RONALDOEVANGELISTA


batizado bom



Em 1976, Tom Zé abria um de seus melhores discos, Estudando o Samba, com "Mã", das principais experiências dentro da idéia de desconstruir o mais famoso ritmo brasileiro. A idéia toda nasceu de uma conversa com Duprat, me contou Tom Zé, na época do aniversário de 30 anos do disco: Em 1975 o samba estava muito denegrido, todo mundo dizia que estava repetitivo, estava mal. Aí um dia o Rogério Duprat me falou uma coisa que me iluminou, disse, "Tom Zé, você veja, o samba está esculhambado, mas, se você pegar aquela estrutura que faz o samba - o surdo, o tarol, a caixa, o tamborim, a cuíca - e analisar, isso é de uma sofisticação que não tem tamanho." E quando ele me disse isso, rapaz, eu fiquei num contentamento que me deu a idéia de fazer o Estudando o Samba.

Longe de um disco de samba, mas um riquíssimo disco de Tom Zé sobre e a partir do samba - crônica, paródia, pastiche, ironice; elementos da música de Tom Zé de 1955 a 2009 e além. "Mã", especificamente, com sua intro na percussão e riffs de cavaquinho e guitarra que entram em lugares inesperados, genuinamente entortando o samba, era tão emblemática que ainda acabou retrabalhada por Tom Zé como "Nave Maria", no disco homônimo, 1984.



Vinte anos depois do lançamento, o arame farpado em torno da capa com a enorme palavra SAMBA chamou a atenção de David Byrne em uma passagem pela Galeria do Rock, em São Paulo. Comprou, levou pra casa, ouviu, trincou e relançou por seu selo, Luaka Bop. Ponto de partida de toda uma nova fase na carreira de Tom Zé: ídolo cult pop experimentalista para mais de uma geração de americanos (e europeus e et ceteras) interessados em seu anti-pop engenhoso e deliciosamente anárquico. De Tortoise a Cake, passando por Amerie, rappers, indie-rockers e free-jazzistas...

Instintivamente, Tom Zé, com sua formação de músico erudito de vanguarda e sua sensibilidade pop ácida do sertão, atinge com suas construções sonoras totalmente particulares e constantemente únicas um centro nervoso de estímulo pulga-atrás-da-orelha que se comunica universalmente, de tão sensoriais.

Veja o Nomo, banda de Detroit, naquele universo recente de "afrobeat" pós-Pós-Rock. Saca a versão de "Mã" que a banda lançou há poucos meses, no álbum Invisible Cities - onde a voz vira naipe de sopros, a guitarra vira sax barítono, o cavaquinho vira guitarra e o intrincado arranjo de Tom Zé, construído sobre ostinatos em contraponto, se torna base de uma interessante interpretação, toda cerebral e hipnótica, girando sobre si mesma:

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por detrás dessa blusa de lã



Falando no Verocai, mais um vídeo do sensacional Timeless, quando eles recriaram o disco ao vivo em LA. Saca o Dafé cantando melhor do que nunca e o Veroca regendo tudo. // Logo mais, o show todo em DVD.

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ponho um disco pra ouvir, eu sei lá



A base é um funk tranqüilo, que se parece simples é pela contemporaneidade absoluta do som - de resto, sofisticadíssimo em referências, timbres, elementos e na própria criatividade do resultado final. A breve introdução em uníssono de baixo e guitarra logo revela um arranjo delicado e pesado, com piano melancólico, percussão inventada, groove de batera e baixo, e coro vocal - e a letra triste, de despedida, logo cede vozes a solo jazzístico. Logo em seguida, o que já andava incrível se torna sublime - exatamente aos dois minutos e vinte e três segundos, quando o sax entrega a melodia para um vocalise de partir o coração. Sob tudo, segue a base, em sua eloqüência de poucas notas, melodias, acordes, cordas-lágrimas e letra e muita expressão. "Dedicada a ela", do disco do Verocai, feito em 1972 e existindo até hoje em um tempo próprio (talvez culpa do seu piano mágico).

ficou vazio o meu quarto
a cama e o meu cobertor
não sei se falo às paredes
ponho um disco pra ouvir
eu sei lá

quem sabe eu deite na rede
ou leia um livro talvez
saia pra ver os amigos
pra não ter que pensar
em você

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flor de lótus



Falando no Krishnanda, saca o Nuts brincando muito seriamente com duas cópias.

