Whatever happened to revolution for the hell of it, to protesting nothing in particular, just because it's saturday and there's nothing else to do?
1 Comments Published by Ronaldo Evangelista on sábado, 24 de maio de 2008 at 5:17 PM.
Isso provavelmente é um defeito grave na minha vida prática, mas sempre gostei de deixar o acaso guiar meus passos. Talvez por isso tenha tido sempre problemas na escola, colégio, faculdade: odiava ter que aprender o que queriam que eu aprendesse em prazos estabelecidos por nada além de uma objetividade prática subjetiva que não me fazia sentido nenhum, quanto tinha tanto que eu queria saber e que já tomava tanto do meu tempo. Me indignava ter que ler os romances do Machado quando eu ainda estava saboreando seus contos. Me recusava a ler Castro Alves quando eu estava mergulhado em Augusto dos Anjos. Não queria saber de escritores contemporâneos quando estava descobrindo Oscar Wilde, Camus e Kafka. Nada contra os autores e livros que eu renegava por outros, só uma recusa de uma linha de pensamento acadêmico que me apresentava algumas obras como essenciais e outras não e hierarquizava trabalhos entre maiores e menores. Nada contra esses livros específicos, apenas uma atração por deixar a minha própria lógica guiar o meu timing de aprendizado.
Por tudo isso, sempre gostei mais de sair para o cinema sem saber qual filme veria, de entrar em uma locadora sem saber qual fita levaria para casa, de ir a um sebo buscando aquele livro que já carregava histórias de outras vidas e agora estava ali me esperando, embora eu não soubesse disso até aquele momento. Outro dia, por exemplo, estava naquela passarela subterrânea na esquina da Paulista com a Consolação e achei um livro ótimo (entre vários outros que já me encontraram lá): Eleven Modern Short Novels. Por cinco reais, levei um livro com novelas curtas de Miguel de Unamuno, Wiliam Faulkner, André Gide, Alberto Moravia, além d'O Estrangeiro e d'A Metamorfose, em textos completos e com ensaios dos editores.
Hoje, lendo o ensaio sobre o Kafka, topei com esse trecho:
When fiction comes as close to reality as Kafka's often does, it becomes as it were too realistic, too faithfull, too authentic. It loses its mythopoetic quelity. It drops all pretense of distance. It ceases to be fiction and becomes instead a painful recreation, a terrifying documentary of the actual.
And now, more than ever before, with the dread of nameless threats embedded in everyday life, the sense of aloneness and emptiness, of the precariousness of a person's very being, of Authority shaking itself and arising again from a sick bed in rage, the ghost of Kafka challenges our premises anew. His name has given our language an adjective that describes the metaphysic of much modern America: countless quietly desperate Josephs and Josephines afflicted by all sorts of insecurity, by the threat of dehumanization, by unattainable or indefinable spiritual longings. We feel inexplicably trapped. We are afraid that no one will prevent a uniformed psychopath from pulling the lever on the machine that spells DOOM, we tremble before the prospect that we may be lost forever in the blizzards of disbelief, we suspect that the quester, like K. in The Castle, may never reach his destination. We are fascinated by the unfolding of what may be the script for the climax of our own greatest drama.
E aí, descontadas todas as especificidades do Kafka e de tempo e espaço do texto, o acaso levou meus pensamentos a idéias que não tinham absolutamente nada a ver com o que planejava pensar hoje ou para esse post: comecei a matutar que em todos os momentos históricos sempre houve essa idéia de "nos dias de hoje...", justificando-se sentimentos inexorável e atemporalmente humanos. Hoje em dia, provavelmente mais do que nunca, gastamos palavras e mais palavras analisando como as mudanças sociais, tecnológicas, comportamentais de nossa época mudaram toda a nossa maneira de ver, sentir, pensar. E, claro, existem realmente muitas sensações, idéias, neuras que são produtos diretos dessa ansiedade, desse niilismo fin-de-siècle, desse vale-tudo cada-um-por-si em que vivemos; mas, no fundo, a impressão que tenho é que as patéticas angústias humanas são, sempre foram e sempre serão as mesmas: insegurança sobre nós mesmos, medo da solidão, dúvidas sobre o sentido dessa palhaçada toda. Nada novo, mas foi onde os pensamentos resolveram passear nessa tarde de sábado. São necessárias maiores justificativas?
Por tudo isso, sempre gostei mais de sair para o cinema sem saber qual filme veria, de entrar em uma locadora sem saber qual fita levaria para casa, de ir a um sebo buscando aquele livro que já carregava histórias de outras vidas e agora estava ali me esperando, embora eu não soubesse disso até aquele momento. Outro dia, por exemplo, estava naquela passarela subterrânea na esquina da Paulista com a Consolação e achei um livro ótimo (entre vários outros que já me encontraram lá): Eleven Modern Short Novels. Por cinco reais, levei um livro com novelas curtas de Miguel de Unamuno, Wiliam Faulkner, André Gide, Alberto Moravia, além d'O Estrangeiro e d'A Metamorfose, em textos completos e com ensaios dos editores.
Hoje, lendo o ensaio sobre o Kafka, topei com esse trecho:
When fiction comes as close to reality as Kafka's often does, it becomes as it were too realistic, too faithfull, too authentic. It loses its mythopoetic quelity. It drops all pretense of distance. It ceases to be fiction and becomes instead a painful recreation, a terrifying documentary of the actual.
And now, more than ever before, with the dread of nameless threats embedded in everyday life, the sense of aloneness and emptiness, of the precariousness of a person's very being, of Authority shaking itself and arising again from a sick bed in rage, the ghost of Kafka challenges our premises anew. His name has given our language an adjective that describes the metaphysic of much modern America: countless quietly desperate Josephs and Josephines afflicted by all sorts of insecurity, by the threat of dehumanization, by unattainable or indefinable spiritual longings. We feel inexplicably trapped. We are afraid that no one will prevent a uniformed psychopath from pulling the lever on the machine that spells DOOM, we tremble before the prospect that we may be lost forever in the blizzards of disbelief, we suspect that the quester, like K. in The Castle, may never reach his destination. We are fascinated by the unfolding of what may be the script for the climax of our own greatest drama.
E aí, descontadas todas as especificidades do Kafka e de tempo e espaço do texto, o acaso levou meus pensamentos a idéias que não tinham absolutamente nada a ver com o que planejava pensar hoje ou para esse post: comecei a matutar que em todos os momentos históricos sempre houve essa idéia de "nos dias de hoje...", justificando-se sentimentos inexorável e atemporalmente humanos. Hoje em dia, provavelmente mais do que nunca, gastamos palavras e mais palavras analisando como as mudanças sociais, tecnológicas, comportamentais de nossa época mudaram toda a nossa maneira de ver, sentir, pensar. E, claro, existem realmente muitas sensações, idéias, neuras que são produtos diretos dessa ansiedade, desse niilismo fin-de-siècle, desse vale-tudo cada-um-por-si em que vivemos; mas, no fundo, a impressão que tenho é que as patéticas angústias humanas são, sempre foram e sempre serão as mesmas: insegurança sobre nós mesmos, medo da solidão, dúvidas sobre o sentido dessa palhaçada toda. Nada novo, mas foi onde os pensamentos resolveram passear nessa tarde de sábado. São necessárias maiores justificativas?
Marcadores: Filosofia de botequim, freestyle flow
Texto longo ninguém lê...
Não se sinta culpado, caro leitor, internet é assim mesmo.