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Anedonia

Tentei imaginar um futuro: um período da vida estava chegando brutalmente ao fim, e eu não tinha nada com que substituí-lo, apenas uma terrível ausência. Eu tinha inveja das certezas dos outros, da segurança de vidas fixas e planos. O que a vida significaria de agora em diante? Embora continuássemos segurando um a mão do outro, eu sabia que iríamos ver nossos corpos se tornarem estranhos. Paredes seriam construídas, a separação seria institucionalizada, eu a encontraria em alguns meses ou anos, estaríamos mais leves, joviais, mascarados, vestidos para trabalho, pedindo uma salada num restaurante - incapazes de tocar o que só agora podíamos revelar, o puro drama humano, a nudez, a dependência, a perda inalterável. Seríamos como uma platéia saindo de uma peça lacrimejante mas todos incapazes de comunicar qualquer uma das emoções que haviam sentido no íntimo, capazes somente de se dirigir para um bar, sabendo que havia mais, mas incapazes de tocar nisso. Embora fosse uma agonia, eu preferia esse momento aos que viriam, as horas passadas sozinho revivendo isso, culpando a mim mesmo e a ela, tentando construir um futuro, uma história alternativa, como um dramaturgo confuso que não sabe o que fazer com seus personagens (a não ser matá-los para um final mais redondo...).

Do Ensaios de Amor, do Alain de Botton.

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2 Responses to “Anedonia”

  1. # Anonymous Anônimo

    ele é deus!  

  2. # Anonymous Anônimo

    bem que eu podia terminar de ler.
    mas ficou tudo bem e fiquei com preguiça. esse livro é como vidente. a gente só procura quando aperta.  

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