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dentro de tudo que há




Sábado passado Mariana Aydar fez o show de lançamento de Peixes Pássaros Pessoas no Sesc Pinheiros e começou a noite de maneira especial: sentada no chão, tocando um harmonium, cantando "Um só", de Pedro Santos (aka Pedro Sorongo), da obra-prima afro-percussivo-espiritual Krishnanda. No nome não está. Acima o vídeo da Mariana, seguido logo abaixo da versão original do Sorongo.

eu sou
de uma porção que nem pó
de uma porção de um só
sempre pra lá e pra cá

eu sou
de um pedacinho de nada
de um pedacinho de cada
dentro de tudo que há

aquele que na palavra entender
no nome não se prender
pode ver bem quem eu sou

mas quem no pé da letra cair
do nome não vai sair
porque no nome não estou

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forrózinho na escuridão



Ontem, de improvise, fui djzar no Grazie a Dio!, show do Rodrigo Campos, aquele olhar gentil. Mantendo a suavidade poética da segunda chuvosa, engatei um afropsicodélico só com especiais, e a noite acabou especial em sua calma. // Foi para poucos e bons, então se não estava lá e quer sacar os melhores momentos, uma hora de som para a terça chuvosa:

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5 mixtapes



Mês passado foi aniversário de dois anos do baile mais gudiváibe de São Paulo, Veneno: só vinil, só groove, toda quarta, de graça, pra dançar com gosto, no Astronete. Se você já foi, pode ter ganhado da nossa mão alguma das mixtapes que fazemos de tempos em tempos, naquela onda: música pop, disco, funk, afro, soul, brasa, latinidades e boogies afins. Se não pegou, sem erro, logo mais estamos com nova edição na mão. Enquanto isso, quer ouvir o resto, tá na mão: upamos cinco dos mixes, capa e áudio, The Futures, Taana Garner, Planet Rock, War, Stacy Lattisaw, Bumblebee Unlimited, Jorge Mautner, Billy Preston, Cassiano, The Meters, Delegation, Darkroom, Fábio Jr, no alcance do simples play, aqui.

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Vamos fazer tudo em alto contraste!

Ano passado fiz alguns ensaios, resenhas e entrevistas para o UOL, na onda do momento bossa nova que dominou os veículos de comunicação. Aproveitei pra ligar para o velho amigo Cesar Villela - talvez o maior capista de discos brasileiro, criador do projeto visual da Elenco e inúmeras outras obras-primas - e passar a limpo algumas histórias que tinha ouvido extra-oficialmente.



Ficou assim:

César Villela é um dos mais influentes artistas gráficos brasileiros. Começou a invadir o inconsciente coletivo de todos os brasileiros interessados em música no fim dos anos 50, quando fazia dezenas de capas por mês para a gravadora Odeon e achava tempo e inspiração suficiente para criar imagens lindas e elegantes, como a do disco Ooooooh! Norma de Norma Benguell, e vários de Silvinha Telles.

Em 1963 acompanhou o produtor Aloysio Oliveira quando esse saiu da Odeon e criou sua própria gravadora, a revolucionária Elenco, que lançou os discos de estréia de gente como Nara Leão, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Edu Lobo, Astrud Gilberto e álbuns de Baden Powell, Roberto Menescal e Maysa. Na Elenco, César abusou do minimalismo e ajudou a criar a imagem da própria bossa nova: elegante, discreta, moderna, ousada.

O capista, que hoje mora no Rio e trabalha com artes plásticas, contou mais de sua história, suas criações e suas inspirações.



Como foi a criação da Elenco?

O Aloysio de Oliveira saiu da Odeon e começou fazer shows no Au bom Gourmet, onde eu fazia os cenários. O primeiro foi O Encontro, com João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Os Cariocas. E ele e o Flávio Ramos --o dono do Au Bom Gourmet-- resolveram fazer uma gravadora para lançar aquele elenco. A maioria dos músicos da bossa nova não tinha gravadora, a Odeon só queria o João Gilberto. E todos queriam botar o nome na praça, então todo mundo adorou. Depois o Flavio Ramos acabou saindo da parceria e o Aloysio criou a Elenco sozinho. Mas a Elenco era sofisticada demais pra época, só vendia na Zona Sul do Rio de Janeiro --acho que depois de um tempo ganhou mais cartaz em São Paulo que no Rio. Eu e o Chico Pereira, meu parceiro, que fazia as fotos, não ganhávamos nada para fazer as capas, era tudo na base da amizade. Fazíamos por acreditar naquilo.



