RONALDOEVANGELISTA


Xenolatria

Achava que depois de Cansei e Bonde a gente tinha aprendido a não fazer previsões sobre onde esses hypes podem chegar. Não será nada estranho para mim se daqui três meses Mallu estiver na capa da NME. Óbvio que ela pode não chegar a lugar nenhum também. Isso nem está me interessando no momento.

Qual o problema em "não ter nada de brasileira"?, pergunta o Ruy. Bem, não é que exista um problema nisso. O que não me agrada muito é gente enxergando grande mérito em algo justamente por não ter nada de brasileiro. Tá cheio de nego (inclusive críticos que todo mundo aqui conhece) odiando essa onda de novas cantoras contaminadas pelo samba. Espero que a Mallu não seja vendida como uma resposta às minas sambistas.

Esse lance de localizar a brasilidade é complicado. Mas tenho certeza de que aos 15 anos a Marisa Monte, por exemplo, não estava tocando cover do Johnny Cash. Há toda uma linhagem de cantoras brasileiras que não merece ser... hmmm... confrontada só porque pintou uma indiezinha catequizada pelo folk americano. O deslumbre com a Mallu pode esconder uma certa vergonha de coisas mais "daqui". No mínimo um desinteresse. Não tô dizendo que isso acomete todo mundo que gostou da guria. Só apontando que quem achou a Mallu o máximo possivelmente não conheça - nem queira conhecer - outras cantoras brasileiras.

E só explicando que a menina em si não tem nada a ver com o que eu questionei. Li uma entrevista em que ela cita outras referências brasileiras além do Vanguart - e diz que tem várias músicas em português.

Agora, me respondam na sincera: se em vez de Johnny Cash ela aparecesse cantando Faz Parte do Meu Show, do seu ídolo Cazuza (outro que cresceu com cinebiografia), ou Leãozinho (música que a fez começar a tocar violão) e colocasse no seu Myspace suas bossinhas em português, haveria essa celeuma toda?

Bem, o que me deprime é esse misto de babação com a seca que passamos no Brasil tanto de grandes talentos indies quanto de boas pautas musicais. A Mallu não tem nada a ver com isso. No mínimo, vai ganhar um monte de amigos jornalistas velhos. E conhecer o Brasil com ajuda da Abrafin e da Petrobrás.

E ela ainda pode dar um golpe nos indies-talibãs. Se aos rebeldes 15 anos ela cita Tropicália, Caetano e os parangolés do Oiticica, daqui a pouco pode fundar sua própria Orquestra Imperial.

Se os indies oprimidos daqui precisam de uma voz, que não seja a de um pessoa aparentemente muito talentosa como a Mallu Magalhães.


Zeflas falando da Mallu, na infame comuna da Bizz.

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Lucy in the Sky



Não estávamos acreditando no que estávamos ouvindo e resolvemos tirar a prova pessoalmente: domingão último fomos eu, Dani, Bruna e Eugênio até o estúdio em Perdizes onde ensaia e grava a bacana e talentosa Mallu Magalhães e lá passamos algumas horas entre papos e ensaio. O resto da história você lê aqui. (E vê, um pouco, aqui.)

No mesmo assunto, Lúcio, hoje, na capa da Ilustrada.

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When the world has dealt its cards...

Whatever I do I just let it come out. However I’m feeling, I was just talking about this, you let the feeling bleed through you and come out and let it be what it’s going to be, no matter what the song is about or the accent you put in it or whatever it is. Just let it come out. The melodic part - that’s just something that I understood that there’s something that has to be catchy in the song for people to hone into what you’re talking about. That’s kind of the hook, it hooks you into it, then I just have to pull you in. Then when you start to realize the words lyrically and have content.

The Dream, autor de "Umbrella", ensinando a fazer hit, aqui.

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O que você fez por mim ultimamente?



Já viu a Sharon Jones em ação? Aqui dá pra ver a melhor voz contemporânea do soul cantando com os Dap-Kings no estúdio, mês passado, sacado do incrível acervo do programa Morning Becomes Eclectic, da KCRW. A aparicão na rádio foi para promover o disco novo deles, 100 Days, 100 Nights, que saiu em outubro. Precisa dizer que é bom? Obrigado, James Brown.

