace.com/tokyobordello

Terça, 25 de março
Duo folk feminino que também me foi muito bem recomendado, o Comma impressiona pela riqueza em sua simplicidade. Violão, bateria, vocais em inglês e várias músicas com pinta de hit.
http://www.myspace.com/commabr

Quinta, 27 de março
Trompetista ponta-de-lança de algumas das melhores bandas de São Paulo, Guizado toca também seu fenomenal projeto solo, cruzando eletrônica, jazz, funk, dub e rock, acompanhado de alguns dos melhores músicos de São Paulo. (Nessa noite, lá embaixo, ainda tem depois show do Duani, estreando seu trabalho solo. Noite histórica à vista.)
http://www.myspace.com/guizado

Sábado, 29 de março
Fechando o mês em grande estilo, meu amigo Bruno Morais faz um show especial, para ir esquentando os tamborins para o lançamento de seu segundo disco - pelo que ando ouvindo dizer, um futuro clássico da música brasileira.
http://www.myspace.com/brunomorais

Então é isso, todo mundo sabendo de tudo. Recomendações, idéias, opiniões, é só escrever.

Beijos, abraços e até já.
Ronaldo.

http://vitrola.blogspot.com
http://www.myspace.com/ronaldoevangelista

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the original tabloid queen



Já viu a Lindsay Lohan recriando para a NY Mag o clássico último ensaio da Marilyn (atualmente em exposição em São Paulo), fotografada pelo mesmo Bert Stern?

Aqui.

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Por que deveria?



Depois de ler esse texto desavisado e ser discriminado pelos meus colegas de podcast durante a gravação do segundo Qualquer Coisa e hoje também pelo Palugan no Msn, saco esse texto-defesa que escrevi para a Folha quase dois anos atrás, sobre o Jack Johnson:

Mulheres são mais inteligentes que homens. A alma feminina é sempre a primeira a perceber a pura beleza das coisas sem precisar racionalizar demais sobre aquilo. É um fato: você sabe que pode confiar nos artistas que atraem grande público feminino - assim como deve desconfiar de artistas e estilos com público exclusivamente masculino. Fãs femininas garantem mais chances de sucesso e coerência artística e menos propensão a bobagens ególatras e sofismas emocionais.

Se você comprar essa teoria, Jack Johnson é artista com garantia de qualidade e selo de aprovação. Das mais de 20 mil pessoas presentes na apresentação do surfista havaiano que canta baixinho e toca violão, na última sexta, no Anhembi, mais da metade eram mulheres. A maioria apresentando a mesma configuração (jovens bronzeadas, com barriga à mostra, calça jeans justa, cabelos longos e brincos de argola), mas isso é tema para revista de comportamento.

De certa forma, o show, afinal, é meio chato. Por duas horas, ele toca seus hits, "Times Like These", "Good People", "Sitting Waiting Wishing", e a música segue sem grandes variações. Jack Johnson nunca sobe o tom de voz, a batida do violão varia pouco, o andamento das músicas é sempre mais ou menos o mesmo. Não há refrãos explosivos ou "atitude".

Mas a verdade é que isso é argumento válido apenas para as vítimas da síndrome pós-Nirvana de refrãos barulhentos e guitarras destruídas. Johnson faz música suave e não se envergonha disso. Por que deveria? Críticos musicais podem exigir atualidade, relevância e inovação. Jack Johnson está mais preocupado em fazer músicas boas que façam as pessoas se sentir bem.

No seu liqüidificador de groove relax, há espaço para soul, folk, reggae, cover de Led Zeppelin ("Whole Lotta Love") e White Stripes ("My Doorbell") e citação de Jorge Ben ("Mas que Nada"). Tudo acústico, sossegado, acompanhado por um trio de baixo fluido, bateria suave e detalhes tocados no piano, escaleta ou acordeão. Em um lugar pequeno, talvez as sutilezas funcionassem melhor. Mas há algo de fenomenal em um cara que consegue, sozinho com um violão, criar uma catarse coletiva em 20 mil pessoas.

Com seu som brando e fácil de gostar, talvez seja forçado (ou ainda cedo para) chamá-lo de grande artista. Mas ainda criticá-lo com os mesmos argumentos simplórios da época em que o John Lennon de "Imagine" era considerado poeta profundo e relevante e o Paul McCartney de "Silly Love Songs" bobinho e dispensável é ainda mais ingênuo do que as letras do próprio Jack Johnson.

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While I get my stuff done

Um detalhezinho diferente aqui e outro ali, uma descrição bastante aproximada dos meus dias:

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Pra lá de Teerã




Mais uma tarde de sábado, mais um encontro com Zé e Terron nos Estúdios With Lasers, mais uma gravação do Qualquer Coisa, nosso podcast. Dessa vez rolou até live audience. Entre os assuntos, teve Lost, Tim Maia Racional volume 3, o bife do Bonde do Rolê, música negra feita por brancos, Ivan Finotti & e o fim de uma era no Folhateen, o humor judeu nova-iorquino e várias outras coisas que não interessam a praticamente ninguém. Ainda deu tempo de tocar umas musiquinhas legais. Bom, quase todas legais.

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Costa e Silva

Domingão de sol, passeio no Minhocão: programa simpático que eu estava me prometendo há meses, mas só me dava cano.


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