RONALDOEVANGELISTA


Btls



Feliz véspera de natal com nossos amigos Paul, George, John e Ringo.

Mixtape especial só com versões estáile de Beatles. Tem o Ramsey Lewis desconstruindo Rocky Raccoon com o maior groove; a Syreeta no She's Leaving Home com ajudinha do então marido Stevie Wonder no clavinete e vocoder à Daft Punk; a Valerie Simpson indo do mais elegante ao mais funkeira com We Can Work It Out; o Ray Charles derramando o coração e arrasando Eleanor Rigby; a Nina Simone reescrevendo e reinventando Revolution (com o Weldon Irvine) e o Donny Hathaway fazendo a versão absoluta de Jealous Guy, em duas Lennon depois de quatro McCartney; a Rita Lee cantando o And I Love Him com doçura e malícia, com guitarrinha funk, paradinha chachacha e tudo; o Count Basie mandando ver no orgão e orquestra na sua Can't Buy Me Love; os sensacionais Sambeatles fazendo Girl (outra Lennon) no formato piano-baixo-bateria, mas com celeste; e a Peggy Lee latinando com Till There Was You - que nem é Beatles, mas eles gravaram muito massa.

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De repente, as coisas já não são as mesmas

Honrado, aceitei convite do Mini para fazer um post no Conector. Aproveitei a oportunidade e escrevi sobre a necessidade de nos apaixonarmos todos os dias - e como essa paixão nos move a criar.

Aqui ou abaixo:



Outro dia estava eu na casa de uma amiga e ela me mostra uma pilha de fanzines recém-entregues pelo carteiro. Todos geniais, mas um especial me fascina: folheio de capa a capa, folheio de novo e quinze minutos depois, quando o assunto já mudou, quero folheá-lo novamente. Depois de mais algum tempo inspirado por algo ali que não sei explicar, finalmente falo: vamos fazer um fanzine?

Entre o momento em que alguém resolveu fazer seu zine e esse mesmo zine passeou pelo mundo e chegou nas nossas mãos, algo aconteceu. Entre a tesoura e o photoshop, a gráfica e o correio, nasceu algo maior do que a soma das partes. Uma idéia virou resultado e a criatividade se transformou em uma mensagem que só depende de chegar ao alcance da pessoa certa para cumprir seu papel e inspirá-la.

Você está dizendo o que disse a Miranda July, notou minha amiga ao ouvir minha digressão. E me mostrou o vídeo acima (ali pelos 3:40): "I guess my favorite thing in the world is when I look at a piece of art or read a story or watch a movie where I walk away feeling like, 'Oh my God, I have to do something, I have to make something or talk to someone. Things are not the same anymore'."

E, veja só, mais do que comentar a arte, estamos falando de uma escolha de vida, onde a inspiração é uma busca diária. A visão ordinária não serve mais: pra quê o mesmo, se podemos ter diferente; pra que o médio, se podemos buscar o especial? Se você tem um blog e convida dez pessoas para postar nele na sua ausência, com a confiança de que não importa o que façam vão instigar a sua curiosidade, é porque é assim. Se você conhece o Mini e está lendo este blog, é porque também é assim.

E somos assim o tempo todo, viciados nas coisas grandes e pequenas que nos ajudam a notar o que antes não percebíamos e nos inspiram a ter idéias novas. Seja um fanzine estiloso, uma banda nova que te conquista, um blog cheio de coisas bonitas, um disco que não sai da vitrola, aquele vídeo surreal achado no YouTube ou o filme que entra sob sua pele. De repente, as coisas já não são as mesmas.

Nessa nova vida de jovens adultos que engole minha geração é fácil esquecer quais afinal são os pilares de nossas fundações. Amor, trabalho, grana, sucesso? Os mais loucos não largam a busca pela mágica de cada pequena coisa e a inspiração consciente de cada ato. A constante faísca de criatividade que nasce de ver, fazer e viver coisas bonitas.

Agora pense na web 2.0, no quanto a interatividade é essencial em nossos tempos, na importância da relação imediata entre qualquer post em blog, vídeo no YouTube, música no MySpace, publicidade viral, marketing de guerrilha e quem está consumindo cada coisa como batata frita de fast food. Em qualquer discussão sobre o futuro da mídia, qualquer mídia, uma verdade é desde sempre o ponto de partida: sobrevive quem conquista e mantém o público.

Como você já sabe, quando se trata de idéias hoje todo mundo é produtor e consumidor em tempo real. As idéias circulam nas internetes em velocidade warp e, mais, vivemos com a completa facilidade de criar nossos próprios canais de notícias, referências, influências, amizades, com readers de rss, Technorati, We heart it, last.fm, Pandora e tantos outros esquemas de que ninguém ainda ouviu falar.

