RONALDOEVANGELISTA


O jazz pode ser perigoso

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madrugadas



leva um recado
a quem me deu tanto dissabor
diz que eu vivo bem melhor assim
e que no passado fui um sofredor

e agora já não sou
o que passou, passou

vai dizer à minha ex-amada
que é feliz meu coração
mas que nas minhas madrugadas
eu não me esqueço dela, não

*

aqui.

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Essa vida é só feita de ar



Eu e Lulina, assistidos por Peri, na Sala do Tatá, tocando "Poesia".


*

fim de noite, acorda a poesia
vem me contar como foi o meu dia
preencher de melancolia
o que eu achava que era alegria

ha ha ha ha ha

vem depressa pra disfarçar
o que acontece não é pra falar
mostra um mundo que eu vou gostar
junta palavras pra eu não pensar

patati patatá

poesia me faz sonhar
que essa vida é só feita de ar
sopra histórias pra eu respirar
sem mentirinhas eu vou sufocar

ar ar

fim de noite e eu quero partir
mesmo com sol preferia dormir
poesia me faz sentir
que todo dia é uma chance de se sorrir

ha ha ha ha ha
patati patatá
ar ar

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dreaming is free



ai, ai, debbie harry.

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Na Sala do Tatá, com Lulina e Peri Pane



No ar, com pompa e circunstância, a segunda edição do programa Na Sala do Tatá, com visitas de Lulina e Peri Pane ao apartamento cheio de Busca Vida e good vibe de Tatá Aeroplano.

Desde que conheci Peri, me apresentado por Tatá na casa do Mauricio há alguns meses, pensei que precisávamos sentar com Lulina para bater papo e fazer som. Não houve oportunidade melhor: os apresentamos na varanda do Tatá e já sentamos e começamos a tocar e conversar com as câmeras ligadas. Com suas canções incríveis, cheias de humor e melancolia, Lulina e Peri mostraram que realmente têm muito em comum e ainda aproveitaram para mostrar um ao outro e a todos nós algumas de suas composições mais legais.

O programa começa com Tatá e Peri apresentando uma canção deles inspirada nas mamães saudáveis que passeiam pela Praça Buenos Aires, para depois Lulina e Peri cantarem respectivas músicas suas que, notem, fazem uso da palavra "nós" com poética próxima. Depois, entre papos, até eu toquei uma parceria minha com a Lulina, com direito a solo de buzinas.

O programa inteiro você vê aqui. Aí em cima, clipe da música Nós, da Lulina, recortado de momento especial do programa.

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Pianinho



Radamés Gnattali, desenhado pelo Nássara.

Do Loronix.

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And this deep secret...




only when the goal
is unattainable
do i start to feel
like i'm losing myself

and this deep secret
that hasn't come out yet
is buried down deep
with the rest

i can't coerce you into this one
jealousy lay all your spells to bed
i'll choose unloved instead

if only sounds were so
to guide the doubtful ones
beyond the rough
where not as much is good enough

oh if you find yourself
amongst the lonely ones
i will be waiting here
with open arms

i can't coerce you into this one
jealousy lay all your spells to bed
i'll choose unloved instead

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Music is my hot hot sex



Capa da Record Changer, década de 40, pelo Gene Deitch. Do Cat on a Hot Thin Groove.

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Aprenda a tocar funk com Bootsy Collins



Bootsy ensina a fórmula secreta do baixo funk. You know?

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Jules Feiffer: Explainers



Falando no Jules Feiffer, puxo o assunto desse livrinho fenomenal. A editora indie Fantagraphics continua no mesmo estilo cheio de capricho e feito-com-amor das já históricas séries Complete Peanuts, Complete Crumb, o Cat do Gene Deitch e daí por diante e chegou em outra pedra de toque dos quadrinhos-como-arte: Explainers, o magnum opus de Jules Feiffer, coletânea de tiras publicadas no jornal Village Voice. Esse primeiro volume, que saiu há poucos meses, traz os primeiros dez anos da tira, entre 1956 e 1966. Se seguirem a fórmula campeã dos Peanuts, ano que vem sai mais e no outro e no outro mais, até a série ficar completa.

