Esta Vida Puta
0 Comments Published by Ronaldo Evangelista on sexta-feira, 3 de junho de 2011 at 2:25 PM.
Em uma manhã e tarde especialmente inspiradoras semana passada fui à Casa das Áfricas conversar com Carlos Moore, biógrafo de Fela Kuti e figura impressionante e com história maravilhosa por si só. A bio do Fela sai no fim do mês e matéria sobre isso saiu hoje na Folha Ilustrada. A clicar ou seguir lendo.

Carlos Moore, cientista político e etnólogo de 69 anos, chegou a primeira vez à Nigéria quando era um jovem jornalista cubano exilado na França, em 1974. Foi a convite do governo, para trabalhar no Festival Mundial das Artes Negras, mas na sua primeira semana de África foi seduzido por uma força revolucionária que mudou tudo: a música de Fela Kuti.
Sua relação com o compositor e ativista rendeu atritos com o governo nigeriano e culminou com sua expulsão do país depois de alguns meses. Mas a amizade com Fela que nasceu ali se fortaleceu ao longo dos anos e permitiu afinal que Moore conseguisse concentrar a história e as ideias do intenso músico em um livro.
A biografia Fela - Esta Vida Puta foi lançada originalmente em francês em 1982 e pouco depois ganhou versão inglesa. Este mês, é lançada pela primeira vez em português, com prefácio de Gilberto Gil, pela editora mineira Nandyala.
Em São Paulo, o lançamento acontece no dia 25 de junho, na Matilha Cultural (Rua Rêgo Freitas, 542 - centro), em evento com show em homenagem a Fela pela banda Bixiga 70 e a presença de Moore, que vive em Salvador há dez anos.

Desde o fim do ano passado, Moore está processando a produção do musical Fela! por incorporar elementos-chave de seu livro, além de diálogos e situações. Com investimento do rapper Jay-Z e passagens bem sucedidas pela Broadway, em Londres e na própria Nigéria, já se fala em adaptação do musical para o cinema.
Moore reivindica crédito à sua biografia, já que o processo, de tão íntimo, é autoral em diversos aspectos. “Ele me autorizou a escrever na primeira pessoa”, lembra Moore, em entrevista na Casa das Áfricas, em São Paulo.
“Eu não podia escrever ‘Fela disse’, ‘Fela nasceu em tal lugar’. Eu disse a ele: ‘eu te conheço bem, acho que posso falar como tu, integrar suas palavras e contar essa história’.” Daí que nomes, entidades, situações, palavras são de Moore sobre Fela.
“Nossa relação era política e de irmãos”, explica. “Era muito forte, havia realmente um amor muito grande. Especialmente porque ele estava sempre ameaçado, eu tinha esse temor que matassem ele.”
“Comecei a falar pra ele desde o início, ‘você tem que colocar as coisas que está dizendo em um livro!’ Mas ele dizia que isso estava errado. Dizia: ‘Isso está nas minhas canções, está indo da minha boca pra orelha do povo, e o povo está entendendo.’ Dizia que livro é coisa de branco, que nossa cultura africana é oral.”
Foi apenas depois de alguns anos, quando Fela andava em uma fase especialmente dura, após a morte de sua mãe e contemplando o suicídio, que um dia ligou lhe mandando vir “imediatamente”, e pronto para escrever.
Durante semanas, Moore ouviu Fela se abrindo completamente, jogando tudo que pensava, visões políticas, confissões pessoais, idiossincrasias e insights. Furacão de pensamentos, ideias assustadoramente brilhantes ou equívocas, fluxo de consciência rico, livro no ritmo de um artista que não parava de criar e impunha como ninguém sua música e visão política.

Fela Kuti dizia que estava criando “música clássica africana”. Mas seria impossível ter previsto a influência que teria, 14 anos depois de sua morte e 40 de seu auge artístico, sobre uma geração mundial de músicos sintonizados com suas ideias.
O afrobeat, como Fela chamava sua fusão de vertentes da música negra, cruzando tradições africanas com dinâmicas de funk e jazz, é destino ou ponto de partida de incontáveis formações pelo planeta hoje.
Em São Paulo, sob diferentes níveis de influência, interessantes bandas como Sambanzo, Afro Electro e Uafro se apresentam por bares e clubes. Uma das mais recentes formações, Bixiga 70, toca no lançamento da biografia Fela - Esta Vida Puta, e no dia 28 de junho no Sesc Pompeia.
Com sotaque próprio sobre as criações iniciais de Fela, a banda junta dez músicos de São Paulo que também se espalham por projetos como Rockers Control, Otis Trio, ProjetoNave, Coisa Fina - o disco de estreia deve sair no segundo semestre.
“No século XX Fela é o único artista que pode dizer que criou um gênero musical”, observa o biógrafo Carlos Moore. “E hoje grupos diferentes pelo mundo estão experimentando dentro desse gênero, criando algo novo. Da Itália ao Japão, é uma música que está fertilizando a criatividade e se juntando a outras culturas, é uma coisa extraordinária.”