De onde veio a idéia para a simplicidade estética da Elenco e de tantas de suas capas?

Comecei a simplificar na Odeon, uma das principais capas dessa época é a do Noel Rosa --com uma rosa no lugar do "o". Eu via as vitrines confusas, todos fazíamos capas muito confusas. E não havia TV para fazer propaganda --as capas tinham de vender o disco! Aí lembrei que o Marshall McLuhan chamava isso de ruído visual e comecei a simplificar ao máximo. Os discos da Elenco brigavam nas lojas com os discos das multinacionais, eles tinham de sobressair. A simplificação das capas foi uma maneira de chamar a atenção para eles.



E o tão comentado alto contraste, como surgiu?

O alto contraste surgiu na Odeon. Eu conversava com o Chico Pereira e dizia pra ele que precisávamos simplificar as capas. Nessa época, ele era professor na ABAF e eu às vezes ia lá com ele. Quem estudava lá não eram fotógrafos profissionais, eram médicos, advogados. E certa vez vi uma exposição com diferentes experimentações na revelação e gostei de uma, que estava em alto contraste. Perguntei pro Chico se ele conseguia fazer aquilo e ele me disse que sim. A primeira capa com essa idéia foi a do disco O Amor, o Sorriso e a Flor, do João Gilberto, com efeito solarizado. Resolvi experimentar e todo mundo topou, ninguém falou nada. Aí, quando o Aloysio me chamou pra fazer as capas da Elenco eu disse, "vamos fazer tudo em alto contraste!"



Outro elemento famoso das capas da Elenco são os detalhes em vermelho.

Quando eu fazia capas desenhadas, eu colocava recortes vermelhos por cima. E as capas com fotos têm sempre quatro bolinhas, contando a do logotipo. Na época eu andava lendo umas coisas espirituais e li na Cabala dos judeus que o número quatro era ligado à harmonia. Achei que harmonia tinha a ver com música, daí resolvi usar aquela idéia nas bolinhas.



Depois de um tempo vocês desistiram do alto contraste e logo depois pararam de fazer capas. Como foi a transição?

Fazer as capas em alto contraste dava muito trabalho naquela época. Não era como hoje, que com um computador, em um segundo, você faz. Então, em certo ponto, o Chico não quis mais fazer. Além de dar trabalho, aquilo custava dinheiro, eram necessárias várias revelações. Aí experimentamos um pouco com outros estilos: fizemos duas capas com (a técnica) jato de areia, da Rosinha de Valença e do Roberto Menescal. Depois disso, paramos e fui morar nos Estados Unidos, em uma empresa de animação. Um tempo depois fiz mais algumas capas para o Aloysio, como a do disco Contrastes, da Odete Lara, e do álbum do Edu Lobo com a Maria Bethânia.



E o Aloysio continou mais um pouco com a Elenco e depois a gravadora acabou, virou um selo da Philips.

Fui para os Estados Unidos em outubro de 1964 e lá só tocava "Garota de Ipanema" (risos). Mas aqui o mercado estava difícil, os militares estavam no poder, o Aloysio não estava ganhando dinheiro. Ele ainda segurou um tempo, mas depois vendeu a Elenco pra Philips. No fim, não ganhou nada, só gastou. Ele não tinha dinheiro, morava num apartamento de um quarto. A Elenco não vendia muito, mas na época os números eram diferentes: Anísio Silva era um grande vendedor de discos e vendia 10, 15 mil cópias.



O disco Vinicius & Odette Lara foi o primeiro lançado pela Elenco, mas não foi o primeiro que você fez, certo?

É, eu fazia as capas antes mesmo dos discos serem gravados. As capas eram feitas dois, três meses antes. A contracapa, com o repertório, era feita depois, porque era mais simples. O Aloysio (já na Odeon, depois também na Elenco) me passava uma lista com vários artistas. Alguns álbuns não tinham nem nome, alguns artistas não sabiam nem que iam gravar! Era preciso fazer com essa antecedência porque estávamos fazendo as capas em off-set, que era um tipo novo de impressão. Antes nós só tínhamos litografia e rotogravura, então nem todas as gráficas sabiam mexer com os fotolitos --e as que mexiam eram muito disputadas pelas agências de publicidade.



