RONALDOEVANGELISTA


Rebolando em frente à construção



O pop perfeito de "Adelayde", com a banda dream team da Lulina. Terça passada, no Sesc Pompéia, filmado pelo Matias.

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só vinil, toda semana, de graça



Se tiver em LA, é com o Dâm-Funk, toda segunda.

Em São Paulo, só colar no Astronete às quartas.

VENENO março

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Receba com simplicidade tudo que acontece com você



Assistir a um filme dos irmãos Coen é ouvir a história mais fantástica do mundo - vivida pela pessoa menos fantástica da história. O protagonista deslocado um pouco à esquerda do protagonismo é uma tradição: de Lebowski a Fargo, de Queime Depois de Ler à Hudsucker Proxy ao Homem que Não Estava Lá. Larry Gopnik, professor suburbano de física, vivendo a mais comum vida americana dos anos 60, personagem dos Coen, Um Homem Sério, segue a linha e vai além - constantemente perplexo e passivo em relação a tudo que lhe acontece, suas questões se amontoam e as epifanias passam fugazes. Sua vida é como um Livro de Jó pós-existencialista em ritmo de Woody Allen zen.



Assistimos sua história com a ilusão de que os sentidos virão, os arcos narrativos se concluirão, as pistas desencadearão respostas, os diálogos significarão algo. Mas a questão não é tornar o mundano especial, e sim tornar o mundano mundano. É grande demais o apreço dos Coen pelas idiossincrasias, twists anticlimáticos, detalhes intrigantes, pelas perguntas, pelo papel do acaso nas histórias. Os gêneros, códigos e signos das suas narrativas são deliberadamente confundidos, as definições e denominadores comuns deliberadamente escondidos, os non-sequiturs deliberadamente abundam - e tudo enriquece o que assistimos e levamos. O rei está nu e apontar a Moral da História é revelar a si mesmo. Qualquer descrição em favor de explicação levanta a questão: qual o ponto? E esse é o ponto, não há. É o princípio da incerteza, não podemos nunca ter certeza do que está acontencendo. Aceite o mistério.



Como uma grande parábola, sobre histórias judaicas típicas - ainda que inventadas -, o filme é, no máximo, sobre perspectiva; uma fábula sem moral. Cada personagem é idiossincraticamente tridimensional, cada cena caricaturalmente real, cada avanço do roteiro sadicamente engraçado. Cada vez que você se perguntar, por quê?, cada vez a resposta será irrelevante - ou não. Qual o som de uma mão batendo palma? Why does he make us feel the questions if he's not gonna us give any answers?



O prólogo do dybbuk, o gato de Schrôdinger, o Clube de Discos e Fitas da Columbia, o incrível Mentaculus, os dentes do Goy, a jornada torta do herói, a marcação genial e quase aleatória dos três rabinos - e os ensinamentos crípticos e esclarecedores de cada, como tudo está ligado e como tudo não está ligado. Para todos os efeitos, depende do que você quer pra montar seu quebra-cabeça particular de ordem do mundo. Talvez o único sequitur do filme seja seu final, no tempo forte do compasso, quase gratuito, que recoloca o universo em sua transitoriedade.



O falso ar slacker dos irmãos Coen esconde engenhosidades de roteiro dignas de Billy Wilder, clareza de filmagem digna de Stanley Kubrick, diálogos de timing perfeito dignos dos melhores filmes slapstick, o senso de humor mais afiado de Hollywood. Por trás da sua abordagem tranqüila, quase abstrata, sempre contemporizada, eles mantêm olhar sofisticado, capricho de realização, originalidade irrestrita e pura cinematografia. Cada segundo de cada frame é prazeroso de assistir, cada cena tomando seu tempo, cada diálogo ensaiado como passos de dança, como cada enquadramento, roupa e objeto de cena, cada uso muito próprio e excelente de trilha sonora. Um pouco à esquerda do protagonismo, levando as melhores histórias, é onde estão os irmãos Coen.

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MUG 2010



Começou assim, no esboço do caderninho.



E nasceu: senhoras e senhores, Mug 2010.

Fattoamano por Biancamaria.

