RONALDOEVANGELISTA


Caminhos abertos




Olodum com Gil Evans? Moacir Santos com Sun Ra? Impressionante o trabalho afro-jazz do maestro Letieres Leite, sensacionais os ritmos e arranjos de sopro da Orkestra Rumpilezz. // Acima ensaio e momento ao vivo. Esse fim de semana, direto de Salvador, shows no teatro do Sesc Vila Mariana.

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20000



Senhoras e senhores, Perfume Azul do Sol: Ana, Benvindo, Jean e Gil. Groove pesado, maior pegada, vocal rasgado, letra lamento forte, sotaque paulista. Fernando Rosa dá um pouco mais de infos e o disco, Nascimento, 1974, você pode pegar, por exemplo, aqui. O som, fala por si:



dor de saudade mata morena eu sei
por onde você andou eu andei e já voltei
por onde você andou eu andei e já voltei

cheguei agora sim senhora
e o que vi não gostei
cheguei agora sim senhora
e o que vi não gostei

porque roubaram o que eu trazia de presente pra você
um pedaço do arco-íris para enfeitar teu corpo
vinte mil raios de sol para pôr no teu cabelo

água da chuva pra beber
água da chuva pra beber
água da chuva pra beber

me pegaram a traição numa escuridão
eu expus meu corpo à faca e a viola escondi
mas é sorrindo agora que eu venho lhe entregar
o que sobrou do meu corpo, uma canção pra se cantar

pra você fico devendo, as coisas prometidas
vinte mil raios de sol, um pedaço do arco-íris

água da chuva pra beber
água da chuva pra beber
água da chuva pra beber

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Sem medo até bater com as dez



Bruno Morais segue cantando ao vivo seu irresistível A Vontade Superstar, hoje no Studio SP, Cedo, Sentado, free e com lançamento do vídeo de "A Vontade", olha só.

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Ensaio com Gal Costa e Som Imaginário, TV Tupi, 1970

Mil novecentos e setenta, Gal Costa lançava seu terceiro disco, Legal (de "Love, Try and Die" e "Falsa Baiana") e o Som Imaginário lançava o seu incrível disco de estréia, homônimo. Ela, aliviando um pouco de segurar sozinha a onda do tropicalismo de elite, vindo do estridente álbum de 69 para o azul de 70, toda absolutamente linda e sorridente e prestes a embarcar na intensa viagem Fa-Tal. Eles, a união dos jovens e explodindo criatividade Zé Rodrix no órgão, flauta e onde fizer a diferença, Robertinho Silva na bateria, Wagner Tiso no órgão, Fredera aka Frederyko na guitarra, Tavito no violão de 12, Luiz Alves no baixo - todos com extenso currículo posterior e genialidade à flor da pele.

Daí que Fernando Faro juntou Gal e Som Imaginário na TV Tupi e gravou um Ensaio, como sempre obra-prima de sensibilidade, imagens, ângulos, enquadramentos, momentos, iluminação, preto-e-branco, sons, olhares, falas e espontaneidades.


O Som Imaginário abre o programa em quadro perfeito numa nuvem de algodão, entre estrelas abrindo o coração, com Frederyko cantando "Sábado" de guizos nos sapatos e farrapos coloridos. Zé Rodrix segue no pífano, Wagner e Tavito fazem os backings celestiais e Robertinho e Luiz Alves garantem o ritmo (os dois últimos, aliás, hoje em dia e já há anos dois terços do Trio do Donato).


No estúdio, ela fez com Lanny e Jards. Aqui, o Som Imaginário segura o pique em "Love, try and die" e põe Gal em Ebulição. Do momento em que aparecem seus dedos dos pés, você já sabe que não adianta resistir: ela vai fazer você se apaixonar. Ah, Gal.


Dona Mariah, pura ternura, dá tilt no silêncio do Faro e faz o momento ainda mais íntimo enquanto conversa com a filha. Que música gosta mais? Todas do Caetano, compositor popular favorito, mas Gal Sugere.