O que não interessa você apaga do radar, o encontro casual vira assinatura de feed e quando você vê a casa está de pé: cada um com seu universo e todos se conectando. Impossível não encontrar a inspiração diária. Mas, dentro da avalanche de informações do novo mundo, você vai ter que gostar tanto daquilo que tem que fazer algo.

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too good to be true



Ninguém nem reparou, mas a Martina (lembra dela fazendo o Tricky querer morrer?) lançou há uns meses disco ótimo, produzido pelo Danger Mouse. Pop bonzão ali entre Lily Allen, Lykke Ly, Thalma de Freitas, Feist.

*

ferris wheels and cotton candy
folks try to stall as the kids get antsy
they sit there complaining there's nothing else to do

so we pick up our coats and go down to the fair
who knows what we'll find when we get there?
eyes will be streaming, faces split in two

carnies have come to town
if they stay will you hang around?
lately where have you gone?
I've been waiting for so long
when will you come back?

say what you want life's too good to be true
jump-start me after I'm thru the sun-roof
soon I'll be home but I don't know if you will too

carnies have come to town
if they stay will you hang around?
lately where have you gone?
I've been waiting for so long
when will you come back?

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Think Tank





Depois de tantas conversas aqui e ali com gente bem informada e opinada sobre os caminhos da música, resolvemos oficializar os tanques de pensamento: Mauricio Tagliari, André Bourgeois, Pena Schmidt, Juliano Polimeno e eu nos encontramos no Estúdio A da YB para conversar sobre discos, internet, gravadoras, distribuidoras, criatividade e os caminhos que a música faz do quarto do artista ao fone de ouvido de quem ouve.

Nosso primeiro encontro rendeu muitas boas idéias, algumas delas divididas nos três vídeos acima. Pode continuar desenvolvendo o raciocínio por aqui. Quem quiser participar assistindo ou comentando, pode escrever para o email ali em cima opinando à vontade. Não é todo dia e não cabe muita gente, mas todas as idéias legais entram na pauta.

Nossos heróis:

André Bourgeois tem grandes idéias e cuida de gente como Céu e Curumin nos States.

Juliano Polimeno está de olho em tudo e espalha com com naturalidade o som do Cérebro Eletrônico.

Mauricio Tagliari já foi artista e funcionário de majors e hoje toca a YB de forma artesanal.

Pena Schmidt já fez tudo e hoje vê e apoia gente de todos os tamanhos no Auditório Ibirapuera.

*

Se você está acompanhando o urgente desmoronar e reconstruir de todas as maneiras de fazer, gravar, distribuir e ouvir música, vai curtir ler alguns textos recentes comentando a situação:

Na Wired, David Byrne faz as contas e detalha as possibilidades:

What is called the music business today, however, is not the business of producing music. At some point it became the business of selling CDs in plastic cases, and that business will soon be over. But that's not bad news for music, and it's certainly not bad news for musicians. Indeed, with all the ways to reach an audience, there have never been more opportunities for artists.
There is no one single way of doing business these days. There are, in fact, six viable models by my count. That variety is good for artists; it gives them more ways to get paid and make a living. And it's good for audiences, too, who will have more — and more interesting — music to listen to.


Em seu blog, Chris Anderson vai adiantando as idéias do Grátis e manda dar a música pra vender o show:

Music as a digital product enjoys near-zero costs of production and distribution--classic abundance economics. When costs are near zero, you might as well make the price zero, too, something thousands of bands have figured out.
Meanwhile, the one thing that you can't digitize and distribute with full fidelity is a live show.


No New York Times, Jon Pareles nota que o hype de blog anda cheio de prestígio, mas sem dinheiro no bolso:

It's a great moment for musicians who want to be heard and a difficult one for musicians who need to be paid.
In the 21st century it’s more important to draw listeners to a Myspace or iTunes or Emusic page than to find a limited-edition vinyl manufacturer, as in the ’80s. But one thing hasn’t changed: the overwhelming majority of musicians are going to survive by performing.
The bands lugging their amplifiers around the Lower East Side and Williamsburg were envisioning not arena audiences and big royalty checks but the congratulations of a new fan ortwo and the chance to be mentioned on a music blog. Their music can now spread worldwide instantaneously, but in the meantime, they have to make it to the next club gig.