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Todo Fela



Falando no Fela, a gravadora americana Knitting Factory licenciou e está lançando de punhado em punhado todos os 45 discos oficiais do homem do Afrobeat. Por esses dias estão saindo nove discos (incluindo os primeiros com os Koola Lobitos), divididos em seis CDs, em esquema 2-em-1 e/ou com singles bônus - caso você ainda compre CDs. O melhor ainda está por vir: prometeram ainda esse ano botar tudo na rua em vinil.

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Calabar



Western music is Bach, Handel and Schubert - it's good music, cleverly done - as a musician I can see that. Classical music gives musicians a kick. But African music gives everyone a kick. Once you get music with a beat, that is African music.
Jazz was the beginning of rhythm music, which developed into rock and roll. But what the jazz musicians lost because they were so far from their homeland was the intricate rhythms of African music.



Primal e moderno, libertário e ditador, ídolo popular e anti-herói político, estudante de teoria musical em conservatório britânico e criador do termo (e do som do) Afrobeat, bruto e sensual, Fela Kuti era poderoso. No vídeo, a afrorquestra Africa 70 tocando, as garotas dançando, Fela cantando como se não houvesse amanhã, em 1971. As aspas do Fela, mapa do ritmo e som africano, desse ensaio, do Guardian.

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vinilos miticos del jazz



Enquanto os responsáveis pelo marketing estratégico das grandes gravadoras no Brasil choram, pedem arrego, admitem derrota e procuram novos empregos, a editora Planeta espanhola foi além: lançou direto nas bancas a série Vinis Míticos de Jazz, com reedição 180 gramas de várias jóias, com capas originais e fascículos que falam dos álbuns.

Já saíram o Kind of Blue do Miles Davis e o A Love Supreme do John Coltrane, e eles ainda estão prometendo o Brilliant Corners do Thelonious Monk, Somethin' Else do Cannonball Adderley, All or Nothing at All da Billie Holiday, Drummer Man do Gene Krupa, Bird and Diz do Charlie Parker com Dizzy Gillespie, e o Getz/Gilberto do Stan Getz com nosso João Gilberto.

Presta atenção: por oito Euros, em qualquer livraria ou quiosque de revistas da Espanha, você pode comprar A Love Supreme, Brilliant Corners, Kind of Blue e o Getz/Gilberto em sua majestade, o vinil.

(foto daqui.)

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Paratodos

Falando no J. Carlos, nada melhor pra entrar no carnaval suave.











Imagens por aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, enquanto não sai o Complete J.Carlos Paratodos Covers.

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J. Carlos



Se o programa é bom, não sei, mas J. Carlos é o que há. Ilustrador do começo do século, nas revistas Fon-Fon, Careta, Paratodos; alta sofisticação na representação dos trajes, modos, comportamento, idéias da época e local - no caso, Rio, primeiras décadas do século passado. É a história do nosso imaginário em traços perfeitos, registro e criação dos primeiros sinais de modernidade vistos a olhos nu.

Até onde sei, alguns de seus trabalhos saíram em livros, em edições limitadas, patrocinadas e distribuídas, sem nem chegar a ser vendidas. J. Carlos valia, no mínimo, edições como as que tem feito a vida pós-internet de editoras como Fantagraphics, com seus Peanuts completos, os Explainers do Jules Feiffer, Krazy Kat, Walt Kelly, Arquivos do Steve Ditko, ou a pequena Sunday, com seus Little Nemos no tamanho original, Winsor McKay em todo seu esplendor.

O breve documentário A Figura da Capa (com o teaser nem tão encorajador acima) foi dirigido pelo neto do J.Carlos, Zé Brito Cunha, e passa hoje, 20h30, no Futura.

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Jazz Loft



Um dia, em 1954, o pintor David X. Young passeava pela Sexta Avenida de Manhattan, bairro das flores, e achou um prédio de cinco andares, número 821, 120 dólares por mês, perfeito. Alugou o quinto andar e se mudou pro novo ateliê. Já no mesmo ano, dividiam o quarto andar o pianista e arranjador Hall Overton e o fotógrafo Harold Feinstein. No terceiro andar, o trompetista Dick Cary. O segundo era um depósito e o térreo, o restaurante Rainbow - depois a farmácia Herald, depois o Bernie's Discount Electronics Center, um alfaiate, um restaurante grego.