Robertinho sai tocando, Zé Rodrix puxa a escola de samba no apito e a banda afiada no arranjo. No ano seguinte ela vai gravar no maravilhoso compacto, mesmo de "Vapor Barato", "Sua estupidez", "Zoilógico", mas aqui ainda mais crua e sensual e significativa, "Você não entende nada" é jóia pura.


A banda vai na genialidade e Gal brilha de tanto brilho no baião levado pro mato selva e pra eletricidade, "Acauã", um-dois-três-.


Falando nisso, "Assum preto", Luiz Gonzaga, quase à capela, com o som ambiente Imaginário.


Uma faca me rasgando, um mundo se acabando. É sempre surpreendente, como a vida se partindo, se começando, se acabando. Gal Costa sempre me trata com choques elétricos. Gal Costa é muito maravilhosa, nos diz por nós, dando bobeira na área, Tom Zé. Se há alguma dúvida, "Sua Estupidez", só no violão e na sombra do chapéu.


Toquinho dá as caras pra contar e provar que Gal é cantora que sabe das coisas e manda um Synval Silva, só no violão, Gal revelando e desvelando joaogilbertianamente "Ao voltar do samba".


A partir da estranheza e beleza da composição de Jards e Duda, Gal embeleza o mundo, sente tudo e canta "The Archaic Lonely Star Blues" daquele jeito que parece ter esquecido: entrando sob nossas peles.


Sem precisar nomear o desconhecido, mostrando Gal bebendo coca-cola como pop arte, Faro faz sua declaração de admiração ao magnetismo de Gal e seu engrandecimento versus os monstros de suas inseguranças e do clima opressor que já e ainda mantinha seus amigos e parceiros a continentes de distância.


Gal vai no violão (em momento pré-Fa-Tal total) e a banda segue pianinho total, no clima pra fechar lá em casa, na afirmação da devoção à João - que aliás regravaria essa mesma "Falsa baiana" daqui três anos.


Robertinho manda o groove, o Som Imaginário segura no hard-prog-hippie-psicodélico e Zé Rodrix assume o microfone pra banda fechar o programa na pegada, "Feira Moderna".

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In Mind



Yusef Lateef é o cara. Já ouviu, por exemplo, ele com piano elétrico e altas idéias no Gentle Giant, 1972? // Aí em cima ele toca "Troube in Mind", no oboé, com Joe Zawinul, Sam Jones e Louis Hayes, com o sexteto do Cannonball, em Tóquio, 1963.

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Black President



Tá ligado que quinta, 15/10, foi Fela Kuti Day, aniversário-que-seria do grande africano, o homem do afrobeat, marido de 27 esposas, causador político? Virei bem a data, ouvindo set africano em vinil do bróder Ramiro Zwetsch na quarta anti-hype Veneno, esquenta para a balada desse sábado, na República Kalakuta que se instaura na rua Minas Gerais. // Tá fácil entrar no clima: aqui tem mixtape do Ramiro, de vozes femininas, e aqui uma do MZK, descendo a mão no afrogroove.

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cabeça coração vida emoção



Falando em afrobeat, e essa "Origem", nova do Abu? Um lance meio balcã, com umas colagens world na onda do primeiro do karnak, achei massa. // O disco, Mafaro (que também é filme), sai em abril.

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A pino



Bem massa o disco novo do +2, trilha do Grupo Corpo, hein?

Claro que não ia ser como esperávamos e claro que ia ser legal: depois dos discos individuais de Moreno, Domenico e Kassin, o primeiro e último álbum do trio como líder de si mesmo vem com tudo ao mesmo tempo agora dos discos anteriores, clima instrumental, vários temas bonitos e sonoridade incansavelmente criativa. Como de hábito, falam baixo pra dizer muito e vêm de mansinho pra fazer grandes sons. "Percepção" (do Moreno), "Sopro" (do Domenico)... - só músicas que seqüestram a atenção e exigem ser ouvidas de novo.

