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Mateus Aleluia África Brasil

Sentei com Mateus Aleluia para remontar um pouco sua história e dos incríveis Tincoãs, só lição de vida, de som, de entendimento do mundo. Fio da meada começa com matéria apresentando seu primeiro disco, hoje na Folha e logo abaixo.



Todo ano, no mês de agosto, na histórica cidade de Cachoeira, no recôncavo baiano, acontece a Festa da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, exuberância afro-católica de culinária, vestimentas, tradição e sincretismo religioso.

Formada por mulheres entre 60 e 100 anos, a irmandade eterniza em seus rituais a independência conquistada em plena época de intensa importação de escravos para o recôncavo, dois séculos atrás.

Da mesma cidade a 100 km de Salvador e da mesma tradição de orgulho e ascendência africana vem Mateus Aleluia, 66 anos, que lança agora seu primeiro disco solo, "Cinco Sentidos", depois de ter ficado conhecido nos anos 70 com o grupo Os Tincoãs.

"A gente canta quando a pessoa nasce e quando parte, quando a pessoa casa e quando descasa", explica Aleluia. “Somos filhos do canto e da dança: o povo africano revitaliza seus pés em contato com o chão, dançamos para nos sentir revitalizados."

No começo dos anos 70, ao lado do parceiro Dadinho, Aleluia partiu de Cachoeira para o Rio de Janeiro para desenvolver carreira com o conjunto vocal Os Tincoãs.

Em três discos e algum sucesso, o grupo adaptava temas do candomblé de complexidade rítmica e melódica, assimilando também a sofisticação barroca da cultura católica, em músicas como "Cordeiro de Nanã" (também gravada por João Gilberto), "Deixa a gira girar", "Obaluaê", "Promessa ao Gantois"

“Está tudo misturado, porque vou querer separar?”, considera, sobre a grandeza de elementos da música. “Esse processo está aqui há muitos anos, seria muita ousadia. O sincretismo é muito grande, separar é criar fundamentalismo.”

Em dezembro de 1983, o grupo partiu para a África, e o que deveria ser uma visita breve se transformou em estadia permanente. "Quando chegamos a Angola, estava parecendo a Bahia de nossa época", lembra Mateus. Aquilo foi altamente agradável. Fomos ficando e ficando, ficamos."

De volta ao Brasil em 2002, o músico envolveu-se em projetos ligados a cultura africana no país, até finalmente chegar ao primeiro disco solo.

“Tincoãs era uma identidade sendo mais gente, agora eu tinha que ser eu para ter uma personalidade”, realiza. “Todos temos um lado sacro e um lado profano, o santo e o humano. É importante entendermos quem somos, daí o título ‘Cinco Sentidos’. É um disco mais próximo de mim mesmo.”

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1 Responses to “Mateus Aleluia África Brasil”

  1. # Anonymous Sheyla Castor

    Eu já escutei o Cinco Sentidos e é lindo, maravilhoso.  

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