E só um parêntese: será coincidência que o músico mais impressionante da banda é o único negão?

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A cultura e a civilização, elas que se danem, ou não



A Dusty Groove, das melhores lojas de disco do mundo e o melhor lugar na internet pra se comprar vinis de soul, funk, jazz, reggae, música brasileira, experimentalismos e improbabilidades afins, resolveu virar um selo de reedições. Entre os primeiros lançamentos estão um Axelrod, um Melvin Jackson, uma Dorothy Ashby e dois discos brasileiros: o Força Bruta, do Ben com o Trio Mocotó (de 1970), e o segundo solo da Gal, totalmente psicodélico, com o Lanny na guitarra (de 1969, sai lá em abril). Dois discos absolutamente maravilhosos e essenciais. Considerando que no Brasil a última edição em CD do Força Bruta foi em 1993 e o da Gal não é dos mais fáceis de se achar, fico feliz ao saber que alguém em Chicago está cuidando disso.

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Um gato lá no morro não é tão caro assim

E aí, já está preparado pra avalanche de discos-tributo ao Noel Rosa que estão por vir?

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A ironia de Machado

É algo maior, que não se trata apenas de um jogo de palavras, de uma troca inteligente de colocações em um diálogo, por exemplo. A ironia de Machado está na atmosfera na qual seus personagens e o próprio autor se movem. Quando ele é extremamente ofensivo, sabe que está sendo extremamente ofensivo, e gosta disso. Trata-se de uma marca especial de seu trabalho. Nós podemos sentir, enquanto estamos lendo, que Machado está se divertindo muito enquanto escreve.

Harold Bloom, ontem, no Mais!.

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Ela e ele



Lembra da Zooey Deschanel? Atriz, gatinha, gigantes olhos azuis, fez a irmã do Billy no "Quase Famosos". Pois é, ela também compõe, canta e toca de vez em quando, brincando de gravar tudo no computador. Aí outro dia, fazendo o filme The Go-Getter, ela conheceu o Matt Ward, que fazia a trilha, e ele quis ouvir essas brincadeiras. Long story short, os dois resolveram fazer um disco juntos: She and Him, Volume One, que sai em março, pela Merge. O M. Ward tem voz de radinho de pilha e é dos mais legais do tal alt country - em 2007 ele inclusive saiu em turnê com a Norah Jones, nada mal. A Zooey é uma graça e canta fofinho. Juntos, os dois fazem um folk simpático:

Sentimental Heart
Why do you let me stay here?

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come and conquer and drop your bombs



you're the storm that i've been needing
and all this peace has been deceiving
i like the sweet life and the silence
but it's the storm that i believe in

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Livros que te deixam burro


-Você tem opiniãou ou só faz cara de quem tem opinião?

O Alquimista: livro de gente inteligente.

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Whaam!



Já viu os originais que inspiraram o Lichtenstein? Aqui e aqui.

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Acme



Saiu em dezembro o volume 18 da série ACME Novelty Library, do Chris Ware, um dos maiores gênios de quadrinhos "sérios" (e um dos mais fantásticos ilustradores, em qualquer formato) dos últimos tempos.

O livro traz as Building Stories, série que ele começou em 2005, em um volume anterior da ACME e nas Funny Pages da revista do New York Times (que agora segue com a longa história em capítulos "Mister Wonderful", de Daniel Clowes). Coisa fina.

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Se liga no DJ então aumenta o som

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Hora boa é sempre hora de voltar



Mais um da turma do Rio: Alvinho Lancellotti, irmão do Domenico e membro do Fino Coletivo. O disco dele, "Mar Aberto", já saiu, dentro do projeto Abacateiro, produzido pelo Domenico e gravado ao vivo com Dadi, Domenico e o outro Alvinho, Cabral, colega do Fino Coletivo.

