RONALDOEVANGELISTA


Portico Quartet



O instrumento é um hang, suíço, inventado em 2000, originalmente percussivo, mas usado aqui com forte intenção melódica, com uma sonoridade entre uma guitarra ceslestial, o piano-de-dedão africano Mbira, a delicadeza da uma celeste, uma marimba metálica circular. Baixo acústico forte e econômico, bateria jazzística espaçada e sax soprano cheio de climas, sugerindo melodias, completam o som do quarteto, bem jovem, de Londres, dois álbuns lançados em anos recentes. // Jack Wyllie no sax, Nick Mulvey no hang, Milo Fitzpatrick no baixo, Duncan Bellamy na bateria formam o Portico Quartet, jazz moderno a definição básica, "pós-jazz" já sugeriram os jornalistas indie, "world music do futuro" diz a bio. Certo clima de jazz europeu, com toques orientais, mas próximo do universo de grooves da, digamos, Cinematic Orchestra, com uma pegada não muito distante, talvez, do Marginals, e sensibilidade prima, quem sabe, do À Deriva. // Vídeo acima, gravação da faixa "Line", do álbum Isla.

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Arthur Verocai, Sesc Pinheiros, Abril de 2011


Imagem daqui.

O disco de Arthur Verocai, 1972, é especial por muitos motivos. A criatividade em estado bruto, as letras que falam de coisas grandes da vida de maneira muito própria, suas harmonias e melodias particulares, beats sem limite, cordas em estado de graça, intimidade com suas afirmações, pegadas, instrumentos, efeitos, sons inéditos em sua originalidade até hoje, quase 40 anos depois de seu lançamento. Verocai é sua própria categoria.

Originalmente gravado para a gravadora Continental, esquecido em arquivos e algumas poucas coleções durante décadas, o disco encontrou brilhante redescoberta na última década, base de samples para inúmeros produtores, reedição em LP em 2004 e apoetótico show na Califórnia, dentro da série Timeless, em 2009.

Comemoremos, então, agora, o primeiro show ever no Brasil, próximos dias 9 e 10 de abril, no Sesc Pinheiros, com orquestra de cordas, alguns dos protagonistas originais e novas e emocionante conexões: Célia, Carlos Dafé, Robertinho Silva, Luiz Alves, Nivaldo Ornelas, Marcelo Jeneci, Guilherme Held, Nuts. Experiência para saborear e dizer que viu.

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pedestre

No dia em que publiquei, dois amigos me acusaram de obscurantismo deliberado. Era apenas um comentário sincero sobre a bidimensionalidade eloquente de Bruno Mars, encomenda da Ilustrada (publicado aqui), crítica de lançamento pop. Mas, pôxa, reli hoje e achei que exprimia bastante do que posso ter a dizer sobre a música de Mars e sua simbologia no universo do nosso zeitgeist. Talvez a pergunta seja, afinal, para quê serve uma crítica musical - ou a Crítica de Arte? Bula é para a Academia e olhe lá. Se não for para coletar impressões, captar o momento e comentar a vida, não sei de mais nada.


(foto daqui)

De “você sabe que eu faria tudo por você” a "quero você de volta, você é tudo que tenho", da primeira à última faixa de Doo-Wops & Hooligans, álbum de estréia do produtor, compositor e cantor de 25 anos Bruno Mars, passam meia dúzia de metáforas e abordagens para o amor e a vida boa de popstar na Califórnia - das violentamente cafonas às idealizadamente românticas -, mas a essência é radicalmente a mesma: dizer o que você quer ouvir.

Afinal, para que serve a canção perfeita no sol do verão? Te inspirar a sair e fazer algo com sua vida? Aspirar à não-racionalização da familiaridade em nossos ouvidos? Trilha de dirigir, de passear, de gastar tempo? Se soa pedestre demais é apenas para máxima efetividade.

Música pop é encanto, e o fato dos elementos que fazem você se apaixonar (ou desapaixonar) por uma música serem subjetivos, inexplicáveis e idiossincráticos, não significa que não possam ser desenvolvidos em laboratório e reproduzidos em grande escala.

Bruno Mars sabe fazer a canção perfeita. Sabe quanto tempo ela deve durar, quão rápido deve chegar o refrão, os timbres mais em voga entre os jovens, a hora de subir o tom de voz e fazer o melhor uso de seu agudo especial. Modelo pré-fabricado da coleção de Hits do Verão, desenhado pra te pegar e, bem, por que não pegaria?