Depois de ser assistente de Will Eisner e até pilotar alguns episódios de Spirit solo, Feiffer virou escritor sério de teatro, cinema, revistas, livros e até quadrinhos. Na imediata ressaca do pós-hippie no começo dos anos 70, ele era ícone da galera que falava a real, mas também não dava muita pelota. Com notação desencantada do comportamento humano, senso de humor existencialista, diálogos ácidos e timing impecável, Feiffer é algo como um Woody Allen dos cartuns; ou pelo menos da mesma tradição que desemboca em Seinfeld, Larry David e tantas outras variações recentes ou nem tanto do intelectual-judeu-de-Nova-York.

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Onde estão os heróis de outrora?



Mas aí depois da 2a Guerra veio a guerra da Coréia, e a bomba atômica foi superada pela de hidrogênio, e todo mundo começou a pensar em abrigos antinucleares, enfim, finalmente se delineou claramente aquilo a que Karen Horney chama "a personalidade neurótica do nosso tempo". A Psicanálise tornou-se uma realidade quotidiana, a televisão e a propaganda começaram a fazer do homem um consumidor, as ideologias em conflito estavam mais rampantes do que nunca. O homem descobriu que o seu mundo tinha virado bagunça enquanto ele dormia e, quando ele acordou, estava neurótico.

As personalidades de Jules Feiffer refletem toda essa confusão. São magrinhas, frágeis, doentes. Só têm problemas. Uma historinha do Feiffer mostra um super-homem raquítico atravessando a rua, quando passa um carro e espinga lama na sua roupa. "É sempre assim - diz ele - outro dia fui ajudar uma velhinha a atravessar a rua; ela olhou pra mim com uma cara furiosa e perguntou se eu tinha uma compulsão neurótica a ajudar as pessoas. Aí passou uma garota e disse que a minha capa devia ser uma saia e que eu era um homossexual latente. Ninguém acredita mais em mim..."

Feiffer descreve o seu público sofisticado com suas personagens neuróticas. Satiriza os conformistas e os não-conformistas, os que fazem análise e os que não fazem análise, os que pertencem a turminhas e os que pertencem a turminhas antiturminhas. As histórias em quadrinhos, com Feiffer, nem têm mais quadrinhos. E as personagens também não falam mais através de nuvenzinhas. A gente diria que é um mundo estranho, se não reconhecesse tanto o mundo atual. Os temas não são os temas clássicos tipo mocinho-salva-mocinha-acorrentada; o próprio mocinho, ou melhor, a própria alma do mocinho, está acorrentada a preconceitos, a dependências, a problemas, a esquemas. O herói feifferiano, antes de querer libertar a mocinha, tem de libertar a sua própria alma. O mundo do Feiffer seria dramático - se não fosse tão engraçado. Ridendo, Feiffërus castigat mores.

Com Feiffer, o herói das histórias em quadrinhos deixa de ser um mito para ser uma pessoa como qualquer um. De repente, o mito desaparece e o homem que não supera isso imediatamente enfossa. Sem exceção nenhuma, todos os heróis de Feiffer estão na mais negra das fossas. As vítimas preferidas deste desenhista são os racionalistas, os pensadores, os intelectuais que intelectualizam tudo - até as histórias em quadrinhos.

No entanto, se o mundo de Feiffer é um mundo de ansiedade e de dúvida, o mundo dos Peanuts é de neurose e de agressão. A angústia dos Peanuts está sempre rampante e generalizada. E o impacto dessa problemática é maior porque os Peanuts são apenas crianças. Peanuts foi criada em 1950 por um americano genial, Charles Schulz. Em 15 anos, os Peanuts se tornaram a história em quadrinhos mais lida nos EUA e talvez no mundo. Peanuts foi traduzida em todas as línguas: na Noruega são Os Rabanetes, no Japão Os Menininhos.

