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jazz moderno tocado sobre o ritmo de bossa nova



Andam fazendo por aí uma confusão danada sobre bossa nova e jazz samba. A coisa é muito simples: bossa nova é samba moderno, no qual letra, melodia, harmonia e ritmo formam um todo indissolúvel, enquanto que jazz samba é jazz moderno tocado sobre o ritmo de bossa nova. Harmônica e melodicamente, é tão jazz quanto a música de Horace Silver e Art Blakey. A única diferença é a batida. Neste LP, o tenorista Meirelles e seu conjunto Copa Cinco se exercitam nitidamente no gênero jazz samba. Excluindo-se as inevitáveis especulações sobre a autenticidade do novo gênero, devemos dizer que o jazz samba tem nesse LP talvez o seu disco mais representativo até aqui.

Como arranjador, Meirelles nos pareceu basicamente influenciado por Benny Golson. Seu esquema para os seis números do LP é semelhante ao que BG usava para os Jazz Messengers de Art Blakey, quando dirigiu musicalmente o conjunto, nos últimos anos da década de 50: tema exposto por piston e tenor, em uníssono, solos de tenor, piston, piano, baixo e bateria, e retomada do tema em uníssono, no final. Como tenorista, diríamos que Meirelles é um getziano que começa a se empolgar por Sonny Rollins. Ele ainda exibe muita coisa de Getz, no que se refere à concepção, mas sua sonoridade está bem próxima da de Rollins, especialmente no que concerne a liberdade sonora com que vem experimentando o criador de “The Bridge”.

Depois de Meirelles, o solista mais importante é o pistonista Pedro Paulo, que toca aqui com surpreendente bom-gosto e equilíbrio. Seu estilo e sonoridade lembram um pouco a Freddie Hubbard, embora sua técnica ainda esteja bastante longe da do novo pistonista dos Jazz Messengers. Luís Carlos Vinhas - que mostrou ser um autêntico pianista de jazz samba em seu LP gravado para a Audio Fidelity – apresenta-se aqui mais contido, mais preso à partitura. Seus vôos são bem mais baixos que no LP referido, onde sua liberdade era total. Gostamos bastante de seus solos, aqui muito mais líricos, mais serenos que no disco do Bossa Três. O baixista Manoel Gusmão evidenciou ser uma peça preciosa no esquema harmônico e rítmico estabelecido por Meirelles, e o baterista Do Um ratifica de maneira estupenda sua condição de ‘top drummer’ do jazz samba. Dispondo da liberdade que Bill Grauer resolveu não lhe dar no LP de Cannonball com o Sexteto Bossa Rio – no qual acompanha o tempo todo na caixa, sem usar os pratos uma única vez – Do Um utiliza ampla e incessantemente todos os elementos de bateria, presenteando-nos com um trabalho de distribuição realmente espetacular.

Parabéns ao jovem tenorista Meirelles. Seu LP é sem dúvida o mais representativo e mais autêntico gravado até aqui, em matéria de jazz samba. Aconselhamos remeter uma cópia urgentemente para os comentaristas de “Down Beat”.

Nota – Acreditamos que depois deste LP – que contém faixas improvisadas de 7 e 8 minutos de duração – estejam finalmente abertas na Philips as portas para o lançamento regular de LPs de jazz.


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Sylvio Tullio Cardoso resenha O Som e dá as boas vindas ao samba-jazz, O Globo, 1965.

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