Jazz, São Paulo, 2010
4 Comments Published by Ronaldo Evangelista on segunda-feira, 10 de maio de 2010 at 10:06 PM.
Leu a Folha hoje? Saiu matéria legal que escrevi comentando a incrível movimentação jazz jovem que tem rolado na cidade nesses últimos tempos. Difícil é não notar: tem muita banda muito boa tocando muito em São Paulo. Pincelada, versão pré-página:
Caminhando uma noite qualquer por Nova York nos anos 40 ou 50, você podia acabar caindo em um clube - digamos, Minton's ou Five Spot - e dar de cara com músicos como Monk, Coltrane e Dizzy Gillespie cozinhando revoluções no jazz. Rio de Janeiro, começo dos anos 60, se passasse pelo pequeno Beco das Garrafas, a sensação não seria diferente: jovens estudados em discos americanos injetavam novas possibilidades na bossa nova criando o samba-jazz.
São Paulo, 2010, por uma rua do Centro ou Pinheiros, momento parece oferecer efervescência similar. Jovens na faixa dos vinte e algo se juntam em diversas formações e dezenas de grupos, tocam em cada vez mais casas dedicadas ao gênero, para um público cada vez maior e mais interessado e trazem novas idéias ao jazz feito na cidade.
Continuando uma tradição paulistana que já viveu momentos de auge nos bares do Centro como Baiúca e Juão Sebastião Bar na década de 50 e pequenos bares como Supremo Musical nos anos 00, hoje você pode sair em qualquer dia da semana e ouvir música criada no calor do momento.
No Bar B ou no Tapas, Jazz nos Fundos ou New Jazz Bar, as noites são quentes em novas intenções, resultados e possibilidades. Linguagem clássica, pilares reestruturados. O som por um segundo pode parecer o de sempre: baixo acústico, solos de sax tenor e trompete, bateria incansável, improvisos de piano e guitarra. Mas ninguém ali quer dizer o que já foi dito - no máximo, dizer algo inédito a partir dali. O novo é o velho revisto.
Uma das bandas mais interessantes desse cenário é o Otis Trio, originalmente de Santo André e desde 2007 coletando ouvintes por festas, clubes, bares e casa de show de São Paulo. (Atualmente, fazem temporada aos sábados no Bar B.) O contrabaixista João Ciriaco conta que o projeto nasceu quando ele convidou amigos para tocar temas famosos. "Mas logo nos primeiros ensaios o que iríamos tocar ficou pra trás, era mais legal tocar coisa nossa", lembra. "Hoje temos 100 anos de história como matriz a ser degustada, assimilada e repassada ao nosso modo, dentro do contexto em que vivemos", explica o guitarrista Luiz Galvão.
O quarteto À Deriva, que está lançando seu terceiro excelente disco, "Suíte do Náufrago", é outro nome que pode abalar um ouvinte mais desavisado com a sofisticação de seu som, tão poético quanto o nome da banda. "Uma característica que sempre esteve muito presente no nosso trabalho é a improvisação livre, buscamos tocar sem amarras de estilo, de forma, de hierarquia entre os instrumentos", explica o contrabaixista Rui Barossi.
Marcos Paiva, que lidera caprichado trabalho de novos arranjos e novas composições sobre as harmonias e ritmos do samba-jazz, acaba de gravar com seu sexteto MP6 o disco "Meu Samba no Prato", em homenagem ao baterista Edison Machado. "Às vezes tenho a impressão que a nossa música instrumental sempre sofre uma ruptura, não se recicla, parece que a gente não consegue fazer um desevolvimento da coisa", nota. "Esse trabalho nasceu da vontade de fazer uma ligação com as pessoas dessa geração anterior."