Como era o seu processso criativo das capas? Você tinha a idéia antes, passava pro Chico Pereira e depois montava tudo?

Eu dirigia as fotos, às vezes desenhava como imaginava que elas deveriam ser. No disco do Vinicius com a Odette, por exemplo, eles não puderam se encontrar pra foto. Então fizemos com os dois separadamente e depois eu montei: peguei a Odete com o pé no banquinho e pus o "&" ali. Para um disco da Sylvia Teles, o Aloysio tinha dado o título: Bossa! Balanço! Balada!, me entregou datilografado. Aí tive a idéia de desenvolver as exclamações em parte gráfica. Pra fazer uma do Roberto Menescal, lembrei que ele era um grande pescador. E o Chico também era, às vezes eles iam mergulhar juntos. Aí sugeri fotografar com aquela roupa. Chico me trouxe a foto e bolei a idéia de cada rapaz da banda estar representado por um peixinho. E muita coisa eu desenvolvi por pura intuição, como as setas na capa do primeiro disco da Nara Leão.

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Viva Donato!



"Close your eyes" is a ballad favored by American jazz musicians. Chombo, assisted by some engaging obligati from Rolando's flute, gives this the full jazz treatment. Again the bongo drum is skillfully worked into the background. The jazz-wise piano solo is by João Donato, a Brazilian who, like Mongo himself, is musically at home in all the Americas.

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casualmente







Concentração é uma coisa louca: a diferença entre uma lembrança bem vivida e uma idéia genial congelada nas intenções é um segundo, o foco, o ato. Jazz, assim como a vida, funciona melhor de improviso. A gente só planeja a vida até a hora de viver, aí é do jeito que vai, casualmente. Você ouve quem tá do seu lado, saca o tom, pesca e joga idéias, raciocínios, frases e ações. Se estiver concentrado no que está vivendo, tira de letra. // Em 17 de janeiro de 1961 Dizzy Gillespie foi ao programa Jazz Casual, do Colunista Sindicado Ralph J. Gleason, com tique de intelectual e considerações de almanaque. E falou improvisando, com composições, solos e banda. // Inacreditáveis os dedos elásticos de um dos grandes, aqui no piano, Lalo Schifrin (comece pelo último vídeo) e as convenções dinâmicas da formação clássica do hard bop: quinteto; trompete, sax, piano, baixo, bateria. Enquanto a música atinge níveis celestiais de ebulição, Dizzy enche a bochecha, levanta o trompete e mantém o olhar calmo. Leo Wright esbanja sutileza de comunicação, rápido ou devagar, em alto ou baixo volume, na flauta ou no sax alto. Bob Cunningham no baixo e Chuck Lampkin na bateria tocam como se não houvesse amanhã, nem daqui a pouco, nem nada além de agora. Pura concentração, intensidade, devoção. // Trilha do nascimento do pensamento moderno; influência imediatamente direta pros afro-sambas e pra tantos trios e combos do samba-jazz; das últimas grandes esquerdas do jazz antes da implosão final do free.

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música aleatória



Essa história do despedaçamento, como essa coisa pode surgir na cabeça da gente?

O cinema, por exemplo, é uma experiência de despedaçamento - que é uma forma de arte. Pra nós, que só conseguíamos entender a vida num continuum que era um por um - como se fosse um mapa, 1X1 -, a vida só era vivida de uma maneira que cada dia passa com 24 horas. No cinema, um mês pode passar em 15 minutos. Os romances também, as histórias. A primeira experiência do despedaçamento é a primeira história que o mundo viu, a história do poeta cego grego, do ano 10 mil antes de Cristo, a história da guerra de Tróia, a história de Ulisses voltando pra Ítaca; a Odisséia, de Homero. Então, a idéia do despedaçamento já estava no hipotálamo do cérebro do homem. Mas não sei assim proximamente de onde me veio a idéia, me veio da eterna curiosidade. Milhões de outras idéias não deram certo - idéias aparecem milhões, uma ou outra você consegue que fique sintaticamente acompanhável. Quando ela sintaticamente não toma forma, não acontece nada.