As inabaláveis pílulas genéricas de pop pós-ironia do disco de Mars tem uma ambição máxima e destino claro: tornarem-se hits. Quase como um reality show, que tem a notoriedade como um fim em si, e mais do que quase como um jingle publicitário, que visa a máxima comunicabilidade, a adequação à marca e o desaparecer no background. R&B sanitizado, naturalidade sintetizada, açucarismo à Coldplay e Justins Timberlake e Bieber. Música pop feita para ser música pop.

Como tal, é feita para onomatopaicamente explodir (estourar é outro termo comum), e inevitavelmente plantar o fim em seu começo, começar a morrer no exato momento em que nasce, datar-se enquanto marca o momento. Bruno Mars está pronto pra consumo, e é mais barato se entregar que torná-lo mártir do prazer culpado.

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Um milhão de discos

Na verdade, mais de um milhão, já diz o título da matéria que escrevi para a revista sãopaulo, da Folha, publicada domingo passado. O personagem é Jorge Dias, engenheiro de implosões, o cenário são galpões gigantes na Mooca cheios de bricabraques e vinis e a história é maravilhosa. A foto inacreditável é do Eugênio Vieira e o texto você lê por aqui ou logo abaixo.



Passando pelas ruas da Mooca , do Oratório ou dos Trilhos, é impossível não notar: os móveis, quadros, objetos e antiguidades ocupam todos os espaços, cobrindo portas e formando corredores. Os discos de vinil lotam estantes do chão ao teto com enorme pé-direito, e um casarão ostenta faixas de "Família vende tudo todos os dias".

São os quatro endereços da loja Presentes do Passado, também já conhecida como Sebo Jovem Guarda, cenário e memória viva da Mooca.

Por dentro, é ainda mais impressionante a variedade de coisas, em quantidade difícil de ser totalmente compreendida: máscaras africanas, órgãos analógicos, filmadoras, esculturas, revistas, lustres, pinturas, garrafas, muitos móveis, muitos quadros, muitos livros e muitos, muitos discos, além do simpático cão Delegado Billy e de sua namorada, Belinha, e do responsável por tudo, Manoel Jorge Diniz Dias, 55.

Até dois anos atrás, tudo não passava de hobby. Jorge -ou Manezinho da Implosão, como era conhecido- foi o engenheiro técnico responsável por "praticamente todas as implosões que você viu na televisão".

Entre os mais de 80 prédios e 200 pontes que trouxe abaixo, cinco pavilhões do Carandiru, o prédio da Cesp na avenida Paulista e a mais difícil e famosa implosão do Brasil: a do edifício Palace 2, em 1998. Em sua carreira de destruidor, dava até autógrafos.

Parafusos
Em 2000, com o mesmo impulso que o fazia visitar fábricas na infância para conseguir parafusos e revender em oficinas mecânicas, Jorge comprou, em um leilão, todo um lote de produtos da Avon, de calcinhas a CDs.

Montou ponto perto de casa, na rua do Oratório, e seguiram-se trocas e compras de livros. Em pouco tempo vieram telas e objetos e, finalmente, vinis. Hoje, Jorge é dono de um dos maiores acervos de discos do país, com mais de 1 milhão de itens.

"Quando garoto, colecionava chaveiros, caixas de fósforo, embalagens de cigarro", lembra. "Coleção tem um poder de sedução muito grande e só vai ganhando valor com o tempo."

Foi a paixão pelo colecionismo somada à experiência de reciclagem. "A demolição está sempre associada ao reaproveitamento. Você aproveita cada material", diz Jorge.

Caminhões de bolachas
Em 2003, Jorge encontrou um lojista interessado em vender um grande lote de vinis para comprar um imóvel. Com ele, era o inverso. "A gente se cruzou e comprei 200 mil discos de uma vez só", conta. "Tive que levar tudo em dinheiro e, toda noite, durante uma semana, carreguei caminhões e caminhões de discos de vinil."

Hoje, ele vem diminuindo o trabalho com as implosões e aumentando o tempo que dedica aos discos e às antiguidades, que já geram lucro.

Além de pagar seis aluguéis mensais para manter tudo estocado (um dos quatro galpões é composto por três imóveis conjugados), contratou uma equipe de nove pessoas, que passa os dias colocando todo tipo de coisa em sites de leilão na internet, como Mercado Livre e eBay.