Schulz disse uma vez, numa entrevista, que Peanuts é tão apreciado porque trata do problema de todos. O tema da historinha engloba o amor e o ódio, a fé e a razão, o Bem e o Mal. É por isso que um estudante de Teologia viu em Peanuts uma mensagem eminentemente cristã e publicou um livro: O Evangelho segundo Peanuts. Nesse livro, Robert Short compara as séries de quadrinhos às parábolas do Evangelho. Por exemplo: no 1o quadrinho, Charlie Brown, a figurinha principal, está construindo um magnífico castelo na areia, com todas as torres e almeias em detalhes. Aí começa a chover, e o garotinho assiste àquela chuva impiedosa que destrói inteiramente o seu belo castelo. Aí Charlie Brown olha pro leitor e diz: "Deve haver uma moral qualquer nisto tudo, mas eu não sei qual é."

Segundo Robert Short, a Moral está no Evangelho, mais precisamente na parábola em que Cristo diz aos homens que as casas devem ser construídas na pedra e não na areia. "Só o tolo faz sua casa na areia; pois quando chegam as chuvas, grande é a sua queda."

O Evangelho - e Peanuts - sugere que os homens só devem acreditar em ideologias de bases sólidas. O livro faz uma interpretação cristã do fenômeno. Mas há outras interpretações; a psiquiátrica, por exemplo. Um belo dia, Charlie Brown não agüenta mais e vai a um psiquiatra, que não é outro senão a Lucy, a menininha tirânica, dominadora e egoísta da série. "O meu problema é que eu tenho medo de Jardim da Infância", ele confessa. "Eu nem sei porquê. Já tentei raciocinar, mas não adianta." Ao que a psiquiatra Lucy responde, sadicamente: "Você não é diferente dos outros. Tenta se ajustar. 100 cruzeiros, por favor."

Há uma lenda, nos EUA, que várias vezes psiquiatras receberam cartas dos seus pacientes, contendo uma anedotinha dos Peanuts, com um bilhete dizendo que não precisavam mais de tratamento; tinham descoberto a causa dos seus problemas. Realmente, as situações da TIRA abarcam vários tipos de neuroses. Começando com o heroizinho Charlie Brown, que nunca consegue, por mais que tente, fazer as coisas simples da vida de uma criança: empinar um papagaio, por exemplo, ou ganhar um jogo de baseball. Os seus papagaios sempre se enrolam nos fios da eletricidade, e nada, mas nada mesmo, do que ele tenta fazer, dá certo. Tudo sempre sai errado. É fácil, por causa disso, se identificar com Charlie Brown e rir de si mesmo rindo dele.

o enorme rival de Charlie Brown é o lourinho Schroeder. Schroeder é pianista. Pianista clássico. Só gosta de Beethoven. Tem um enorme busto de Beethoven em cima de seu pianinho de brinquedo. Schroeder é o intelectual e o artista do grupinho; nem precisa dizer que a feroz Lucy está apaixonada por ele. Schroeder é o calcanhar de Aquiles da Lucy. E também não precisa dizer que Schroeder não dá a mínima bola para Lucy. Nem suporta a presença dela. Ou seja, todo mundo entra bem nessa historinha. Charlie Brown estraga tudo o que faz; Lucy agride todo mundo menos o Schroeder, que a detesta e que é um artista incompreendido. Não pode ser mais neurotizante, não pode ser mais mobilizante, não pode ser mais humano; e é a mais popular das histórias em quadrinhos modernas.

Só falta o Linus e o cachorro Lingüiça. Linus é talvez o mais neurótico deles todos - mas é difícil saber isso, eles são todos tão doentes... Linus não consegue viver dois minutos longe de um cobertor que está sempre chupando. O cobertor é um símbolo claro de todas as dependências neuróticas do homem moderno, que depende do analista ou da mãe ou da namorada ou da mulher ou dos amigos ou mesmo de um cobertor, quem sabe.