Todos os andares eram enormes espaços sem divisão, galpões, lofts. Construções residenciais eram raras na área, após certo horário só freqüentada pelas figuras boêmias - nada muito diferente da Lapa ou Barra Funda, por exemplo. Perfeito para músicos buscando qualquer pico para tocar até altas, artistas de hábitos excêntricos querendo criar em seus próprios fusos horários, fotógrafos atrás de espaço para salas escuras, mesas de negativos e sofás para madrugadas.



Naturalmente, jazz era o som dos cats e hipsters naquela época ("naquela época"), e no loft triplo até o pintor Dave Young ocasionalmente sentava no piano ou na bateria que haviam por lá. Durante o dia, alguns músicos podiam dar aulas e alguns alunos podiam ter a chave e passar a qualquer hora, mas era na alta madrugada que a coisa esquentava. Uma pra duas da manhã chegava o primeiro, aos poucos chegando mais e as sessions informais corriam longe, depois dos turnos oficiais pelos bares.



Em 1957 mudou pra lá o ensaísta fotográfico da Time e documentador obsessivo W. Eugene Smith, entrando no meio quarto andar de Harold Feinstein. Além de imediatamente começar a fotografar tudo e todos que iam, vinham, passavam ou cruzavam por ali, ele puxou fios por todas as paredes de todos os andares e microfonou tudo, gravando conversas, telefonemas, passos, sons da televisão, miados de seus gatos, barulho da rua - e milhares de horas de ensaios e jams com os músicos que lá circulavam.



W. Eugene Smith depois comentou que lá só havia duas regras: todo mundo que estava por lá respeitava todo e qualquer um que também estivesse, e qualquer barulho a qualquer hora era ok. Doze anos depois, quando se mudou, levou consigo 40 mil fotos (algumas ilustrando esse post) e quase dois mil rolos de fita - áudio recentemente digitalizado em mais de cinco mil CDs.



Big Brother tá suave e Twitter é fichinha. Entre as três mil horas de som que Eugene Smith gravou, você pode ouvir, por exemplo, um descolado chegando com uma gatinha e no xaveco a noite inteira, uma jam session com alguns dos melhores músicos da história pegando fogo e os gatos Desdemona ou Broom-Hilda miando na lareira - tudo ao mesmo tempo. Pode ouvir um jovem Steve Reich tendo aulas de piano ou Thelonious Monk, criando arranjos ou simplesmente andando de um lado pro outro. O famoso discurso de Martin Luther King na televisão ou o prório Eugene Smith, que era ligadaço em anfetaminas, trabalhando ou falando interminavelmente, dias sem dormir.



Entre os músicos e figuras que por lá tocaram, freqüentaram, ficaram, passaram Alice Coltrane, Joe Henderson, Roland Kirk, Bill Evans, Eric Dolphy, Zoot Sims, Chick Corea, Elvin Jones, Paul Bley, Hal Bigler, Carole Thomas, Ron Free morou um tempo lá dormindo numa cadeira reclinável, Sonny Clark acampou na escada e teve uma quase-overdose (devidamente registrada em áudio), além de centenas de músicos, artistas, agitadores culturais e figuras boêmias de que nunca ouvimos falar.



O projeto todo, assunto sem fim, foi encampado pela galera do Center for Documentary Studies da Duke University, que pegou todo o material do Eugene Smith e aos poucos vai desvendando o que há. Há pouco virou livro, The Jazz Loft Project. O áudio todo ainda estão decupando, mas já dá pra imaginar um box ou seleta do material pra daqui alguns anos.



No play acima, ótimo programa da WNYC fala de tudo isso. E essa semana, pleno carnaval, abre em Nova York expo com fotos e áudios (cê sabe, "multimídia"), registro de passagem pelo loft de gente como Norman Mailer, Salvador Dali, Anais Nin (que escreveu que sua noite lá "cristalizou sua visão do jazz ligado a um estilo de vida, outra visão da vida"), Thelonious Monk e todos citados acima.



O projeto é massa e o assunto é sensacional. (Desenvolvido por uma Universidade, abrindo expo na Public Library, programa legal na Public Radio...) Se não vier pra cá em nenhuma instância, já dá pra garantir a encomenda do livro.

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Sistema de Som



Muito classe o rolê dos Jurassic Sound System, galera do blog You & Me on a Jamboree. Plena Praça da Sé em Virada Cultural e eles botando em pé pra geral o sistema de som early reggae ilegal.

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