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Rum, rumpi, lé, jazz

O grande Letieres Leite aparece com sua poderosa orquestra afro-baiana Rumpilezz em São Paulo esse final de semana: dois shows no Sesc Pinheiros, participação de Ed Motta. Se preciso avisar que é imperdível, é porque você ainda não tá ligado.



Começo do ano conversei com Letieres e escrevi matéria pra Folha, comentando o álbum, capa no play acima:

Na linha de frente, cinco músicos de terno branco, tocando percussões típicas afro-baianas, como os atabaques rum, rumpi e lé. Logo atrás, em formação semicircular, outros 15 instrumentistas, tocando diferentes sopros, de chinelos, bermudas e regatas.

A inversão de hierarquia vem também no som: no centro das músicas estão desenhos rítmicos da música ancestral da Bahia com influência africana, envolvidos por camada jazzística de sofisticados arranjos de trompetes, trombones, saxes, tuba.

É a Orkestra Rumpilezz, do maestro, compositor e saxofonista Letieres Leite, que lançou há pouco o primeiro disco, homônimo, pela gravadora Biscoito Fino.

Formada em 2006, em Salvador, a orquestra foi a realização das ideias esboçadas por Letieres nos anos 80, quando estudava em conservatório em Viena e teve o estalo de criar a partir do universo percussivo baiano.

"Busquei a música sacra do candomblé como recurso criativo para a música instrumental", explica ele. "Percebi que as estruturas rítmicas da música afro-baiana estavam extremamente organizadas, mas não de modo formal, dentro da academia. Tudo foi preservado nas esquinas, nas ruas de Salvador, nos terreiros de candomblé."

Letieres passou a criar, a partir desse ponto central, composições nascendo do encontro com as matrizes africanas e com as particularidades das culturas de tribos que vieram parar aqui na escravidão. Um universo rítmico que existe na cultura afro-baiana soteropolitana, segundo ele. Em Caetano, Gil, Carlinhos Brown, Olodum, Ivete Sangalo.

Letieres sabe: há anos é saxofonista e arranjador da banda de Ivete.

Mas a Rumpilezz existe num universo paralelo, instrumental, com percussões baianas típicas e harmonias notadas por sopros, cada naipe ligado a um tambor. Influência do jazz? Claro, mas não só -há muito improviso, mas também composições inteiras pela pauta.

O trabalho de arranjador não se esconde: ele ouviu muito Moacir Santos, Gil Evans e Sun Ra, admite. Mas se é para reconhecer um nome no jazz, é John Coltrane. "Ele foi quem mais escutei", conta. "Me influencia não só pelo lado musical. Sempre gostei de como usava recursos, a Cabala, "A Love Supreme", a busca espiritual."

Busca espiritual que encontra paralelo na relação com o candomblé? "Sou simpatizante da religião, mas a Rumpilezz não é culto, não é chamamento, é estritamente musical", separa. "Ainda assim, a força dessa música é clara. Como compositor, quero tocar o coração das pessoas. Todo mundo quando toca busca mágica na música."

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