Se Linus se afasta do seu cobertor, morre de angústia. o cobertor é sua defesa para com o mundo exterior, é a sua máscara; sem ela, Linus está nu e vulnerável. Quanto a lingüiça, é o único normal em todo esse asilo que no fundo não é asilo nenhum, é a sociedade atual. Lingüiça aprecia as coisas simples da vida: um sorvete, um cachorro quente, uma música gostosa de ser dançada. Dá o contraste aos eternos neuróticos agressivos dessa historinha, por quem é sempre agredido - mas o cachorro Lingïça é um exemplo do bom cristão, e sempre perdoa.

Charlie Brown e sua turminha têm muito de Carlitos, de D.Quixote e de Huis Clos. Simbolizam - de um modo irônico, com uma agressão tão leve que o leitor pensa que é graça - as complicações das inter-relações do mundo moderno. São simpáticas e dignas de pena nas suas pequenas fossas. São o oposto dos bem ajustados Luluzinha, bolinha e Daniel o Travesso. São incapazes de uma travessura, aliás são incapazes de tudo - a não ser Schroeder, cujas caixinhas de música tocam partidas e fugas de Bach. Mas mesmo Schroeder, o Gênio, tem os seus problemas. Uma vez Lucy lhe pediu que tocasse "Cai Cai Balão" para um seu irmãozinho. Schroeder tocou, mas antes reclamou: "Puxa! Tou só com três anos e já tenho que me prostituir comercialmente..."

O próprio Schulz já disse uma vez que o seu frustrado e frustrante mini-herói, Charlie Brown, representa a insegurança de todos, e a vontade que todos têm de ser amados. É por isso que o humor e a comicidade desta história em quadrinhos é especial; o próprio leitor participa dos quadrinhos, faz parte das situações problemáticas apresentadas. Charlie Brown descende de uma longa tradição de eternos perdedores, cujos antepassados são D. Quixote, Carlitos, o Gordo e o Magro. Hoje, seus outros parentes são todos famosos - são os heróis de Feiffer.


*

Trecho de ensaio do Alfredo Grieco, controlcezado do Livro de Cabeceira do Homem, ano II volume 7. Segundo a orelha, ele é da novíssima intelligentsia de 1968 e aqui pesquisa os heróis das histórias em quadrinhos, protótipos de fantasia da geração McLuhan.

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Patterns in jazz



Incríveis os retratos do Francis Wolff, fotógrafo-fundador da Blue Note.

Aqui, set de várias fotos coloridas dele da década de 60, de onde tirei essa do Herbie Hancock.

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For me to stay here, I've got to be me



Sly Stone em 1973.

Vi aqui.

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Ashley Kahn/Kind of Blue



Hoje à noite tem show do Junior Boca tocando o disco-dos-discos do Miles Davis, Kind of Blue. Aproveito o gancho para soltar aqui texto que publiquei na Folha no começo do ano passado: entrevista com Ashley Kahn, autor do sensacional livro Kind of Blue - A História da Obra-Prima de Miles Davis.

*

No dia 2 de março de 1959, sete músicos entraram em uma velha igreja em Nova York transformada em estúdio sem saber exatamente o que fariam ali. O líder, Miles Davis, tinha algumas idéias, alguns temas, alguns acordes e pouco mais. As instruções que deu aos outros músicos -entre eles Bill Evans, John Coltrane e Cannonball Adderley- não iam muito além de "sole dois chorus", segundos antes deles começarem a tocar.

Com exceção de uma faixa, tocada duas vezes, tudo foi registrado no primeiro take completo de cada tema, de maneira espontânea. O resultado dessa gravação e outra, pouco mais de um mês depois, foi o disco "Kind of Blue", um dos álbuns mais vendidos e cultuados da história do jazz. E a história por trás das gravações -tudo que aconteceu antes e as suas conseqüências- é o tema do livro "Kind of Blue - A História da Obra-Prima de Miles Davis" (2000), de Ashley Kahn, agora lançado no Brasil.

