OUTRAS COISAS
1 Comments Published by Ronaldo Evangelista on segunda-feira, 2 de agosto de 2010 at 5:57 PM.
O álbum Coisas, lançado em 1965 pela gravadora Forma, é a obra-prima de Moacir Santos. Mais: é obra-prima da música brasileira, do jazz, de sonoridades afro, de evoluções harmônicas, de sofisticações de arranjo, de beleza melódica e profundidade espiritual.
Com pouco mais de meia dúzia de álbuns lançados - se contarmos homenagens e tributos -, Moacir fez mesmo foi muito arranjo pra muita gente. De cantores de marchinhas a orquestras de baile, do que de mais moderno se fazia nos sambas-canções ao que de mais moderno se fazia na bossa nova, Moacir foi abençoando discos, músicas, instrumentistas, intérpretes.
Entre tudo que fez, um punhado de coisas já indicava a grandiosidade das Coisas e algumas outras continuaram no registro. Lembrando de passagens que ele me contou, ouvindo todos os discos com seu nome, caçando sua história, juntei dez faixas em ordem cronológica, pré e pós-Coisas, mas seguindo o espírito.
Play acima, baixe AQUI, faixa-a-faixa abaixo.
RAUL DE BARROS, Toselli no samba, 1950
Choro composto e arranjado por Moacir Santos, inspirado no compositor erudito italiano Enrico Toselli. Gravado em 1950 pelo trombonista Raul de Barros, em 78 rotações para a Odeon. A sofisticação do arranjo, a melodia com surdina, o naipe no contracanto, o solo de piano quase como um interlúdio já mostram quão avançadas eram as idéias de Moacir, desde sempre. Qualquer dúvida, só ouvir ao lado de qualquer disco de Duke Ellington de 1950.
HERBIE MANN e BADEN POWELL, Nanã, 1962
Levado por Baden, Moacir começou a freqüentar as reuniões de Bossa Nova, por exemplo no apartamento da Nara (aliás, sua aluna). Com seu clarinete a tiracolo, sua interpretação em duo com Baden de "Nanã" era dos momentos mais sublimes - Tom Jobim era um que costumava pedir bis atrás de bis. O mais próximo que chegamos de ouvir esse momento nunca registrado senão na memória dos presentes é com o Baden mandando ver em duo com Herbie Mann, gravado em fins de 62, quando o flautista veio checar a bossa in loco.
BADEN POWELL e JIMMY PRATT, Coisa Nº 1, 1962
No estúdio com Baden, que gravava seu disco com o baterista Jimmy Pratt, pra Elenco, Moacir teve que responder: qual o nome dessas músicas novas? São obras, são opus, são Coisas. A número um, depois imponente penúltima faixa do lado B do primeiro elepê do Moacir, aqui debuta em versão com o vocal não-creditado de Moacir (e Alaíde Costa) e balanço afro acentuado.
SÉRGIO MENDES & BOSSA RIO, Coisa Nº 2, 1964
Para o ambicioso disco de samba-jazz do sexteto Bossa Rio, de Sérgio Mendes, foram convocados para levar composições e criar arranjos os então e até hoje melhores dos melhores, Tom Jobim e Moacir Santos. Antecipando um dos melhores momentos do seu álbum na Forma no ano seguinte, a ultra-sofisticada e altamente jazzística Coisa dois.
EDISON MACHADO, Menino travesso, 1964
Em 1958 Vinicius levou Moacir para instrumentar e reger disco de Elizeth Cardoso cantando canções do poeta em parceria com Baden, Vadico, Moacir Santos. Duas delas recuperadas por Edison Machado quando foi gravar seu clássico samba-jazz "É Samba Novo", em 1964, Moacir junto para criar arranjos. Essa "Menino travesso", aqui em versão frevo-choro à Art Blakey do combo do Edison.
LUIZ CLAUDIO, Coisa Nº 10, 1966
Uma das melodias mais marcantes do Moacir, logo faixa dois no Coisas, aqui em versão cantada em scat por Luiz Claudio. A breve melodia do trompete que abre o original aqui é substituída pelo piano, e o groove do balanço orquestral aqui vem só com violão suingado, bateria marcada e piano econômico. Moacir ajuda a cantarolar a melodia só pra deixar mais bonito.