Escreve Domenico:

Quando Pierre Aderne me telefonou tentando explicar sua idéia de selo-cooperativa, criando a (até então improvável) possibilidade de gravar um disco, lançá-lo e distribuí-lo pelo Brasil sem nenhum capital inicial, envolvendo todos os profissionais - desde músicos, capistas, advogados, assessores de imprensa - numa parceria, isso me trouxe um entusiasmo e uma alegria. Na mesma hora pensei no Alvinho, suas muitas músicas inéditas, feitas com as pessoas do Fino Coletivo - sua banda, comigo, com Roque Ferreira, com nosso pai, sambas de roda, sambas, funks, afoxés etc... Pensava como seria bom gravá-las com uma formação de 2 percussionistas de terreiro, congas, atabaques e cincerros tocados por Zero Telles e Stephane San Juan, Sir Dadi no baixo e Alvinho Cabral (também integrante do Fino Coletivo) no violão eletroacústico, além de mim na MPC-1000.

Vou te jogar no oceano.

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Ecos Falsos: Lição de Perseverança

Outro dia, conversando com o Gustavo, ele me contou que estava prestes a escrever o que seria provavelmente o último texto da história da cultuada revista Bizz, já que seria o último texto do site da revista - que já não existe mais. Comentamos que tinha que ser algo apoteótico e, por que não?, meio ridículo, pra zombar de leve todo mundo que estuda analiticamente cada desenrolar da novela que é a história da revista. De repente, dentre as muitas piadas de auto-promoção do Ecos Falsos, veio a idéia: uma auto-entrevista bem picareta e absurda, pra homenagear os anos em que a redação era infestada por músicos frustrados. Ou bem realizados mas mal remunerados. Encorajei a prolixidade e a egolatria desmedida até o fim e ri bastante do resultado. No final, ainda fiz uma pergunta bônus e o Terron, com seu otimismo peculiar, fez outra, fechando com chave de ouro os choramingos: "Por que vocês não desistem?".

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Please don't make my feel good go away



Duas semanas atrás, assim como quem não quer nada, a Warp postou no YouTube o Jamie Lidell tocando com a banda, ao vivo, "Little Bit of Feel Good", música do disco novo dele, "Jim", que sai oficialmente no fim de abril.

Tenho a impressão que, depois do susto que foi a boa recepção do álbum anterior, e em especial da música "Multiply", ele percebeu que podia seguir aquela onda a sério e pode ter feito um dos grandes álbuns da década. (E, se não fez, já tem no currículo o clássico da nossa era I'm-so-tired-of-repeating-myself "Muliply".)

Onde antes havia Otis Redding agora surge Stevie Wonder. Onde havia souls semi-eletrônicos agora aflora o funk setentista. Tudo pelo filtro da eletrônica idm cristalina e com lições aprendidas em Lenny Kravitz, Beck Midnite Vultures, Jamiroquai, Money Mark. Impressionei.

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Tchubarubing



Já tá todo mundo sabendo da Mallu, né?

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Superdrag



Domingão teve festa estáile no LoveStory, centrão, com discotecagem dos CSS e fotografagem do CobraSnake. Melhor momento foi acompanhar com o Terron o jogo de paciência no computador de um dos técnicos da luz com um copo de jack&fake-cola na mão. Discotecagem teve Spice Girls e figurinos abundaram de cores fluorescentes, galera animada dançou até doer o pé. Eu, acabei aparecendo numa foto por acidente - isso que dá ser amigo e ficar atrás de gente famosa:

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Silêncio

Adoro música mas às vezes sinto que a presença dela se tornou maciça demais nos dias de hoje. Ouve-se música na rua, no táxi, no elevador, no avião, na academia, no escritório, no ateliê, na loja, na praia, em casa etc. Os médicos, os psiquiatras recomendam música o tempo inteiro. Prefere-se música vulgar à ausência de música. Recomenda-se que as mães grávidas ouçam música. Isso tudo é uma estupidez. Música não é uma coisa neutra, que combine com todos os conteúdos. Música é essencialmente ritmo, que divide o tempo de determinada maneira. Como dizia Sêneca, tudo é alheio, só o tempo é nosso. Kant considerava o tempo como a forma do sentido interno. Por que seria sempre bom alienarmos incessantemente o que nos é mais íntimo? Por que não podemos ser capazes de apreciar os sons aleatórios e soltos que nos são brindados por aquilo que chamamos de "silêncio"? Por que não podemos prestar atenção à maravilhosa anti-música - que no entanto pode ser música em certo sentido - dos nossos próprios pensamentos?

*

Antonio Cícero, daqui.