Por que um livro sobre um disco?

A maioria dos livros de jazz tenta dar tantos detalhes sobre a vida das pessoas, sobre estilos de vida, sobre um período, que quando você chega na página dez sua cabeça está girando com tantas informações. Eu pensei, em vez de fazer isso e dizer tanto, por que não focar em uma única coisa? Tentei enxergar melhor o mundo do jazz através de um detalhe. E que detalhe melhor para isso do que o disco que é a porta de entrada para o mundo do jazz para tantas pessoas?

Afinal, por que "Kind of Blue" é um disco tão adorado?

É um disco muito acessível, de que qualquer um pode gostar facilmente, mesmo quem só se interessa por música clássica, heavy metal ou rock'n'roll. O som é emocional, romântico e profundo. É muito diferente de qualquer outro álbum de jazz. E muito diferente de qualquer outro álbum de qualquer outro estilo. É um disco tranqüilo, com o qual é fácil se envolver, que soa bem até aos ouvidos mais alienígenas ao jazz. As melodias são fáceis de cantarolar, têm a beleza do blues, de uma maneira fácil de entender. Era o álbum certo na hora certa.

Você diz no livro que Miles não ouvia seus próprios discos.

Ele estava sempre mudando. Era um cara muito sortudo porque podia ser assim. Ele tinha um sucesso atrás do outro, e não são muitos os músicos que conseguem isso.

Por que isso acontecia?

Acho que era uma combinação de fatores. O visual dele, seu som. Aquele som do trompete, com surdina, era o som do romance nos anos 50. Ele tinha uma identidade política e racial muito forte. Os negros americanos o viam como um ícone. Ele era o músico perfeito para criar um disco que todos poderiam amar. Ele era descolado, esperto, bonito. É um ótimo disco para impressionar seus vizinhos, seus amigos ou aquela garota que você está levando ao seu apartamento pela primeira vez.

Ele realmente tinha talento para criar tendências ou apenas as seguia na hora certa?

Não acho que ele via as coisas dessa maneira. Ele só queria pensar na música e odiava tudo que estivesse no caminho, como o racismo. Acho que seu interesse em usar influências da música africana, clássica ou folclórica eram idéias intelectuais que refletiam uma curiosidade musical, que fazia os músicos se desafiarem e levar a música por novos caminhos. Era algo que surgia naturalmente e que está sempre presente quando se faz grande música. John Coltrane tinha isso. Stravinski tinha isso, Thelonious Monk tinha isso, os Beatles tinham isso. E Miles Davis tinha isso. A mesma coisa que o fazia tentar essa experiência modal com Bill Evans era o que o fazia amar Hermeto Pascoal. Ele ouvia algo novo, algo que era diferente do que ele estava fazendo antes e que o fazia querer experimentar.

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Nina Becker & Do Amor: Macarrão com Lingüiça e Pimentão



O show da Nina cantando Build Up, é claro, foi lindo. Ela até repetiu a dose em edição especial pros amigos cariocas, no sábado. Se você perdeu (ou se já tá com saudade), clica aí em cima e sente um gostinho de como foi massa.

(Vídeo feito pelo Matias.)

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Wax Poetics tem matérias com Shuggie Otis e Mutantes



Se você já viu alguma edição, sabe que a Wax Poetics é das melhores revistas de música do mundo. Dedicada a soul, jazz, hip-hop, funk, disco, reggae e vertentes afins da música negra e do colecionismo, ela sempre tem matérias excelentes, recheadas de fotos de arquivo e discografias, tudo como deve ser. É também ótimo lugar para se ler decentemente sobre música brasileira: ela já fez matérias preza com Wilson Simonal, João Donato e toda a cena Black Rio, entre outros.