Tipo "Sol A Pino", afrobeat chinfra do Kassin:

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my life my life my life my life in the sunshine

Passeio no centro pra entregar documentos e passada rápida no Carlinhos, só pra ver se aquele disco não tá lá esperando. E não é que...





The Meters - Just Kissed My Baby
(Rejuvenation, 1974)





Roy Ayers Ubiquity - Hey Uh-What You Say Come On
(Everybody Loves the Sunshine, 1976)

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Babilônia na agulha



Vinis! Patins! Mixtapes! Anti-hype! Veneno! Babylon! Sábado!

Edição especial roots master roller da festa de quarta do Astronete em pleno distrito da luz vermelha, Nova Babilônia, baixo Augusta, 781.

Mestres de cerimônia das picapes, até você não agüentar mais, ou a gente não agüentar mais, ou a casa cair: Mauricio Fleury, Peba Tropikal & Ronaldo Evangelista, mais a presença ilustre do Roller Brother Claudio Medusa, sempre nos boogie black funk disco latin brasa soul.

Pra dez de entrada, só soltar a senha na porta.
Que senha? Pergunta pra gente ou fica de olho aqui.

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Ano 10



Tudo vem convergir nesse fim de semana, pré-feriado, ponto áureo do ano: todo dia rola alguma coisa como parte das comemorações dos dez anos da YB, mais legal e importante gravadora em São Paulo hoje, de Curumin, Romulo Fróes, Nina Becker, Bruno Morais.

Amanhã, por exemplo, acontece no Auditório Ibirapuera show desses que não é a qualquer hora: Nouvelle. É a volta - pelos menos pra um show - da grande banda de jazz paulistana, Guga Stroeter no vibrafone, Luca Raele no clarinete, Mauricio Tagliari na guitarra, vários cantores convidados e aquele som sublime.

Hoje, no MIS, a Lulina faz show de lançamento do seu disco, Cristalina, todo brilhante.

E no domingo, no mesmo MIS, tem nova edição da conversa aberta sobre caminhos da música, Think Tank especial cinema nacional, com mediação d'eu mesmo. Logo depois, continuando cinematográfico, show-trilha do sensacional Frame Circus.

Aproveitando o fôlego, lá no MIS rola ainda a estréia do projeto Estúdio A, espécie de single para nossos tempos. Artistas entram no Estúdio A da gravadora e tocam uma faixa inédita, que depois a YB põe na rua em mp3 e vídeo da sessão. Na primeira temporada tem Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Blubell+À Deriva, Bruno Morais e Lulina. Além do piloto, com Juliana R. Massa demais.

*

Segue a programação inteira do que anda rolando com a YB por aqui.

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psicodelia tropical retro-futurista



Mauricio Fleury, piano elétrico, órgão, composição, voz e parceiragem, faz show hoje no CCJ, Vila Nova Cachoeirinha, com Guizado no trompete, Beto Montag no vibrafone, Régis Damasceno no baixo e Érico Theobaldo na bateria. // Acima, "24 quadros por segundo".

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Tarantino's Mind



Falando em Veneno, e a programação do mês do Cine Astro? Só clássicos (haha, "clássicos") que existem no universo subconsciente dos filmes do Tarantino - de Astro-Zombies a Dracula versus Frankenstein à pérola acima, Mestre da Guilhotina Voadora (com trilha do Neu!, no less).
Matias Aires 183, toda quarta, só colar.

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Quero sambar meu bem



Toda quarta, free e anti-hype, só vinil e só groove.

Veneno
no Astronete

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Lulina/ Discografia Comentada

Próximo dia 9, sexta que vem, Lulina lançano MIS seu primeiro disco "oficial", Cristalina, gravado na YB. Apesar do gosto de estréia, é seu décimo disco - os outros nove, em esquema gravado em casa, montados artesanalmente e distribuídos entre os amigos.