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De ressaca, mas ainda vivo...

Fila na porta, pista lotada, amigos aos montes, boa música e diversão até seis da manhã. Quem foi quase morreu de tanto se divertir. Quem não foi, agora só esperando a próxima.

E os DJs felizes?

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Super Duper DJs



GRANDE FESTA DE REABERTURA E UM ANO DE ASTRONETE
Pra comemorar a volta da casa mais comentada e bem freqüentada de São Paulo em 2007, o Astronete promove hoje, quarta, 16 (quase exatamente um ano depois de sua estréia), uma grande festa de arromba, de graça e com os melhores DJs do mundo para seu deleite. No som, só celebridades: Carlos Farinha, Pacolli, Dani Arrais, Maurício F. e Ronaldo Evangelista. Todo mundo tocando suas músicas favoritas, sem regras e com muita diversão. Pra completar, ainda, no telão, exibição do filme Mondo Trasho (1969), do rei John Waters. E já comentamos que a entrada é free? Não tem desculpa pra não ir.

Festa de Reabertura do Astronete

Quarta-feira, dia 16 de Janeiro de 2008. 22h.
DJs: Farinha, Pacolli, Dani Arrais, Mauricio F. e Evan.
Rua Matias Aires 183B. Fone: 11/ 3151 4568.
De graça!

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Redrum

Artur e Róger na festa de despedida da Angélica, semana passada.

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Obrigado

Adoro reencontrar velhos amigos. Outro dia, na casa do Maurício, me peguei sem conseguir parar de ler o Últimos Dias de Paupéria, do Torquato, que não lia há tempos:

agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto pode ser o fim
do seu início
agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em minha orla
os pássaros de sempre cantam assim
do precipício:

a guerra acabou
quem perdeu agradeça
a quem ganhou.
não se fala. não é permitido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos
está vetado qualquer movimento
do corpo ou onde quer que alhures.
toda a palavra envolve o precipício
e os literatos foram todos para o hospício
e não se sabe nunca mais do mim. agora o nunca.
agora não se fala nada, sim. fim. a guerra
acabou
e quem perdeu agradeça a quem ganhou.

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Preciso urgentemente encontrar um amigo

Vontade de jogar War. E nem precisa ser esse.

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Se não güenta, por que veio?

Idéia para o primeiro reality show existencialista da história:

Durante duas semanas, uma equipe de filmagem deve seguir 24/7 uma pessoa que tem como única intenção, funcionalidade e obrigação se divertir - o máximo possível, pelo máximo de tempo possível. Daí, registram-se as escolhas de felicidade da pessoa e suas conseqüências. Ela é totalmente livre para fazer o que quiser (desde que sozinha e distante da sua vida cotidiana): se quer dormir o dia inteiro, se quer fazer compras, se quer ir à praia, se quer praticar esportes radicais, se quer farrear na balada toda noite, se quer se hospedar num hotel luxo e contratar dançarinas, a produção arranja. Do momento em que acorda até a hora em que vai dormir, a pessoa terá uma equipe à sua disposição, atendendo todos os seus desejos, sem folga e sem responsabilidades. (Liberdade e responsabilidade são os conceitos-cabeção-chave por trás do programa.)

A intenção é ver o quanto de hedonismo non-stop uma pessoa agüenta antes de começar a enlouquecer. O nome pode ser algo como "Quanta felicidade você agüenta?", como um desafio aos competidores, os os encorajando a ir mais e mais atrás da satisfação imediata. Algo como um "Dia de Princesa" gone bad. A graça, é claro, vem da melancolia inevitável que os incríveis montadores vão mostrar tão bem na edição final. Imagina a ressaca de felicidade lá pelo quarto ou quinto dia, a vontade de voltar à rotina, a saudade da placidez da vida cotidiana, a falta da falta de liberdade - ou a consagração dos natural-born-rockstars, que vão se sentir à vontade e pedir mais, com o público vibrando com as escolhas fúteis mas plenamente satisfatórias de quem vence a busca pela felicidade.