A cada edição os caras pescam só personagens incríveis, mas a mais recente está especial: capa e entrevista com Shuggie Otis, autor da música Strawberry Letter 23 e do fabuloso disco Inspiration Information - gravado quase todo por ele sozinho quando tinha 21 anos.

Além do Shuggie (cujo nome artístico eu descobri ser uma corruptela de "sugar" lendo a matéria), a Wax Poetics 31 tem uma matéria com os Mutantes. Mais legal ainda que a matéria é essa lista comentada, feita pro site deles, de 14 discos que influenciaram a banda. Infelizmente os discos foram escolhidos pelo mais palha dos Mutantes, que agora leva o nome da banda no seu projeto solo, mas ainda rende bons comentários - como a história que Arnaldo e ele se espelhavam nos Everly Brothers até a Rita entrar pra banda e eles virarem os Peter, Paul & Mary.

A lista tem ainda Celly Campelo, Sly & the Family Stone, Jimmy Smith, Rolling Stones, Demônios da Garoa. E, é claro, Beatles: Every time a Beatles album was released, it was like a change of your perspective on life. Aqui.

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Recomendada a compra pelo site deles, Amazon, Dusty Groove, algum amigo mandando pelo correio. Nas bancas e Fnacs a revista custa quase 70 reais, mas o preço de capa é menos de dez dólares.

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Songs in the Key of Life



Songs in the Key of Life is only a conglomerate of thoughts in my subconscious that my Maker decided to give me the strength, the love + love - hate = love energy making it possible for me to bring to my conscious an idea. An idea to me is a formed thought in the subconscious, the unknown and sometimes sought for impossibles, but when believed strong enough, can become a reality. So let it be that I shall live the idea of the song and use its words as my sight into the unknown, but believe positive tomorrow and I shall so when in evil darkness smile up at the sun and it shall to me as if I were a pyramid give me the key in which I am to sing, and if it is a key that you too feel, may you join and sing with me.

Stevland


*

Do Songs in the Key of Life, do Stevie.

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Caetano 68



Que maravilhoso país o nosso, onde se pode contratar quarenta músicos para tocar um uníssono.
(Miles Davis, durante uma gravação)

Antes havia Orlando Silva & flautas e até mesmo no meio do meio dia. Antes havia os prados e os bosques na gravura dos meus olhos. Antes de ontem o céu estava muito azul e eu e ela passamos por baixo desse céu, ao mesmo tempo com medo dos cachorros e sem muita pressa de chegar do lado de lá. Do lado de cá não resta quase ninguém. Apenas os sapatos polidos refletem os automóveis que, por sua vez, polidos, refletem os sapatos assim per omnia até que (por absoluta falta de vento) tudo sobe num redemoinho leve, me deixando entrever um resto de rosto ou outro, pedaços, amém. Marina sabe a história do pelicano etc. etc. o peito aberto e rasgado etc. etc. mas que nada: quando a gente não tem nenhuma necessidade de ir para os States não há mesmo mais esperança. Eu gostaria de fazer uma canção de protestos de estima e consideração, mas essa língua portuguesa me deixa rouco. Os acordes dissonantes já não bastam para cobrir nossas vergonhas, nossa nudez transatlântica. E, no entanto, Ele é um gênio: quem ousaria dedicar este disco a João Gilberto? Quantos anos você tem? Como é que você se chama, quando é que você me ama, onde é que vamos morar? Os automóveis parecem voar, os automóveis parecem voar por cima (mas mais alto que o Caravelle) dos telhados azuis de Lisboa, dos teus olhos, dos mais incríveis umbigos de todas as mulheres em transe, dos teus cabelos cortados mais curtos que os meus, meu amor, porque eu não quero, porque eu não devo explicar absolutamente nada.

Caetano Veloso

P.S.: Gil, hoje não tem sopa na varanda de Maria.


*

Do primeiro solo do Caetano.

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