Chegou a mil itens cadastrados por dia e já tem catalogados 290 mil. A meta é atingir meio milhão. Hoje, ele vende, em média, 40 objetos por dia.

Os números são tão altos que Jorge vislumbra a chance de criar um centro cultural. "Qualquer museu que a gente monte com esse acervo será maior que o de qualquer entidade", diz. "Penso em criar um polo cultural ou armar uma parceria, por exemplo, com o Instituto Moreira Salles. Mas ainda estamos avaliando tudo."

Curiosamente, Jorge não tem uma relação especial com a música. "Gosto mesmo é de olhar as capas", confessa, com sorriso de criança que completou a coleção.

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O Pintinho & A Mixtape



Alexandra Moraes, alechandracomx, LeShandra, grande mente por trás d'O Pintinho, um mito da internets, pratecamente uma lenda da zuera nacional, coisa nossa, prata da casa do humor do site tuiters, é também gente como a gente, mais uma mãe e piadista desse nosso mundão de deus. Só que com bom gosto musical privilegiado. Pra tirar a prova dos nove, mixtape feita com amor pra gente, a convite da editoria do blog e a preço de amizade. Do funk do Funkadelic e Archie Bell à malandragem dos Originais do Samba e Rita Lee à onda sensual do francês Matthieu Chedid, pela chinfra do Dino Martin sarrando italianos e mambo ao mesmo tempo e Cal Tjader fritando alto groove, alto nível na seleção, pra dançar e pra pensar e bailar pelo lar ou escritório, metaforicamente falando é claro.

01 Os Originais do Samba * Falador passa mal
02 Dean Martin * Mambo Italiano
03 Cal Tjader * Cuchy Frito Man
04 Erasmo Carlos * Agora ninguém chora mais
05 Matthieu Chedid * Onde sensuelle
06 Archie Bell & The Drells * Tighten up
07 Funkadelic * Standing on the verge of getting it on
08 Martha & The Vandellas * Heatwave
09 Rita Lee * Corre-corre
10 Burnier & Cartier * Só tem lugar pra você



Não perda tempo! Play logo acima ou baixe AQUI a mixtape `` as 10 melhores joven pan´´ - o pintinho e divirta-se. Aproveita enquanto o E-cad não pega.

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Cadê meu carnaval?



Também indignado com o trágico fechamento do Astronete em pleno carnaval, Geraldo Azevedo adapta um canto do folclore angolano (em iorubá, acredito) e avisa: se o samba acabar, a gente também morre. De seu álbum de 1977.

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Free Astronete



De acordo com os calendários oficiais da cidade, hoje seria dia de Baile Veneno de Carnaval, especial no Astronete. Tristemente, na última quinta-feira, o Astronete foi lacrado pela Subprefeitura da Sé, impedindo nossos planos foliões. Então, só vendo, sabendo, sentindo, escutando, o Veneno se guarda pra quando o carnaval passar, de volta quando você menos esperar. // Na foto acima, grafite do duo 6emeia no lacre de cimento e porta de aço do Astronete, aspirando à libertação.

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Marginals convidam Thomas Rohrer




E semana passada fomos eu, Eugênio Vieira, Bruno Morais e Alexandre Matias ao Espaço +Soma, sacar o Marginals, novo projeto do Thiago França (no sax tenor, flautas, pedais e sax-midi EWI) com Marcelo Cabral (no contrabaixo) e Tony Gordin (na bateria), Thomas Rohrer de convidado (na rabeca). Jazz orgânico e espontâneo, grooves e abstrações, temas nascendo com os improvisos, interação sobrenatural, sons altamente originais. Grandes momentos de som, dois registrados pelo Matias nos vídeos acima.

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Gentle-voiced chanteuse



Não foi apenas o adorável Daniel - Mark Hudson, do Telegraph, também não resistiu ao prazer de Efêmera e mandou quatro estrelas na resenha publicada sexta passada no jornal inglês:

Weaving mellow afro-samba flavours through a complex architecture of influences, from the Beatles to Eighties synth-pop, this latest offering from the São Paulo avant garde is further proof that the Brazilian megalopolis is one of the world’s most dynamic musical cities right now. Gentle-voiced chanteuse Tulipa holds her own amid the wilful eclecticism with some exquisite melodies.

O disco acaba de sair na Europa, Tulipa toca em março em Londres e a foto acima eu peguei aqui.

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