Eu também já tinha passado por uma escola de musica pós-moderna, onde tudo era tentado. Então de uma hora lá qualquer eu pensei que a gente podia fazer um ritmo de samba que era despedaçado, os acontecimentos que formam o corpo de um samba esgarçados, como se fossem jogados por acaso os componentes de uma fisionomia que acabavam formando outra fisionomia. Digamos, sete instrumentos são sete fisionomias. Se você pega um pedaco de cada fisionomia e joga de vez em quando pedacos de três fisionomias diferentes, formam uma nova coisa, como os franceses chamam, Bricolages.

Pensei na seguinte explicação: vamos dizer que eu escreva vários pedaços de música num elástico, depois amarre o elástico na parede e vá estirando. Aquela música é isso. É um samba, mas tocado aos pedacinhos, como se a partitura tivesse sido estirada. Eu passava dias e dias explicando ao Grupo Capote como é que devia ser: "olha, você toca o agogô, mas toca só uma célula de uma batida de samba e cada hora em um tempo diferente, você nunca toque igual essa célula no mesmo tempo depois." Cada célula sempre em momentos diferentes, de forma que ninguém pudesse esperar. Então, sete pessoas improvisavam. Aquilo foi um inferno, eu passei dias, semanas, meses: "toque assim, toque assado". Eu tinha fitas de gravador de rolo com horas e horas e horas de tentativa. Horas de improviso, de luta, de sacrificio.

Aí, veja o que aconteceu: aquilo estava esquecido na ocasião do Estudando o Samba. Um dia, quando estava na véspera de fazer o disco, estava ouvindo essas fitas velhas, trechos e trechos daquela tentativa, e de repente um pedaço me pareceu perfeito, me pareceu o que eu queria. Achei bom, continuou bom, continuou bom: um minuto e meio perfeito do que eu sonhava. Exatamente como está no disco, esse trecho que eu tirei, copiei e fiz o "Toc". Muita coisa eu fazia cortando fita naquele tempo. Então marquei o lugar na fita, levei pro maestro Briamonte e falei: "Bria, daqui até aqui escreva pra músico tocar, não vou chamar gente pra improvisar que vai ser milhões de horas". O Bria escreveu e a gente acrescentou aqueles metais.


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heartbeat



Falando n'A vontade Superstar, se ligou nos trampos do Cipis, que fez a ilustração da capa? Segue o link.

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você não precisa fazer nada além de continuar



Bruno Morais, aqui, comentou faixa a faixa seu A Vontade Superstar, disco de repeat, deleite do começo ao fim:

Hino dos corações partidos F.C.
Essa eu fiz e gravei num susto, o processo foi muito intuitivo e muito rápido. Em uma das minhas visitas ao meu grande amigo Tomás Meireles, que tem sempre músicas novas pra mostrar, ele me mostrou uma outra música que falava de um amor não correspondido e no meio de uma letra gigante que não me agradava muito ouvi a frase “corações partidos, sigam-me...”. Voltei pra casa com isso na cabeça, mudei a melodia e ficava cantando isso em loop. Dias depois ele me ligou pra contar que havia sofrido uma grande perda, um acidente fatal levara seu ente mais querido e que estava sofrendo muito. Então eu e ZéPa (José Ricardo Passeti) resolvemos fazer um hino, uma oração para afastar as vibrações ruins e trazer de volta o conforto. Semanas depois em cinco horas num estúdio em Londrina gravamos guias de tudo: violão, voz, backings. Tudo o que você ouve nessa faixa foi gravado nesse dia, são todas guias. Depois Guilherme Kastrup colocou seu tear pra costurar com o disco. Talvez essa seja a faixa mais determinante e espontânea do álbum.

A Vontade
"A Vontade" eu fiz assim que gravei meu primeiro álbum, Volume Zero. Eu fiz depois que a minha amiga e escritora Ivana Debértolis me mandou uma carta falando da minha vontade. Sou uma pessoa bastante obstinada, até demais, e isso sempre virou assunto. Achei nos textos dela a frase “a vontade é o prazer encostado na dor” e fiz a música. “A Vontade” desenhou todo o conceito do disco - que pretende ser um culto religioso aos desejos que movem montanhas. Tony Chang, do Fat Freddy's Drop, gravou esses sopros incríveis com direito a solo especial de Bocato. Mó responsa.