Carlos Moore, cientista político e etnólogo de 69 anos, chegou a primeira vez à Nigéria quando era um jovem jornalista cubano exilado na França, em 1974. Foi a convite do governo, para trabalhar no Festival Mundial das Artes Negras, mas na sua primeira semana de África foi seduzido por uma força revolucionária que mudou tudo: a música de Fela Kuti.
Sua relação com o compositor e ativista rendeu atritos com o governo nigeriano e culminou com sua expulsão do país depois de alguns meses. Mas a amizade com Fela que nasceu ali se fortaleceu ao longo dos anos e permitiu afinal que Moore conseguisse concentrar a história e as ideias do intenso músico em um livro.
A biografia Fela - Esta Vida Puta foi lançada originalmente em francês em 1982 e pouco depois ganhou versão inglesa. Este mês, é lançada pela primeira vez em português, com prefácio de Gilberto Gil, pela editora mineira Nandyala.
Em São Paulo, o lançamento acontece no dia 25 de junho, na Matilha Cultural (Rua Rêgo Freitas, 542 - centro), em evento com show em homenagem a Fela pela banda Bixiga 70 e a presença de Moore, que vive em Salvador há dez anos.

Desde o fim do ano passado, Moore está processando a produção do musical Fela! por incorporar elementos-chave de seu livro, além de diálogos e situações. Com investimento do rapper Jay-Z e passagens bem sucedidas pela Broadway, em Londres e na própria Nigéria, já se fala em adaptação do musical para o cinema.
Moore reivindica crédito à sua biografia, já que o processo, de tão íntimo, é autoral em diversos aspectos. “Ele me autorizou a escrever na primeira pessoa”, lembra Moore, em entrevista na Casa das Áfricas, em São Paulo.
“Eu não podia escrever ‘Fela disse’, ‘Fela nasceu em tal lugar’. Eu disse a ele: ‘eu te conheço bem, acho que posso falar como tu, integrar suas palavras e contar essa história’.” Daí que nomes, entidades, situações, palavras são de Moore sobre Fela.
“Nossa relação era política e de irmãos”, explica. “Era muito forte, havia realmente um amor muito grande. Especialmente porque ele estava sempre ameaçado, eu tinha esse temor que matassem ele.”
“Comecei a falar pra ele desde o início, ‘você tem que colocar as coisas que está dizendo em um livro!’ Mas ele dizia que isso estava errado. Dizia: ‘Isso está nas minhas canções, está indo da minha boca pra orelha do povo, e o povo está entendendo.’ Dizia que livro é coisa de branco, que nossa cultura africana é oral.”
Foi apenas depois de alguns anos, quando Fela andava em uma fase especialmente dura, após a morte de sua mãe e contemplando o suicídio, que um dia ligou lhe mandando vir “imediatamente”, e pronto para escrever.
Durante semanas, Moore ouviu Fela se abrindo completamente, jogando tudo que pensava, visões políticas, confissões pessoais, idiossincrasias e insights. Furacão de pensamentos, ideias assustadoramente brilhantes ou equívocas, fluxo de consciência rico, livro no ritmo de um artista que não parava de criar e impunha como ninguém sua música e visão política.

Fela Kuti dizia que estava criando “música clássica africana”. Mas seria impossível ter previsto a influência que teria, 14 anos depois de sua morte e 40 de seu auge artístico, sobre uma geração mundial de músicos sintonizados com suas ideias.
O afrobeat, como Fela chamava sua fusão de vertentes da música negra, cruzando tradições africanas com dinâmicas de funk e jazz, é destino ou ponto de partida de incontáveis formações pelo planeta hoje.
Em São Paulo, sob diferentes níveis de influência, interessantes bandas como Sambanzo, Afro Electro e Uafro se apresentam por bares e clubes. Uma das mais recentes formações, Bixiga 70, toca no lançamento da biografia Fela - Esta Vida Puta, e no dia 28 de junho no Sesc Pompeia.
Com sotaque próprio sobre as criações iniciais de Fela, a banda junta dez músicos de São Paulo que também se espalham por projetos como Rockers Control, Otis Trio, ProjetoNave, Coisa Fina - o disco de estreia deve sair no segundo semestre.
“No século XX Fela é o único artista que pode dizer que criou um gênero musical”, observa o biógrafo Carlos Moore. “E hoje grupos diferentes pelo mundo estão experimentando dentro desse gênero, criando algo novo. Da Itália ao Japão, é uma música que está fertilizando a criatividade e se juntando a outras culturas, é uma coisa extraordinária.”
Marcadores: Bixiga 70, Carlos Moore, Evangelista Jornalista, Fela Kuti, FSP
Kabul 70
0 Comments Published by Ronaldo Evangelista on quarta-feira, 19 de janeiro de 2011 at 2:20 PM.