Também inspirada no samba-jazz e com disco pra sair, a big band Projeto Coisa Fina é dedicada à obra de Moacir Santos, também em novas composições e arranjos. Parte do coletivo de sopros Movimento Elefantes, o Coisa Fina subverte as expectativas com shows cada vez mais cheios. "O Coisa Fina tem um público irado" anima-se o contrabaixista Vinicius Pereira. "Acho que tocarmos no Studio SP é uma vitrine pro público jovem, da balada. O mais importante é o boca a boca. Esse lance de redes sociais está pegando fogo hoje em dia e nós estamos aprendendo a aproveitar."
E o público que aparece pra ver, ouvir, acompanhar? Barossi, do À Deriva, define: "São pessoas que estão dispostas a entrar no barco com a gente e participar da viagem. A graça está em se deixar soltar dos preconceitos e fruir junto da música que fazemos na hora, em comunhão com a gente. Se estiverem de fora da brincadeira, vão achar só uma maluquice."
Não vale pra tudo na vida?
CONHEÇA A NOVA CENA
OTIS TRIO
http://www.myspace.com/otistrio
Quem: Luiz Eduardo Galvão, guitarra; João Ciriaco, contrabaixo; Flávio Lazzarin, bateria; frequentemente também com Beto Montag, vibrafone; André Calixto, sax tenor; Daniel Gralha, trompete.
Para quem gosta de Art Blakey, Lee Morgan, Ornette Coleman.
À DERIVA
http://www.musicaaderiva.com.br/
Quem: Rui Barossi, contrabaixo; Daniel Müller, piano; Guilherme Marques, bateria; Beto Sporleder, sax tenor e flauta.
Para quem gosta de Bill Evans, John Coltrane, Keith Jarrett.
MP6 (MARCOS PAIVA SEXTETO)
http://www.marcospaiva.com/
Quem: Marcos Paiva, contrabaixo; Daniel de Paula, bateria; Edinho Sant’anna, piano; Daniel D’Alcântara, trompete; Cássio Ferreira, sax alto; Jorginho Neto, trombone.
Para quem gosta de Edison Machado, Os Cobras, Sérgio Mendes & Sexteto Bossa Rio.
PROJETO COISA FINA
http://www.projetocoisafina.com/
Quem: Vinicius Pereira, contrabaixo; Daniel Nogueira, sax tenor; Anderson Quevedo, sax barítono; outros dez músicos.
Para quem gosta de Moacir Santos, JT Meirelles & os Copa 5, Banda Mantiqueira.
OUTROS NOMES
Iamuhu Quarteto
Grupo Comboio
Martinez
LJ5 (Leandro Jazz Quintet)
Meretrio²
ONDE OUVIR
Bar B
Rua General Jardim, 43
Telefone: 3129-9155.
Terça a sábado, a partir das 20h.
R$ 5 a R$ 10
Tapas Club
Rua Augusta, 1246
Telefone: 2574-1444
Domingos, a partir das 19h.
R$ 5.
Serralheria
Rua Guaicurus, 857
Telefone: 8272-5978.
Sextas, a partir das 21h.
R$ 10.
New Jazz Bar
Rua João Moura, 739
Telefone: 3060-9802.
Terça a sábado, a partir das 21h.
R$ 15.
Jazz Nos Fundos
Rua João Moura, 1076
Telefone: 3083-5975.
Quinta a sábado, a partir das 20h.
R$ 19.
Syndikat
Rua Moacir Piza, 64
Telefone: 3086-3037.
Terça a sábado, a partir das 21h.
R$ 10 a R$ 15.
Sarajevo
Rua Augusta, 1385
Telefone: 3253-4292.
Quartas, a partir das 23h.
R$ 10.
Berlin
Rua Cônego Vicente Miguel Marino, 85
Telefone: 3392-4594.
Terças, a partir das 21h.
R$ 5 a R$ 8.
Studio SP
Rua Augusta, 591
Telefone: 3129-7040.
Primeira terça do mês, 21h.
Grátis.
Caminhando uma noite qualquer por Nova York nos anos 40 ou 50, você podia acabar caindo em um clube - digamos, Minton's ou Five Spot - e dar de cara com músicos como Monk, Coltrane e Dizzy Gillespie cozinhando revoluções no jazz. Rio de Janeiro, começo dos anos 60, se passasse pelo pequeno Beco das Garrafas, a sensação não seria diferente: jovens estudados em discos americanos injetavam novas possibilidades na bossa nova criando o samba-jazz.