O Mundo é Assim
Alvaiade e A Velha Guarda da Portela são grandes referências pra mim desde que ouvi pela primeira vez essa canção, há 15 anos. Como a urgência da vida e a mortalidade humana eram assuntos importantes no disco, não haveria outra canção melhor pra falar a respeito. O arranjo surgiu do modo como eu comecei a dividir a melodia quando comecei a cantá-la num show de versões para sambas antigos que eu fazia, chamado O Ensaio do Samba. Depois disso levei uma gravação de guia para Seattle e o grande Vitamin D me ajudou a colocar New Orleans no arranjo e a faixa ganhou força. Todas as sessões de gravação foram muito divertidas e ela foi ficando assim: uma celebração, um louvor.

Bombeiro Vermelho
“Bombeiro” eu fiz em casa de tarde. Tinha muita gente em casa, fui para um canto, fiz a letra em minutos e a Marcela Biasi pegou o violão e botamos melodia juntos. Adoro fazer musica com ela. Temos várias dessa safra. O arranjo já estava embutido nos violões dela. Em mais uma visita a Londrina gravamos o naipe, guitarra e baixo. Depois Kastrup e Jeneci (essa é a preferida dele) deram o toque final. Sempre fico muito emocionado ao cantar essa música.

Planos
Essa canção eu fiz apaixonado, paixão que virou amor. É uma carta de intenções. Deu certo (risos). XXXChange (NY) produzindo e Tony Chang (NZ) nos sopros fizeram esse baile da saudade virar uma explosão dub espacial com gostinho de marching bands. Mais uma da mesma safra com Marcela Biasi.

Pode Sorrir
Essa também nasceu no projeto de versões O Ensaio do Samba. Adoro Nelson Cavaquinho, uma honra poder gravar essa canção que me acompanha há muito tempo. Sempre a cantei assim, no final do show, com cachacinha do lado. Acho que isso ajudou a mudar o sentimento da canção original (de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito), trazendo um pouco de orgulho ao sujeito prestes a ser abandonado pela mulher. Essa foi gravada ao vivo, todos juntos na YB com minha banda e amigos no coro. Alegria geral.

Boa Nova
“Boa Nova” abre o lado b do disco. Fiz em parceria com quem eu mais faço música desde que comecei a compor: Rafael Fuca. As imagens vêm de um sonho que eu tive um dia antes e pela manhã ele começou a tocar essa harmonia e pronto, lá estava ela. Anya (uma das pastorinhas do disco), cantora americana radicada na França, esteve visitando e gravou esses vocais belíssimos que fizeram o sonho virar realidade.

Hoje eu vou te acordar
O Romulo Fróes é outro grande parceiro e amigo querido. Gênio. Mandei a letra pra ele e no dia seguinte na minha caixa de e-mail tinha essa canção linda pronta pra ser gravada. Gravação ao vivo com a minha banda no estúdio da YB também. O Samba do disco.

Aparelho Sensível
Essa é bem antiga, a mais antiga do disco. Fiz com o Rafael Fuca antes de vir pra São Paulo. O Mauricio Fleury fez seu primeiro arranjo de sopro pra ela e gravou um Fender Rhodes incrível. Tenho grande afeição por ela, pois foi uma das primeiras que fiz. Acho que todos nós somos aparelhos sensíveis.

Continuar
Mais uma com o Fuca. Música furiosa feita para aqueles momentos em que é preciso dizer “eu não vou parar”, “eu não vou desistir”. Regis “Mr. Spaceman” Damasceno, do Cidadão Instigado, criou o riff instigante da faixa e trouxe esse sentimento à tona. Continuidade é uma coisa muito poderosa. Quando se tem muita vontade e fé, o mundo conspira e pressiona pra você desistir. Você não precisa fazer nada além de continuar.

Do Inferno 2
Passei muito tempo com uma melodia na cabeça tentando descobrir de quem era. Quando a memória finalmente funcionou, lembrei que quando eu era criança tinha uma tia minha que só ouvia Chitãozinho e Xororó e eram eles que cantavam a tal canção de Almir Rogério, “Se Deus me ouvisse”. Quando fiz a letra de “Do Inferno 2” quis misturar as duas coisas, então fiz a melodia em cima da harmonia de “Se Deus me ouvisse” e depois rearmonizei com um baixo que sugeria outros caminhos e botei o refrão da música de Almir Rogério com incidental que Guizado Man executa com maestria. Uma canção trágica de amor às avessas. Uma oração. Um banho de sal grosso.