Aproveitando o momento, ela pula no bonde da memória e comenta cada um pra nós:




Cristalina /2009

São minhas músicas depois de tomarem banho e se arrumarem para a festa. Reúne o melhor dos 6 primeiros anos de composições e gravações caseiras, produzidas com o capricho de um estúdio maravilhoso e dos profissionais de primeira da Yb.




Aceitação do 14 e Aos 28 Anos Dei Reset na Minha Vida /2008

Retorno de saturno bombando no juízo. Aperreios de 2007 e 2008 transformados em música aos 45 do segundo tempo, em gravações limpas, apesar de caseiras. O 14 é a reflexão e o 28 é a conclusão.




Translúcida /2006

Disco de transição entre as gravações caseiras e as de estúdio, produzido em umas três noites em um quartinho dos fundos da Yb (complementado com gravações em alguns chãos de apartamentos de Perdizes e da Consolação). Foi a primeira vez que os meninos da banda participaram de gravações.




Sangue de ET /2005

Até hoje, não consigo escutar esse disco sem sentir um aperto no coração. Composto e gravado na ressaca do falecimento da minha vó, é um disco que reflete basicamente sobre perdas. Gravei sozinha, tocando quase todos os instrumentos no meu quarto, com meu laptop albino chamado Hermeto.




Bolhas na Pleura /2004

Somatizei os problemas e deu nisso: bolhas na pleura, milhões de amigdalites e otites e um disco com tudo isso musicado. Foi o primeiro álbum que deixei a produção 100% na mão do Monstro, pois eu estava tão fraca que nem tinha vontade de gravar. Os vocais do disco me lembram isso, quando escuto. Foram gravados de primeira, no comecinho de 2005 – apesar de boa parte do disco já estar pronta desde 2004 -, registrando exatamente a tristeza do momento, pois alguns deles eu gravei poucas semanas depois que minha vó faleceu. No encarte, eu dedico o disco às minhas duas avós, que foram embora no mesmo mês (a minha vó que era mais próxima de mim faleceu no dia do meu aniversário). Foi um ano bem difícil e se não fosse o Monstro, esse disco não existiria (e a capa, feita por Juliângela, é a minha preferida entre os meus discos caseiros).




Nublada em Surto /2004

Como o nome já diz, é um disco de surto em um dia nublado. Acordei no sofá do Monstro, em um carnaval com amigdalite em São Paulo, com milhões de músicas na cabeça. Liguei o computador dele, peguei meu violão desafinado e cantarolei papapás e lalalás, só para registrar as idéias. Acabou que boa parte das músicas ficou com essas letras mesmo. Composto e gravado, com a ajuda do Monstro, em pouco mais de um fim de semana, tem um clima de chapação antibiótica que eu gosto muito.




Abduzida /2003

Da selva amazônica para a selva de pedra. O abduzida é o disco que coloco quando estou triste, para poder dar umas gargalhadas. Foi o primeiro álbum que gravei em São Paulo. Aborda temas que vão da viagem que fiz à Amazônia no mesmo ano (frutas imaginárias, bubararas e seres exóticos) à minha abdução por essa cidade (cinema iraniano, quadros de Tarsila e seres exóticos). Todo gravado “ao vivo” (ligávamos o microfone de computador e colocávamos no meio da rodinha de amigos, no chão do apartamento, cada um com um instrumento em uma mão e uma lata de cerveja na outra). Sem dúvida, o mais divertido e coletivo disco que já gravei.




Cochilândia /2002

Disco recomendado para quem sofre de insônia, propositadamente longo para dar sono, gravado em madrugadas no quarto e no computador de um ex-namorado (o primeiro a me incentivar a fazer minhas gravações caseiras). Contém músicas com temas que variam entre sono, sonhos, roncos e despertadores, é o disco preferido de muitos dos meus melhores amigos.




Acoustique de France /2001

Primeiro disco que gravei, também na casa desse meu ex-namorado, onde fingíamos que eu era uma cantora brasileira que estourou na França. O álbum é como se fosse a gravação ao vivo de uma entrevista comigo em um programa de rádio francês.

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