LUIS GASCA, Coisa Nº 2, 1969
Outra leitura da melodia mais sugestiva de Moacir, pelo trompetista de hard bop tex mex futurista Luis Gasca, de um disco acompanhado de Joe Henderson, Hubert Laws, Mongo Santamaria, Chuck Rainey, Bernard Purdie, Herbie Hancock. Tão ricas e particulares as melodias e harmonias do Moacir que, por mais abstrato o approach, suas composições se provam não só perenes como universais.
AIRTO, Jequié, 1972
Faixa bônus do disco de 72 do Airto, Free, com Chick Corea, Keith Jarrett, George Benson, Stanley Clarke, Ron Carter, Hubert Laws, Joe Farrell. Composição lançada na época do Coisas ou pouco depois (já no disco do Luiz Claudio), parente das coisas mas mais crua, quase barroca. Flauta inteligente, bateria viva, percussão original do Airto, piano nervoso: de gênios elevados a gênio elevados, tudo em casa.
HORACE SILVER, Kathy, 1972
"Horácio Silva", como o chamava Moacir, foi não só uma das maiores influências pra toda a turma do samba-jazz - Donato e Sérgio Mendes em especial, por exemplo -, foi O cara que fez a ponte entre Moacir e a Blue Note - que o assinou só pela indicação de Horace. No mesmo ano em que Moacir lançava seu primeiro disco pela Blue Note, The Maestro, Silver lançava das composições mais bonitas de Moacir, que ele próprio gravaria (cantando, com letra) em 1974. Horace Silver andava moderno e com todo um groove, aqui em quarteto com baixo elétrico e a melodia levada pelo vibrafone.
MOACIR SANTOS, Coisa Nº 6, 1968/1978
Três anos depois do Coisas, 68, Moacir revisitou a de número seis em gravação para o que seria seu primeiro disco americano - no fim lançada dez anos depois no quarto, Opus 3 No.1, pela gravadora Discovery. Só pra atualizar o balanço: de afro-Brasil pesado e rústico a um groove lapidado, tão elasticamente soul-jazz quanto melodicamente afro-cubano.
Com pouco mais de meia dúzia de álbuns lançados - se contarmos homenagens e tributos -, Moacir fez mesmo foi muito arranjo pra muita gente. De cantores de marchinhas a orquestras de baile, do que de mais moderno se fazia nos sambas-canções ao que de mais moderno se fazia na bossa nova, Moacir foi abençoando discos, músicas, instrumentistas, intérpretes.
Entre tudo que fez, um punhado de coisas já indicava a grandiosidade das Coisas e algumas outras continuaram no registro. Lembrando de passagens que ele me contou, ouvindo todos os discos com seu nome, caçando sua história, juntei dez faixas em ordem cronológica, pré e pós-Coisas, mas seguindo o espírito.
Play acima, baixe AQUI, faixa-a-faixa abaixo.
RAUL DE BARROS, Toselli no samba, 1950
Choro composto e arranjado por Moacir Santos, inspirado no compositor erudito italiano Enrico Toselli. Gravado em 1950 pelo trombonista Raul de Barros, em 78 rotações para a Odeon. A sofisticação do arranjo, a melodia com surdina, o naipe no contracanto, o solo de piano quase como um interlúdio já mostram quão avançadas eram as idéias de Moacir, desde sempre. Qualquer dúvida, só ouvir ao lado de qualquer disco de Duke Ellington de 1950.
HERBIE MANN e BADEN POWELL, Nanã, 1962
Levado por Baden, Moacir começou a freqüentar as reuniões de Bossa Nova, por exemplo no apartamento da Nara (aliás, sua aluna). Com seu clarinete a tiracolo, sua interpretação em duo com Baden de "Nanã" era dos momentos mais sublimes - Tom Jobim era um que costumava pedir bis atrás de bis. O mais próximo que chegamos de ouvir esse momento nunca registrado senão na memória dos presentes é com o Baden mandando ver em duo com Herbie Mann, gravado em fins de 62, quando o flautista veio checar a bossa in loco.
