Noturno em azul e ouro
0 Comments Published by Ronaldo Evangelista on terça-feira, 11 de janeiro de 2011 at 1:01 PM.
Com suas improvisações e arranjos urbanos e sofisticados, cool e intensos, eruditos e melódicos, o Nouvelle Cuisine (depois só Nouvelle) foi a grande banda de jazz paulista do fim dos anos 80/começo dos 90. Luca Raele, Guga Stroeter, Mauricio Tagliari, Carlos Fernando (e Flávio Mancini), então jovens virtuosi de alto apuro, tocando o mais fino e elegante do jazz acústico, em eras pós-fusion de experimentações mil.
O primeiro disco, de 1988 (pela Warner, produzido pelo Pena), tinha um capricho tão grande que trazia longas notas sobre cada faixa (provavelmente escritas por Carlos Fernando), explicando as referências, influências, intenções, história por trás da interpretação de cada composição. Como a contemplativa "Chelsea Bridge", de Billy Strayhorn, famoso parceiro de Duke Ellington, pelo Nouvelle em versão Tonalista de alto calibre, de scat singing mais orquestra; inspiração pro original, trecho das notas e play abaixo.
Se Debussy tratava a Música como arte visual, havia um pintor, americano, que compunha imagens e concebia a Pintura como Música: James Abbott McNeill Whistler (1834 . 1903). Ambos, aliás, admiravam-se mutuamente.
Uma certa vista do Tâmisa, pintada por ele ("Noturno em azul e ouro") viria, 76 anos depois, a causar profunda impressão em Billy Strayhorn, que nela se basearia para compor "Chelsea Bridge". Houve um engano no título, apenas, quanto à ponte que figura no quadro (Old Battersea Bridge), talvez devido ao fato de Whistler ter sido tão ligado ao bairro londrino de Chelsea, onde viveu.
Procuramos também partir da pintura, para captar o "clima" fluído e misterioso do tema e dar-lhe a moldura perfeita.
Certa vez, Whistler reuniu seus amigos (e inimigos) para uma famosa palestra, em que expôs seus conceitos estéticos. Num trecho ele dizia:
"E quando a névoa noturna veste de poesia as margens do rio, como um véu, e os pobres prédios se abandonam ao céu sombrio, as altas chaminés tornam-se campanários e os depósitos são palácios na noite, e toda a cidade está suspensa no ar: uma terra encantada diante de nós; aí o transeunte se apressa de volta ao lar. O operário e o homem culto, o sábio e o ocioso cessam de compreender - como cessaram de ver - e a Natureza, que, por uma vez, cantou no tom, canta sua primorosa canção para o artista apenas, seu filho e seu mestre. Seu filho, pois a ama, seu mestre, pois a conhece."
O primeiro disco, de 1988 (pela Warner, produzido pelo Pena), tinha um capricho tão grande que trazia longas notas sobre cada faixa (provavelmente escritas por Carlos Fernando), explicando as referências, influências, intenções, história por trás da interpretação de cada composição. Como a contemplativa "Chelsea Bridge", de Billy Strayhorn, famoso parceiro de Duke Ellington, pelo Nouvelle em versão Tonalista de alto calibre, de scat singing mais orquestra; inspiração pro original, trecho das notas e play abaixo.
Se Debussy tratava a Música como arte visual, havia um pintor, americano, que compunha imagens e concebia a Pintura como Música: James Abbott McNeill Whistler (1834 . 1903). Ambos, aliás, admiravam-se mutuamente.
Uma certa vista do Tâmisa, pintada por ele ("Noturno em azul e ouro") viria, 76 anos depois, a causar profunda impressão em Billy Strayhorn, que nela se basearia para compor "Chelsea Bridge". Houve um engano no título, apenas, quanto à ponte que figura no quadro (Old Battersea Bridge), talvez devido ao fato de Whistler ter sido tão ligado ao bairro londrino de Chelsea, onde viveu.
Procuramos também partir da pintura, para captar o "clima" fluído e misterioso do tema e dar-lhe a moldura perfeita.
Certa vez, Whistler reuniu seus amigos (e inimigos) para uma famosa palestra, em que expôs seus conceitos estéticos. Num trecho ele dizia:
"E quando a névoa noturna veste de poesia as margens do rio, como um véu, e os pobres prédios se abandonam ao céu sombrio, as altas chaminés tornam-se campanários e os depósitos são palácios na noite, e toda a cidade está suspensa no ar: uma terra encantada diante de nós; aí o transeunte se apressa de volta ao lar. O operário e o homem culto, o sábio e o ocioso cessam de compreender - como cessaram de ver - e a Natureza, que, por uma vez, cantou no tom, canta sua primorosa canção para o artista apenas, seu filho e seu mestre. Seu filho, pois a ama, seu mestre, pois a conhece."
Marcadores: A melhor música do mundo, abre aspas, Billy Strayhorn, Debussy, James Abbott McNeill Whistler, Nouvelle
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