Imagina a edição final, mostrando a evolução (ou desevolução) da felicidade - dia 1, dia 2, dia 3 etc. E aí os blocos temáticos: "Totalmente Livre", quando a pessoa está fazendo suas escolhas; "Responsabilidades", quando a pessoa vê que algumas expectativas não foram cumpridas como se esperava; "Ansiedade", nos momentos em que a pessoa está bêbada de euforia com seus desejos todos atendidos; "Pra onde vai a felicidade?", nos dias que a pessoa acorda e lembra onde está e já olha pra câmera com aquela cara de "Chega!" e assim por diante.

Música-tema do programa: "A Felicidade". Toca-se a intro com imagens dos participantes farreando loucamente e rindo sem parar, aí entra o vocal cantando "tristeza não tem fim, felicidade sim..." e a música fica soando com imagens dos participantes naqueles momentos com os olhos cheios de melancolia e ressaca.

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Conexão Perdiza

Manhã com o Tom, começo da tarde com o Du. Ainda rolou um Massari no café.

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Tempo a gente tem quanto a gente dá

João Gilberto gravou o 78 rotações com "Chega de Saudade" e "Bim Bom" exatamente um mês depois de completar 27 anos. Paul McCartney estava a dois meses de completar seus 28 quando lançou seu primeiro disco solo. Torquato Neto se matou um dia depois do seu aniversário de 28. Reinaldo Moraes tinha 30 (ou quase) quando terminou o "Tanto Faz".

Ando preocupado com o tempo. Completo 28 em três meses e oito dias.

Necessito urgentemente de saber nesta idade que eu tenho quanto mais que vou sofrer, cantava em 1972 o Tim Maia - que gravou seu primeiro disco no mesmo ano em que completou 28.

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Carlinhos & Áli

Ontem foi o primeiro dia de 2008, finalmente o ano começou. Passei em boa companhia.



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Anedonia

Tentei imaginar um futuro: um período da vida estava chegando brutalmente ao fim, e eu não tinha nada com que substituí-lo, apenas uma terrível ausência. Eu tinha inveja das certezas dos outros, da segurança de vidas fixas e planos. O que a vida significaria de agora em diante? Embora continuássemos segurando um a mão do outro, eu sabia que iríamos ver nossos corpos se tornarem estranhos. Paredes seriam construídas, a separação seria institucionalizada, eu a encontraria em alguns meses ou anos, estaríamos mais leves, joviais, mascarados, vestidos para trabalho, pedindo uma salada num restaurante - incapazes de tocar o que só agora podíamos revelar, o puro drama humano, a nudez, a dependência, a perda inalterável. Seríamos como uma platéia saindo de uma peça lacrimejante mas todos incapazes de comunicar qualquer uma das emoções que haviam sentido no íntimo, capazes somente de se dirigir para um bar, sabendo que havia mais, mas incapazes de tocar nisso. Embora fosse uma agonia, eu preferia esse momento aos que viriam, as horas passadas sozinho revivendo isso, culpando a mim mesmo e a ela, tentando construir um futuro, uma história alternativa, como um dramaturgo confuso que não sabe o que fazer com seus personagens (a não ser matá-los para um final mais redondo...).

Do Ensaios de Amor, do Alain de Botton.

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Itens para o lar



Quer beber no escuro? Quer ligar seu iPod num boombox roots? Quer uma xícara de chá e café que dê a medida exata do leite? Quer fazer uma mixtape estáile, em usb, com capinha de cassete? Tudo aqui.

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Cantar como canta um black


O rock, antes e depois.

And what I really wanted to hear was a bit of swing, some empty space and palpable bass frequencies — in other words, attributes of African-American popular music.

Pop music is no longer made of just a few musical traditions; it’s a profusion of strands, most of which don’t intersect, except, perhaps, when listeners click “shuffle” on their iPods.

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Sem vocês eu vivo, outras mulheres, mas sem ela não posso viver

Uns meses atrás o pessoal do Gafieiras me convidou pra participar de uma coluna muito legal do site, chamada Cinco pra Uma, em que eu deveria escolher cinco músicas pra uma semana. Aproveitei que quase nunca escrevo sobre sambas antigos, que adoro, e escolhi cinco músicas brasileiras dos anos 30 a 50.