No seu blog, Pena Schimdt fala a real das pequenas e grandes gravadoras:

Reembaralhando, ficamos assim. Um agente, que cuida da agenda e dos negócios do artista. Uma gravadora, que cada vez mais se parece com um parceiro na elaboração do produto disco, seu portfolio tambem para gerar outras receitas. Um artista balançando entre quem trará dindim ou prestigio. A internet como novo campo onde se desenrola o jogo. O dinheiro onde sempre esteve, no bolso do público.

Via Guardian, o homem de finanças Guy Hands preside a EMI com umas idéias ousadas:

Speaking after a meeting with staff to announce his intention to slash a third of the workforce, he also signalled an end to huge artist advances, suggesting that some acts should instead be paid salaries or a day rate while they work on their material.
He also proposed confining some bands to single track downloads over the internet rather than trying to force whole albums out of one or two hit wonders.
"We have got 14,000 artists and we cannot possibly provide a service to that number of artists, we need to be selective about who we provide that service to," he said. "It goes back to the old housewives' adage 'if a job's worth doing it's worth doing well'. We cannot be all things to all people."


Na Carta Capital, Pedro Alexandre Sanches vê o Chico Buarque numa "indie" e fala com os donos da Biscoito Fino e da DeckDisc:

"A crise do mercado musical, para nós, foi uma oportunidade. Sempre, em todas as crises, em qualquer área, as empresas estabelecidas tendem a sofrer mais, porque têm um custo alto para se reestruturar. Há uma perplexidade, que é o bom momento de outros entrarem leves, pensando em como se estabelecer num cenário de mudança", afirma [Kati Almeida Braga].
Volta João Augusto, da Deckdisc: "Totalmente bancadas por grupos financeiros, gravadoras como a Biscoito Fino, Trama e Indie não podem ser chamadas de independentes. Esse tema é sempre uma boa pauta para a imprensa, mas deveria ser aprofundado. Só assim uma contratação como a de Chico deixaria de ser apontada como uma pancada das 'indies' nas 'múltis' (se eu dirigisse uma multinacional, iria rir muito disso), para ser aceita como mais uma simples vitória do poder econômico".


Paul McCartney comenta sua saída da EMI:

"I think the majors at the moment, I'm not dissing them, but I don't think they really know what's going on," he said. "With the download culture, they are floundering a little bit."
He added: "I think I was right at that time because right after that EMI got sold, so I would have been in the middle of a sale situation.
"The other thing is, they've got so many people on their books -- like it or not, you're just one of them. It's not a great situation; you like to feel like you're among friends, so that was why I ended up going independent. And this time it's kind of even more indie."


Chris Martin não saiu, mas também opina:

"Being on a major label at the moment is like living in your grandparents' house. Everyone knows they need to move out, and they will eventually, but we kind of like our grandmother."

O Pareles calcula os lucros do álbum Ghosts I-IV, do NIN:

He released the album in March, making it available in multiple formats, from a bargain downloadable version for $5 to standard CDs and LPs to a luxury $300 limited-edition boxed set of CDs, vinyl, DVDs and artwork. (The 2,500 copies of that set sold out immediately, for a quick gross of $750,000, and now fetch $500 on eBay.)

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the c n b scene



Saca esse cenário, esse som, essa música, esses improvisos, essas camadas de violino e me responde: tem show que tem mais que rolar por aqui? O Andrew Bird, sozinho no palco, é músico por uma orquestra de gênios.

Sei de pelo menos umas três pessoas interessadas e sondando, mas nada que pareça que vá rolar já. E olha que esse show é azarão, depois sucesso total. Você, por exemplo, eu aposto que ia. Não ia?

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Jovem Urgente, 1969

Em 1969 havia na TV Cultura um programa chamado Jovem, Urgente, dirigido por Walter George Durst e apresentado pelo professor e psiquiatra Paulo Gaudêncio. Ele ficava sentado em uma cadeira giratória, com uma lousa na mão, falando e conversando com um grupo de jovens em um cenário não muito diferente de um auditório universitário. Um dia, levou ao programa um bando de jovens artistas dos mais malucões pra falar "aquilo que os jovens musicalmente estão dizendo e os adultos não ouvem": os Novos Baianos, os Mutantes e Tom Zé.



A imagem acima (ou parte dela) está no no filme Lóki. O resto, é brincar de quebra-cabeça no YouTube. Acerta o volume da TV transistorizada em branco e preto e bom programa.



