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Pensamento massa



Viu o clipe novo da Andreia Dias? Meio cafona - e por isso mesmo sensacional. A música é uma nova, meio jazzy, totalmente pop, das melhores dela.

A Andreia tem uma cara-de-pau, uma disposição a uma doçura cínica que é refrescante no mar de obviedades em que nadam tantas cantoras brasileiras. Com sua postura anti-frescuras, suas letras direto-ao-ponto, sua estética sem firulas e sua feminilidade pós-feminismo, ela já sai ganhando simplesmente por ser uma pessoa de carne-e-osso, cheia de idiossincrasias. Não que ela não viva um personagem, todo artista pop o faz. A pequena diferença é que o personagem dela é mais divertido, mais cheio de referências interessantes, mais surreal e mais real. Ou seja, passando longe do principal mal que acomete as novas cantoras: se perder naquele momento crucial de definir sua persona.

A pressão que elas próprias colocam sobre si mesmas, o peso da construção de uma tal "carreira", a expectativa da imprensa e dos descobridores profissionais de novidades, os moldes que existem há tanto tempo que já se tornaram clichês de postura, visual, escolha de repertório, bom-mocismo: tudo isso se somatiza e se transforma em um medo de ousar, uma genericidade que persegue nove em cada dez novas cantoras. Há de se levar em conta também a explícita falta de talento de algumas, mas isso, por cavalheirismo, a gente não comenta.

De qualquer maneira, talento, criatividade e disposição à inovação não faltam em Andreia. Debochada, assanhada, com alma de metaleira e espírito de sambista, ela é o tipo que você corre o risco de encontrar no boteco da esquina depois do próprio show, sem quaisquer diferenças claras entre a mulher no palco e fora dele. Com senso de humor agudo e sem medo do mundo, ela segue a tradição das cantoras que batem o pau na mesa. Metaforicamente falando, é claro.

E isso tudo só comentando perifericamente o quanto ela é ótima compositora, o quanto são boas suas interpretações e o quanto seu disco é dos melhores dos últimos tempos. Essa música aí em cima, em especial, tem um certo quê de Rita Lee pós-pós-Mutantes que, acidental ou não, não é mera coincidência: a doçura, a acidez, a ironia, a paulistanidade, a inteligência pop, a individualidade artística, são várias as semelhanças entre as duas. Mas, mais do que isso: vejo e ouço um quê de Peggy Lee, Anita O'Day, Lily Allen.

Em comum há o fato da música de todas ser perfeitamente pop, mas sempre com algo levemente fora de lugar, só o suficiente para te deixar curioso. Aquela eterna ousadia de, com um sorriso de canto de boca, fazer sempre questão de confundir para explicar.

*



Falando nisso, viu que a Andreia participou do disco novo do Tom Zé? Ela e Anelis Assumpção, Mariana Aydar, Tita Lima, Marina de La Riva, Zélia Duncan, Fernanda Takai, Fabiana Cozza, Jussara Silveira, Monica Salmaso.

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5 Responses to “Pensamento massa”

  1. # Blogger Beatriz Antunes

    Rarará: "Há de se levar em conta também a explícita falta de talento de algumas, mas isso, por cavalheirismo, a gente não comenta". Se eu fosse cantora, suspeitaria de críticos gentis.
    Beijos  

  2. # Blogger Camila Alam

    Oi Ronaldo!
    parabéns pelo cedo & sentado, bem bacana... mas uma pergunta: mudou o horário pras 22h? Essa semana cheguei lá as 21h e pouco, ainda estava fechado...
    bjs  

  3. # Blogger Ronaldo Evangelista

    Sempre prudente desconfiar de qualquer pessoa gentil, Bea.  

  4. # Blogger Ronaldo Evangelista

    Valeu, Camila. Os shows do Cedo e Sentado começam sempre às 22h. O Studio abre, em teoria, às 21h. Qualquer mudança nisso é coisa da estrutura da casa, já não sei dizer nada.  

  5. # Blogger Beatriz Antunes

    Não tinha visto antes. É ótimo o vídeo, de um gosto meio duvidoso, mas leve. E achei que vc deve ter mesmo razão com relação à psicologia das cantoras. Gostei (hj tou péssima pra escrever, ficou um rocambole...) bj  

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