Tá se ligando? Temporada no Kabul do Bixiga 70, com o bônus classe do discotecário Ramiro Zwetsch. Temporada de verão pra lembrar com saudade ou lamentar não ter ido, mais duas quintas.
Marcadores: Bixiga 70, Kabul, MZK, Ramiro Zwetsch
melhor performance nacional
0 Comments Published by Ronaldo Evangelista on segunda-feira, 10 de janeiro de 2011 at 2:07 PM.

Pessoal do Guia me pediu uma lista do que de mais legal vi em shows nacionais no ano. Acima como impresso, abaixo director's cut.
01) Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz (Sesc Pinheiros, agosto de 2010)
Música elevada de atabaque e sopros, jazz e terreiro, passado e futuro.
02) Tulipa Ruiz (Auditório Ibirapuera, maio de 2010)
Voz encantada em show lotado - de público, talento e carisma.
03) Bixiga 70 (Prédio do Antigo Masp, novembro de 2010)
Afrobeat made in SP, cruzando Fela Kuti e temas afrobrasileiros.
04) Nina Becker (Sesc Copacabana, agosto de 2010)
Jogo de cena em azul e vermelho, teatro de arena, versões de Obina Shock e Tom Jobim.
05) Jeneci (Sesc Vila Mariana, novembro de 2010)
Arthur Verocai de batuta e orquestra, grande banda e lançamento tão caprichoso quanto disco.
Marcadores: Bixiga 70, FSP, Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz, Top2010, Tulipa Ruiz
desengano da vista é ver de perto
3 Comments Published by Ronaldo Evangelista on segunda-feira, 6 de dezembro de 2010 at 10:02 AM.
As coisas especiais vivem como que suspensas em seu próprio tempo e espaço. A força das grandes ideias e expressões artísticas é passar a existir, independente de. Em 1968, produzido por Hélcio Milito, baterista do Tamba Trio, Pedro Santos, Sorongo, mergulhou nos pensamentos e sons que tinha dentro de si e criou a obra-prima Krishnanda - única em seu estilo, gênero, abordagem, musicalidade, sonoridade, espiritualidade, filosofia. Em 2010, a galera inspirada do Bixiga 70 mergulhou em Pedro Santos e recuperou "Desengano da vista", em profundo arranjo afro. Plays acima, versão original Krishnanda 68 e Bixiga ao vivo duas vezes semana passada: sábado na Voodood Hop, prédio do antigo Masp, e quarta no Astronete, em versão redux. Vaidade, todo mundo tem.
Marcadores: 5800, A melhor música do mundo, Afrika10, Bixiga 70, Krishnanda, Pedro Sorongo, TV
BIXIGA 70
0 Comments Published by Ronaldo Evangelista on sexta-feira, 12 de novembro de 2010 at 1:34 PM.
Comentei do Bixiga 70 quando ainda se chamava Malaika, e quem viu o show de estreia na Festa Fela mês passado já viu que não era brincadeira. Arrasando geral em tempo recorde, a primeira banda preza de afrobeat em São Paulo tá chegando hoje em Santo André, além de vários porvires nos picos mais massa da capital, fica de olho e não perde. A parada é séria: nove músicos no grau, mandando não só Fela, Budos Band e K. Frimpong, como também sons próprios da pesada. Acima, dois temas e arranjos de Mauricio Fleury, piano elétrico e órgão, do Som da Selva. Além dele, representando na guitarra Cris Scabello, do Rockers Control; bateria Décio 7, que toca com Leo Cavalcanti e percussão no Rockers; no trompete Gralha, do ProjetoNave e sempre somando no Otis Trio; no tenor Danny Boy aka Daniel Nogueira, do Projeto Coisa Fina; no trombone Tiquinho, de mais bandas que seria possível listar; mais barítono, percussão e vai segunindo nos vídeos acima, feitos pela Nina Cavalcanti, Estúdio Traquitana, Treze de Maio 70, Bixiga.
Marcadores: Afrika10, Bixiga 70, Boa Nova, Leo Cavalcanti, Mauricio Fleury, Rockers Control, Traquitana, TV