Os Novos Baianos cantam "Dona Nita e Dona Helena", música feita pra mãe da gente


Os Mutantes seguem à risco o figurino de banda sixties psicodélica e mandam "Fuga N°2"


Moraes novinho paga de Lou Reed baiano e Baby canta "Curto de Véu e Grinalda" com os Novos Baianos


Tom Zé, de lenço no pescoço, protege a família brasileira cantando "No Tempo da Nossa Vovó"


Arnaldo no órgão, Rita nas maracas e os Mutantes cantando "Quem tem medo de brincar de amor?"


Tom zé canta "A Gravata", mas antes explica que um camarada (um cidadão!), pra viver mais ou menos bem numa grande cidade, precisa inicialmente de três coisas: gravatas, documentos e neuroses


Os Mutantes soltam o rock e cantam "Preciso urgentemente encontrar um amigo" (canção-presente de Erasmo, aliás)


Tom Zé começa cantando e termina "São São Paulo" em spoken word


Paulo Gaudêncio fala das mentiras do mundo moderno e explica que ninguém agüenta ser massa, imediatamente antes de Tom Zé cantar "A Gravata"

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Ah, meu deus do céu, vá ser sério assim no inferno



Domingo, sete da noite, auditório Ibirapuera, show do Tom Zé. Ele está cantando "Brigitte Bardot", música sua de 1973, do incrível álbum Todos os Olhos. A Brigitte Bardot está ficando velha. Será que algum rapaz de vinte anos vai telefonar na hora exata em que ela estiver com vontade de se suicidar? Quem conhece se diverte, quem não conhece simplesmente sente o susto planejado por Tom Zé: de repente a banda toda, que desde o começo da música se continha em sussurros, se transfere do piano ao mezzo forte, transliterando ao som a intensidade da tendência suicida da Bardot de Zé.

Quando a gente era pequeno pensava que quando crescesse ia ser namorado da Brigitte Bardot, continua a música. Mas a Brigitte Bardot está ficando velha, e de susto não morre mais: na repetição, onde antes havia o som abrupto, aqui há o fim tranqüilo. Tom Zé percebe o efeito do anticlímax: "Ah, vocês acharam que ia ser igual de novo? Aí não ia ter graça; a arte tem que surpreender."

Ironicamente, o mise en scène que gerou todo o imbroglio virtual começou com Tom Zé ironizando a onipresença de Caetano. "Você vai me entrevistar amanhã", começou ele ao microfone, ao comentar a presença de Pedro Alexandre Sanches na audiência. "Se for pra perguntar de Caetano, nem vá." Todo mundo riu e quase ficou por isso mesmo. Mas papo vai, papo vem, foi.

Caetano, todos sacam, é condescendente com todos e em especial com Tom Zé. Tom Zé, todos sacam, tem um certo orgulho ferido pelo carão de 30 anos do Caetano. Mas, convenhamos, ninguém tem culpa do ostracismo de ninguém. Cá de meu lado, acho Tom Zé um artista muito mais interessante quando totalmente independente de todo o Tropicalismo (salvo Duprat). Seus melhores discos soam tropicalistas apenas na medida em que Tom Zé é tropicalista avant la lettre: as fusões e experimentações e ironias e senso pop de manchete de jornal são naturais a ele e por ele foram emprestadas ao movimento.

Uma vez, conversando com Tom Zé justamente sobre uma "exclusão" sua do grupo tropicalista de elite, ele me dise: "minha obrigação é gostar e minha melhor estratégia é amar." Desde sempre essencialmente um inventor, Tom Zé se justifica na sua criatividade, não em qualquer carteira de associado de clube de ex-tropicalistas ou compositores malditos ou ídolos cult de descolados gringos. Daí, às vezes temo ele cair na armadilha de abusar do ostracismo, de um antagonismo com Caetano, de tanta excentricidade ou qualquer de suas criações tão interessantes como matéria-prima. Porque, afinal, a arte tem que surpreender.

Em pleno 1973, Tom Zé surpreendia quem ouvia "Complexo de Épico", música que abre e fecha Todos os Olhos. Sobre uma base gravada, recortada e colada - um loop analógico, portanto -, ele canta (bem, "canta"):

Todo compositor brasileiro é um complexado

Porque então essa mania danada
Essa preocupação de falar tão sério
De parecer tão sério
De ser tão sério
De se sorrir tão sério
De se chorar tão sério
De brincar tão sério
De amar tão sério?

Ah, meu Deus do céu
Vá ser sério assim no inferno

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O design de Cesar Villela



Em setembro de 2004 fui convidado pelo amigo Farinha para fazer a curadoria da exposição O Design de Cesar Villela, no Sesc Vila Mariana, dentro da programação do Resfest daquele ano.