São Paulo, 2010, por uma rua do Centro ou Pinheiros, momento parece oferecer efervescência similar. Jovens na faixa dos vinte e algo se juntam em diversas formações e dezenas de grupos, tocam em cada vez mais casas dedicadas ao gênero, para um público cada vez maior e mais interessado e trazem novas idéias ao jazz feito na cidade.
Continuando uma tradição paulistana que já viveu momentos de auge nos bares do Centro como Baiúca e Juão Sebastião Bar na década de 50 e pequenos bares como Supremo Musical nos anos 00, hoje você pode sair em qualquer dia da semana e ouvir música criada no calor do momento.
No Bar B ou no Tapas, Jazz nos Fundos ou New Jazz Bar, as noites são quentes em novas intenções, resultados e possibilidades. Linguagem clássica, pilares reestruturados. O som por um segundo pode parecer o de sempre: baixo acústico, solos de sax tenor e trompete, bateria incansável, improvisos de piano e guitarra. Mas ninguém ali quer dizer o que já foi dito - no máximo, dizer algo inédito a partir dali. O novo é o velho revisto.
Uma das bandas mais interessantes desse cenário é o Otis Trio, originalmente de Santo André e desde 2007 coletando ouvintes por festas, clubes, bares e casa de show de São Paulo. (Atualmente, fazem temporada aos sábados no Bar B.) O contrabaixista João Ciriaco conta que o projeto nasceu quando ele convidou amigos para tocar temas famosos. "Mas logo nos primeiros ensaios o que iríamos tocar ficou pra trás, era mais legal tocar coisa nossa", lembra. "Hoje temos 100 anos de história como matriz a ser degustada, assimilada e repassada ao nosso modo, dentro do contexto em que vivemos", explica o guitarrista Luiz Galvão.
O quarteto À Deriva, que está lançando seu terceiro excelente disco, "Suíte do Náufrago", é outro nome que pode abalar um ouvinte mais desavisado com a sofisticação de seu som, tão poético quanto o nome da banda. "Uma característica que sempre esteve muito presente no nosso trabalho é a improvisação livre, buscamos tocar sem amarras de estilo, de forma, de hierarquia entre os instrumentos", explica o contrabaixista Rui Barossi.
Marcos Paiva, que lidera caprichado trabalho de novos arranjos e novas composições sobre as harmonias e ritmos do samba-jazz, acaba de gravar com seu sexteto MP6 o disco "Meu Samba no Prato", em homenagem ao baterista Edison Machado. "Às vezes tenho a impressão que a nossa música instrumental sempre sofre uma ruptura, não se recicla, parece que a gente não consegue fazer um desevolvimento da coisa", nota. "Esse trabalho nasceu da vontade de fazer uma ligação com as pessoas dessa geração anterior."
Também inspirada no samba-jazz e com disco pra sair, a big band Projeto Coisa Fina é dedicada à obra de Moacir Santos, também em novas composições e arranjos. Parte do coletivo de sopros Movimento Elefantes, o Coisa Fina subverte as expectativas com shows cada vez mais cheios. "O Coisa Fina tem um público irado" anima-se o contrabaixista Vinicius Pereira. "Acho que tocarmos no Studio SP é uma vitrine pro público jovem, da balada. O mais importante é o boca a boca. Esse lance de redes sociais está pegando fogo hoje em dia e nós estamos aprendendo a aproveitar."
E o público que aparece pra ver, ouvir, acompanhar? Barossi, do À Deriva, define: "São pessoas que estão dispostas a entrar no barco com a gente e participar da viagem. A graça está em se deixar soltar dos preconceitos e fruir junto da música que fazemos na hora, em comunhão com a gente. Se estiverem de fora da brincadeira, vão achar só uma maluquice."