BADEN POWELL e JIMMY PRATT, Coisa Nº 1, 1962
No estúdio com Baden, que gravava seu disco com o baterista Jimmy Pratt, pra Elenco, Moacir teve que responder: qual o nome dessas músicas novas? São obras, são opus, são Coisas. A número um, depois imponente penúltima faixa do lado B do primeiro elepê do Moacir, aqui debuta em versão com o vocal não-creditado de Moacir (e Alaíde Costa) e balanço afro acentuado.
SÉRGIO MENDES & BOSSA RIO, Coisa Nº 2, 1964
Para o ambicioso disco de samba-jazz do sexteto Bossa Rio, de Sérgio Mendes, foram convocados para levar composições e criar arranjos os então e até hoje melhores dos melhores, Tom Jobim e Moacir Santos. Antecipando um dos melhores momentos do seu álbum na Forma no ano seguinte, a ultra-sofisticada e altamente jazzística Coisa dois.
EDISON MACHADO, Menino travesso, 1964
Em 1958 Vinicius levou Moacir para instrumentar e reger disco de Elizeth Cardoso cantando canções do poeta em parceria com Baden, Vadico, Moacir Santos. Duas delas recuperadas por Edison Machado quando foi gravar seu clássico samba-jazz "É Samba Novo", em 1964, Moacir junto para criar arranjos. Essa "Menino travesso", aqui em versão frevo-choro à Art Blakey do combo do Edison.
LUIZ CLAUDIO, Coisa Nº 10, 1966
Uma das melodias mais marcantes do Moacir, logo faixa dois no Coisas, aqui em versão cantada em scat por Luiz Claudio. A breve melodia do trompete que abre o original aqui é substituída pelo piano, e o groove do balanço orquestral aqui vem só com violão suingado, bateria marcada e piano econômico. Moacir ajuda a cantarolar a melodia só pra deixar mais bonito.
LUIS GASCA, Coisa Nº 2, 1969
Outra leitura da melodia mais sugestiva de Moacir, pelo trompetista de hard bop tex mex futurista Luis Gasca, de um disco acompanhado de Joe Henderson, Hubert Laws, Mongo Santamaria, Chuck Rainey, Bernard Purdie, Herbie Hancock. Tão ricas e particulares as melodias e harmonias do Moacir que, por mais abstrato o approach, suas composições se provam não só perenes como universais.
AIRTO, Jequié, 1972
Faixa bônus do disco de 72 do Airto, Free, com Chick Corea, Keith Jarrett, George Benson, Stanley Clarke, Ron Carter, Hubert Laws, Joe Farrell. Composição lançada na época do Coisas ou pouco depois (já no disco do Luiz Claudio), parente das coisas mas mais crua, quase barroca. Flauta inteligente, bateria viva, percussão original do Airto, piano nervoso: de gênios elevados a gênio elevados, tudo em casa.
HORACE SILVER, Kathy, 1972
"Horácio Silva", como o chamava Moacir, foi não só uma das maiores influências pra toda a turma do samba-jazz - Donato e Sérgio Mendes em especial, por exemplo -, foi O cara que fez a ponte entre Moacir e a Blue Note - que o assinou só pela indicação de Horace. No mesmo ano em que Moacir lançava seu primeiro disco pela Blue Note, The Maestro, Silver lançava das composições mais bonitas de Moacir, que ele próprio gravaria (cantando, com letra) em 1974. Horace Silver andava moderno e com todo um groove, aqui em quarteto com baixo elétrico e a melodia levada pelo vibrafone.
MOACIR SANTOS, Coisa Nº 6, 1968/1978
Três anos depois do Coisas, 68, Moacir revisitou a de número seis em gravação para o que seria seu primeiro disco americano - no fim lançada dez anos depois no quarto, Opus 3 No.1, pela gravadora Discovery. Só pra atualizar o balanço: de afro-Brasil pesado e rústico a um groove lapidado, tão elasticamente soul-jazz quanto melodicamente afro-cubano.
Marcadores: Airto Moreira, Baden Powell, dl, Edison Machado, Herbie Mann, Horace Silver, mixtapes, Moacir Santos, samba-jazz, Sergio Mendes, Você Ainda Não Ouviu Nada
Nem preciso dizer que to pirando com isso né?
Foda!
Good vibes!
Dani