Conseqüência de um site que fiz na raça na minha juventude pra botar na roda uma discografia que havia levantado da gravadora Elenco - tão famosa por lançar os discos de estréia de Tom Jobim, Nara Leão e afins quanto pelo estiloso projeto visual criado por Cesar para o selo.

Com a generosa ajuda de amigos como Dui, Souza, seu Luiz, Daniel e Clá (lista completa, com todo o agradecimento do meu coração, aqui), reuni 96 capas (das mais de mil) feitas por Cesar entre os anos 50 e 70, para várias gravadoras: 24 da Elenco, 45 da Odeon, cinco da Imperial, três da Evento, duas da Quartin e duas da Drink, entre outras.

Abaixo, fotos da exposição, com a sensacional cenografia do Pier Balestrieri - note o tapete e postes vermelhos e os acrílicos com os discos.









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Eisner/Miller



Will Eisner era um gênio do olhar fotográfico. Suas luzes, seus ângulos, seus recortes são até hoje o auge da sofisticação visual dos quadrinhos como mídia e arte. Mais que isso: cada painel que Eisner deixava de desenhar para em seu lugar levantar um prédio, mostrar um poste de luz, detalhar uma mesa, enquadrar uma vitrine dava tanto movimento a cada cena que há mais de 60 anos seu estilo é chamado de cinematográfico. Daí, muito justo um cara como Frank Miller (que tão claramente tem os cenários urbanos de Eisner como inspiração para sua cultuada série Sin City) mergulhar no universo de Eisner e sua principal criação, o Spirit, para uma adaptação pro cinema.

Adaptando o roteiro e dirigindo o filme, usando um alardeado método de filmagem que trará os próprios cenários de Eisner (ou quase isso) para o fundo da ação, colocando seus dois centavos no imaginário do personagem, Miller parece ideal para dirigir o filme. Exceto que, pelo menos sob um aspecto, não é. Roteirista azeitado com os truques do storytelling, desenhista ousado, figura com boa dose de iconoclastia, Miller tem boas qualidades como artista. Mas lhe falta uma essencial: a sutileza.



O clima de pop arte noir do Spirit, tão denso quanto lúdico, sempre foi um dos grandes atrativos de sua obra e uma das maiores influências que exerceu no formato. Na década de 40, nos jornais, heróis vivendo aventuras rápidas e mirabolantes como o Spirit não eram raridade. Mas Eisner subiu o nível da conversa, e não só por seu traço apurado.

Depois de algum tempo seguindo tramas aventurescas charmosas em sua inocência e impressionantes em sua técnica criativa, Spirit deu um passo além: começou a contar histórias subvertendo narrativas e expectativas, esmiuçando detalhes fantásticos de pequenas vidas infelizes e normais. Vieram "Rudy The Barber", "Ten Minutes", "Gerhard Shnobble", todas recortes de pequenas grandes vidas da cidade, em que Spirit não é mais que um figurante. São histórias sobre "pessoas que vivem suas vidas, fazem grandes coisas, vivem momentos de glória que ninguém vê", já disse o próprio Eisner.



Daí, vejo o trailer do Spirit de Frank Miller, cheio de personagens com cara de mau segurando armas enormes, mulheres gostosas fazendo biquinho, estética plástica de estilo cartunesco, efeitos especiais beirando a animação e pergunto: cadê a sutileza dos roteiros, a doçura dos personagens, a sensibilidade das histórias, tudo aquilo que torna Spirit especial, mais do que legal?

Sem isso, a adaptação cinematográfica vira puro fetiche de entretenimento - como entrar numa loja de quadrinhos e comprar um boneco para fazer companhia ao computador em cima da mesa. Massa demais, mas pouco para uma obra tão grande como o Spirit.

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microcosmic minutiae



Rick has a lot of pull in the music business for reasons I don't completely understand. He's a really lazy person — he likes to be able to walk right in. He doesn't like to be confronted, he doesn't want to go to will call — he just wants to go to the side of the stage, see one song and then we would leave. Even when we went to Coachella, we would get a private plane and fly in to see one band. So I spent all this time watching bands from the side of the stage. And when you see bands like that, you can see something transparent in them. You can see the part of them that's sincere and the part that's not sincere. You see the part of them that's really connected with one another and the part that's just a put-on. From the audience's point of view, you can be fooled, but from the side of the stage, you can see how ridiculous it is to play your same song the same way, night after night after night. And the only thing that the band gets off on is this microcosmic minutiae that they've decided is the difference between a great show and a shitty show.

Vincent Gallo, contando as técnicas secretas de avaliação de artistas do Rick Rubin.

(Foto massa do Jeneci, com Régis e Curumin, pelo Eugênio.)

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