Há de ventar
Também foi gravada com minha banda ao vivo+Jeneci+Régis. Fiz a letra e melodia andando num dia chuvoso, indo pra casa do Tomás Meireles, que tinha um piano no casarão vazio onde morava e harmonizou a música quando eu cheguei. Estava pensando na minha mãe em especial, na mãe dele e nas mães em geral. Essa é pra todos nós que sentimos medo. O medo é o Demônio a ser exorcizado aqui. Pois para que A Vontade opere milagres ele não pode estar presente.

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estrangeira



Um minutinho da Blubell em alto mar no sofá hippie lá de casa, com o violão mágico da Pacolli. Música dela e do Luiz.

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vou pra já



Lucas estréia hoje em São Paulo show novo do disco novo, Seleção Natural em ponto de bala: Régis, Rian, Bruno e Dustan.

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roquistédi



Coleção despretensiosa de suavidades jamaicanas que rolam bem por aqui. Hits tristes, obscuridades pop, órgãos e delays, versões de Curtis e War, groove no contratempo, Augustus Pablo tocando El Chicano tocando Gerald Wilson e possivelmente a melhor bateria do mundo - dos The Wailers, saca.

Segue assim:

01 the melodians rivers of babylon
02 the wailers teenager in love
03 derrick morgan it's alright
04 carl bradney slipping into darkness
05 dawn penn no no no
06 slim smith everybody needs love
07 augustus pablo viva tirado
08 rockers control do alabama ao atacama
09 don drummond thoroughfare
10 the upsetters live injection
11 the soul brothers free soul

E você pega aqui.


(foto daqui.)

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novidades do passado e clássicos do futuro



Faça chuva ou faça sol, diversão a valer na sua quarta, toda quarta.

veneno

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Amplitude Modulada



Boa parte de 2009 passei pela rua Cenno Sbrighi, Fundação Padre Anchieta, Rádio Cultura Am, desenvolvendo alguns projetos que começam a se realizar por agora em diante - como o novo site (tocado pelo ótimo Ricardo Tacioli, do Gafieiras et cetera) e a nova programação, que debutou hoje e revela algumas boas surpresas até o fim da semana. //

E como o programa Cultura Livre, ao vivo, diário, apresentado por Roberta Martinelli e com muito de si para gente nova que vale a pena, como Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Bruno Morais, Karina Buhr, Leo Cavalcanti, Blubell, Romulo Fróes, Projeto Coisa Fina, Bárbara Eugênia, Radiola Urbana e várias turmas.

Já sigo por novos projetos e só participo como ouvinte e amigo informal, mas boto fé que vai longe e legal.

A partir de hoje e todos os dias, 14h, nos 1200 kHz da amplitude modulada e por aqui.

(a foto eu peguei aqui.)

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eu gosto de gostar de toda gente



Ao longo de 1973 Marcos Valle dividia seu tempo entre alguns dos projetos mais legais de sua carreira: além de gravar o incrível Previsão do Tempo e produzir o ainda mais incrível Quem é Quem, ele escrevia as canções do programa Vila Sésamo versão Brasil, em exibição nas TVs Globo e Cultura. Em 1974, pleno auge criativo, lançou a trilha pela Som Livre (ele lançava seus discos pela Odeon) assinando como Trio Soneca - colocando na sua discografia, como charme adicional, um álbum recheado de letras hippie-infantis e com sonoridade tão genial como a de seus discos na época. Completando a chinfra, ainda foi lá, de cabelão e baby look, fazer o mise en scène com o elenco de musos inspiradores coloridos.

No vídeo, Funga Funga dança sua música-tema, homônima, sensacional primeira do lado B.

*

eu sou o funga funga
eu sou um pouco diferente
mas não entendo poque todo mundo
me olha como se eu não fosse gente

eu sou o funga funga
eu sou um pouco diferente
quando eu começo a falar alguma coisa
ninguém me ouve como se fosse gente

eu queria tanto que todos gostassem de mim
como gostam do sol, como gostam da lua e das flores também
mas parece que as pessoas só gostam das coisas
que ela já viram, que elas conhecem, conhecem muito bem

eu sou o funga funga
eu sou um pouco diferente
mas que importa que eu seja assim
eu gosto de gostar de toda gente

eu sou o funga funga
eu sou o funga funga



play acima.
pra levar pra casa, aqui
pra ouvir dançando, veneno

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