Não vale pra tudo na vida?
CONHEÇA A NOVA CENA
OTIS TRIO
http://www.myspace.com/otistrio
Quem: Luiz Eduardo Galvão, guitarra; João Ciriaco, contrabaixo; Flávio Lazzarin, bateria; frequentemente também com Beto Montag, vibrafone; André Calixto, sax tenor; Daniel Gralha, trompete.
Para quem gosta de Art Blakey, Lee Morgan, Ornette Coleman.
À DERIVA
http://www.musicaaderiva.com.br/
Quem: Rui Barossi, contrabaixo; Daniel Müller, piano; Guilherme Marques, bateria; Beto Sporleder, sax tenor e flauta.
Para quem gosta de Bill Evans, John Coltrane, Keith Jarrett.
MP6 (MARCOS PAIVA SEXTETO)
http://www.marcospaiva.com/
Quem: Marcos Paiva, contrabaixo; Daniel de Paula, bateria; Edinho Sant’anna, piano; Daniel D’Alcântara, trompete; Cássio Ferreira, sax alto; Jorginho Neto, trombone.
Para quem gosta de Edison Machado, Os Cobras, Sérgio Mendes & Sexteto Bossa Rio.
PROJETO COISA FINA
http://www.projetocoisafina.com/
Quem: Vinicius Pereira, contrabaixo; Daniel Nogueira, sax tenor; Anderson Quevedo, sax barítono; outros dez músicos.
Para quem gosta de Moacir Santos, JT Meirelles & os Copa 5, Banda Mantiqueira.
OUTROS NOMES
Iamuhu Quarteto
Grupo Comboio
Martinez
LJ5 (Leandro Jazz Quintet)
Meretrio²
ONDE OUVIR
Bar B
Rua General Jardim, 43
Telefone: 3129-9155.
Terça a sábado, a partir das 20h.
R$ 5 a R$ 10
Tapas Club
Rua Augusta, 1246
Telefone: 2574-1444
Domingos, a partir das 19h.
R$ 5.
Serralheria
Rua Guaicurus, 857
Telefone: 8272-5978.
Sextas, a partir das 21h.
R$ 10.
New Jazz Bar
Rua João Moura, 739
Telefone: 3060-9802.
Terça a sábado, a partir das 21h.
R$ 15.
Jazz Nos Fundos
Rua João Moura, 1076
Telefone: 3083-5975.
Quinta a sábado, a partir das 20h.
R$ 19.
Syndikat
Rua Moacir Piza, 64
Telefone: 3086-3037.
Terça a sábado, a partir das 21h.
R$ 10 a R$ 15.
Sarajevo
Rua Augusta, 1385
Telefone: 3253-4292.
Quartas, a partir das 23h.
R$ 10.
Berlin
Rua Cônego Vicente Miguel Marino, 85
Telefone: 3392-4594.
Terças, a partir das 21h.
R$ 5 a R$ 8.
Studio SP
Rua Augusta, 591
Telefone: 3129-7040.
Primeira terça do mês, 21h.
Grátis.
Marcadores: À Deriva, Evangelista Jornalista, FSP, jazzsp, John Coltrane, JT Meirelles, Marcos Paiva, Moacir Santos, Olé, Otis Trio, Projeto Coisa Fina, Thelonious Monk
Parabéns pela matéria. É ótimo ver o jazz renovado com tantos talentos...
Ronaldo, adiciono a essa lista o Seis Sextos! A banda toca lá no Miscelânea Cultural e fazem um jazz quando os afro-sambas e tropicalias os permitem. Ótimas bases, não?!
Escute ae: http://www.myspace.com/seissextos
Aee Meretrio merece um post hein! Banda Duca!
Bela matéria, Ronaldo!
Só pra dar uma complementada no 'Onde ouvir':
Tupinikim Bar & Restaurante
Rua das Monções, 585
Santo André/ SP
Telefone: 4436-9231
Quartas, à partir das 21h.
5 R$
Valeu!
Luiz E. Galvão