Isso não, Roberto
0 Comments Published by Ronaldo Evangelista on domingo, 24 de fevereiro de 2008 at 10:11 PM.Já leu esse texto que saiu ontem no JB sobre o Robertão e a censura e Deus, escrito pelo cientista político Carlos Sávio Teixeira?
A rigor, se ninguém pudesse contar a história do outro, a Bíblia jamais teria sido possível. Mateus, Marcos, Lucas e João, por exemplo, não teriam escrito os Evangelhos, pois não consta que Cristo tenha lhes dado autorização. A história de Jesus Cristo é talvez a maior biografia não autorizada até hoje já escrita.
Entretanto, mais realista do que o próprio Deus, o rei não tolerou a existência de Roberto Carlos em Detalhes e, sem ao menos ter lido, pediu sua proibição.
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De minha parte, devo dizer que ainda penso exatamente como escrevi nessa matéria na Folha no fim de 2006: o que falta a Roberto é a humildade e o senso de realidade que só um "não" pode trazer.
Roberto Carlos não é um artista sofisticado. Com seu enorme talento pop, ele sabe, sim, utilizar sofisticação para criar canções, assim como também não hesita em recorrer ao mais deslavadamente popularesco.
Sua voz, sua interpretação, seus trejeitos, sua personalidade, sua persona já viraram uma marca maior do que ele mesmo, maior que a vida. Tradições viraram rotina, rotinas viraram costumes, costumes viraram manias. Fugir disso é risco -e riscos são riscos, afinal. Mas são também crescimento artístico.
É inevitável a qualquer artista de seu porte estar cercado de assessores, amigos, fãs, músicos, críticos que só lhe dizem "sim". A responsabilidade de dizer "isso não, Roberto" só cabe a ele mesmo e à sua consciência.
Qual seria o efeito de alguém contar a ele que dizer que Jota Quest é "a grande banda de rock do Brasil" e cantar "Além do Horizonte" com a ponte alterada da negativa para a afirmativa é algo tremendamente constrangedor? Ou avisar a ele que repetir demais palavras como "emoção", "alegria", "amigos" e "ternura" fazem as palavras perderem o efeito e se tornarem apenas bordões vazios?
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