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depois que acontecer, não podemos voltar atrás

Sobre o show de daqui a pouco e amanhã, troquei uma idéia com Pharoah e Maza pra um texto anti-hype pra Folha, aqui ou logo abaixo.



Um dos pilares do sax tenor no que já foi chamado free jazz, spiritual jazz, música de vanguarda e outros rótulos intimidantes, Pharoah Sanders se apresenta no Brasil esse final de semana em show especial, ao lado de músicos norte-americanos e brasileiros, das bandas Hurtmold e Chicago Underground.

Dono de sonoridade intensa e grande expressividade, Sanders ganhou fama quando tocava com destaque com figuras como John Coltrane - em sua fase final, até pouco antes de sua morte - e Sun Ra - que lhe deu o apelido de Pharoah, corruptela de seu nome de batismo, Ferrell. Já o culto veio por seus próprios discos e faixas como "The Creator Has a Masterplan", "Prince of Peace", "Thembi" e "Black Unity".

"Pharoah é um músico tão revolucionariamente utópico que acredito que qualquer lugar do Cosmos aceitaria o convite ao seu mundo sonoro", diz o cornetista Rob Mazurek, que montou o show convocando instrumentistas como Mauricio Takara e Guilherme Granado, de São Paulo, e Chad Taylor e Matt Lux, de Chicago. "Não ouço Pharoah fazendo nada similar há anos", explica. "Os elementos pedem por um tipo de música total que engloba melodia e não-melodia, ritmo e não-ritmo, música livre e estruturada, barulho controlado e descontrolado."

Em conversa por telefone, Sanders aprova a aventura. "Amo fazer esse tipo de coisa, estou sempre disposto", diz. "Acredito que todo mundo tem algo a dizer, e estou curioso para ouvir e ansioso por tocar. Espero aprender com eles e espero que gostem do que faço. Se eles estão prontos, eu estou pronto: depois que acontecer, não podemos voltar atrás. Não importa quem estiver tocando, quero ouvir a música. Quero ligar os ouvidos e tocar. É tudo comunicação."

A linguagem característica do saxofonista, de ímpeto free jazz e profundidade espiritual, deve render encontro faiscante com músicos tão interessados no inesperado como Rob Mazurek e Mauricio Takara. Se jazz é música de dinâmica constante, que busca e encontra a si mesma o tempo inteiro, criada e executada como uma epifania coletiva entre músicos e ouvintes, esse talvez seja o show de jazz do ano. Mas melhor não chamar assim: Sanders, pelo menos, nunca chamou o que faz de jazz.

"Talvez alguma outra pessoa possa chamar de jazz", comenta. "Mas o que eu faço vem de dentro de mim e nunca pensei em colocar um nome nisso, apenas chamo de música. Não sei explicar o que é a música, eu gosto de tocar. Se posso tocar, está tudo bem, mas se tiver que explicar o que toco, não tenho essa solução. Tento ficar longe disso. Nunca fui uma pessoa de falar muito. Se posso falar com minha música, é a melhor maneira."

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