Ficou assim:

01. PIERRÔ APAIXONADO
Autores. Noel Rosa e Heitor dos Prazeres
Intérprete. Joel e Gaúcho
Gravadora/Ano. RCA Victor/1936


O grande talento de Noel Rosa sempre foi a simplicidade sofisticada de suas músicas e seu aguçado senso de humor. Nessa marchinha de 1936 (gravada pela dupla Joel e Gaúcho, com arranjo de Pixinguinha), ele conta a triste desventura do pobre Pierrô que "por causa de uma Colombina acabou chorando, acabou chorando". A partir do refrão do parceiro Heitor dos Prazeres, Noel descreve o causo e escreve uma das melhores estrofes da história da música brasileira:

A Colombina entrou no botequim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Dizendo: "Pierrot, cacete
Vá tomar sorvete com o Arlequim".


02. OUTRAS MULHERES
Autores. Wilson Batista e Jorge de Castro
Intérprete. Carlos Galhardo
Gravadora/Ano. RCA Victor/1945


Pobre Carlos Galhardo. Nessa composição de Wilson Batista e Jorge de Castro, ele canta sobre o fim de seu relacionamento: "eu e ela já chegamos ao fim". O motivo? "É por causa de vocês, outras mulheres." Claro, quem é homem sabe: a culpa é sempre delas, é muito chato ser gostoso. No final, de joelhos, ele implora às outras mulheres: "vocês devem me esquecer". Ah, essas outras mulheres, sempre tentando transformar os pobres homens em levianos.

03. VOCÊ ESTÁ SUMINDO
Autores. Geraldo Pereira e Jorge de Castro
Intérprete: Ciro Monteiro
Gravadora/Ano. RCA Victor/1943


Outra de Jorge de Castro, esta em parceria com um dos mais geniais sambistas da primeira metade do século passado: Geraldo Pereira, autor de músicas sensacionais como "Acertei no milhar", "Cabritada mal sucedida", "Sem compromisso", "Falsa baiana" e a dupla "Escurinha" e "Escurinho". Neste sacudido "Você está sumindo", Ciro Monteiro canta sobre como ficou depois do tal dia em que sua neguinha lhe deixou. Ele sente-se tão acabado que quem o conhece passa por ele jogando piadas e sorrindo: "você tá ficando acabado, ih, você tá sumindo". O regional que o acompanha na gravação original, com um belo solo de flauta, cria um balanço que é quase um carimbó.

04. PODE SER?
Autores. Geraldo Pereira e Marino Pinto
Intérprete: Isaura Garcia
Gravadora/Ano. Columbia/1941


Outra do inspirado Geraldo Pereira, em parceria com Marino Pinto - mais um autor de ótimos sambas. Com acompanhamento do regional de Benedito Lacerda e sua incrível flauta, "Pode ser?" foi o lado B do primeiro 78 rotações gravado por uma Isaurinha Garcia de 22 anos de idade. Estréia impressionante, com sua vozinha pequena e perfeita, bem colocada, cantando com emoção e sutileza essa composição cheia de doçura, em que declara que "meu coração não é fingido" e "precisa muito, muito de você", para concluir fazendo a pergunta-título. Vale notar que na época eram comuns os sambas que citavam em suas letras expressões em francês (Assis Valente, por exemplo, era mestre nisso) e "Pode Ser?" não fica atrás: "por que é que você quando passa por mim não me dá mais bonjour se eu sempre vi em você o meu rêve d'amour?".

05. TIM TIM POR TIM TIM
Autores. Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques
Intérprete: Os Cariocas
Gravadora/Ano. Sinter/1951


Uma de minhas canções favoritas de todos os tempos, hoje em dia muito mais conhecida na versão de João Gilberto de 1977. A gravação original, apesar da baixa fidelidade de gravação da época, que faz com que todos os instrumentos fiquem embolados, tem um charme insuperável: dos pum pum pum paibô do começo às harmonias vocais dos Cariocas ao violão quase samba-rock aos comentários de clarinete, é tudo delicioso. A letra, ao mesmo tempo triste e resignada, quase debochada, fala sobre um fim de relacionamento com uma sofisticação poética insuperável até hoje: "mande a carta em que eu dizia 'o amor não tem fim' que eu lhe mando outra explicando tim tim por tim tim". Não sei sofrer, não sei chorar, eu sei me conformar.

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Dois zero zero oito

Ano novo, vida nova.

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