RONALDOEVANGELISTA


Verbo intransitivo


Hoje, 23h30, de grátis, acontece uma sessão de curtas no Reserva Cultural, ali no pé do Gazeta. Além da estréia de Amarar, filme do Emanuel Mendes, ainda vão rolar dois clássicos da 2.8 Produções Cinematográficas - inclusive o cultíssimo Para Sempre Assim (que tem Yo La Tengo na trilha, lembra?). O Amarar, estrela da noite, tem Djin Sganzerla e Helena Ignez no elenco, bem massa.

E, além de tudo isso, tem eu de DJ, transformando o coquetel em balada. Cola lá.

Marcadores:

Porque todo dia é dia de Beatles


Uma ode ao Paul. Os Beatles são a banda mais massa do mundo porque eles viviam de vender sua good vibe. Qualquer idéia maluca que surgisse, a platéia aprovava. Veja esse vídeo: o Paul, fazendo nada, mascando chiclete, cruzando o enquadramento, como se fosse um sonho, contra o sol, na frente do mar, sorriso bobo, na beira do hill. É o bobo da corte.

Marcadores: ,

Valeu a surdez


O Tsunami Mallu continua. Neste final de semana ela tocou no Bananada, em Goiânia, e sente no vídeo aí em cima o nível da histeria. Já tem gente falando em "novo Los Hermanos". Se você acha exagero, e se eu te contar que ela segurou o show sozinha, só voz e violão? A música que acompanha o frisson todo é uma nova dela - eu diria pra você ouvir, mas não está muito fácil. No Bananada, ela tocou entre o Cérebro Eletrônico e o Do Amor, nada mal para quem estava lá. Sexta agora ela continua espalhando o culto e estréia em Curitiba, depois chegam os relatos de como foi.

Marcadores:

Be good, get good or give up


Zeflas, quem diria, agora tem blog. Meu parceiro de podcast, que não tem nem celular, foi convidado a dar dicas a bandas novas durante um mês, dentro desse projeto Produtores Toddy, que tem o Rossatto por trás. Para não perder a fama de mau, Zé já começa bem e oferece sua primeira dica a aspirantes a popstar: DESISTA. Achei sensato.

Marcadores: ,

Bumerangue



Isso me lembrou de quando fiz isso.

Marcadores:

Se você precisa perguntar, é porque nunca vai saber

Já está virando tradição: todo dia, entre meia-noite e uma, rola na Rádio Cultura um programa de jazz que tem me surpreendido. A seleção musical é absolutamente impecável: nada óbvia e nem por isso hermética. As conexões são criadas: você fica sabendo quem toca cada instrumento e em que ano foi feita aquela gravação, sem pedantismo e sem quebrar o ritmo. O bom gosto impera: já ouvi de Art Blakeys raros a Waltel Brancos funkeados a Vitor Assis Brasis com Dom Salvadores. Segundo a voz me anuncia, o roteiro e a seleção musical são de Vilmar Bittencourt.

Marcadores: ,

Videozinho massa


"Squeeze me", do Kraak & Smack. Vi na Bruna.

Marcadores:

This city tells me what it's like to live




Dia nascendo na Henrique Schaumann, décimo-sétimo andar.

Marcadores:

Isso provavelmente é um defeito grave na minha vida prática, mas sempre gostei de deixar o acaso guiar meus passos. Talvez por isso tenha tido sempre problemas na escola, colégio, faculdade: odiava ter que aprender o que queriam que eu aprendesse em prazos estabelecidos por nada além de uma objetividade prática subjetiva que não me fazia sentido nenhum, quanto tinha tanto que eu queria saber e que já tomava tanto do meu tempo. Me indignava ter que ler os romances do Machado quando eu ainda estava saboreando seus contos. Me recusava a ler Castro Alves quando eu estava mergulhado em Augusto dos Anjos. Não queria saber de escritores contemporâneos quando estava descobrindo Oscar Wilde, Camus e Kafka. Nada contra os autores e livros que eu renegava por outros, só uma recusa de uma linha de pensamento acadêmico que me apresentava algumas obras como essenciais e outras não e hierarquizava trabalhos entre maiores e menores. Nada contra esses livros específicos, apenas uma atração por deixar a minha própria lógica guiar o meu timing de aprendizado.

Por tudo isso, sempre gostei mais de sair para o cinema sem saber qual filme veria, de entrar em uma locadora sem saber qual fita levaria para casa, de ir a um sebo buscando aquele livro que já carregava histórias de outras vidas e agora estava ali me esperando, embora eu não soubesse disso até aquele momento. Outro dia, por exemplo, estava naquela passarela subterrânea na esquina da Paulista com a Consolação e achei um livro ótimo (entre vários outros que já me encontraram lá): Eleven Modern Short Novels. Por cinco reais, levei um livro com novelas curtas de Miguel de Unamuno, Wiliam Faulkner, André Gide, Alberto Moravia, além d'O Estrangeiro e d'A Metamorfose, em textos completos e com ensaios dos editores.

Hoje, lendo o ensaio sobre o Kafka, topei com esse trecho:

When fiction comes as close to reality as Kafka's often does, it becomes as it were too realistic, too faithfull, too authentic. It loses its mythopoetic quelity. It drops all pretense of distance. It ceases to be fiction and becomes instead a painful recreation, a terrifying documentary of the actual.

And now, more than ever before, with the dread of nameless threats embedded in everyday life, the sense of aloneness and emptiness, of the precariousness of a person's very being, of Authority shaking itself and arising again from a sick bed in rage, the ghost of Kafka challenges our premises anew. His name has given our language an adjective that describes the metaphysic of much modern America: countless quietly desperate Josephs and Josephines afflicted by all sorts of insecurity, by the threat of dehumanization, by unattainable or indefinable spiritual longings. We feel inexplicably trapped. We are afraid that no one will prevent a uniformed psychopath from pulling the lever on the machine that spells DOOM, we tremble before the prospect that we may be lost forever in the blizzards of disbelief, we suspect that the quester, like K. in The Castle, may never reach his destination. We are fascinated by the unfolding of what may be the script for the climax of our own greatest drama.


E aí, descontadas todas as especificidades do Kafka e de tempo e espaço do texto, o acaso levou meus pensamentos a idéias que não tinham absolutamente nada a ver com o que planejava pensar hoje ou para esse post: comecei a matutar que em todos os momentos históricos sempre houve essa idéia de "nos dias de hoje...", justificando-se sentimentos inexorável e atemporalmente humanos. Hoje em dia, provavelmente mais do que nunca, gastamos palavras e mais palavras analisando como as mudanças sociais, tecnológicas, comportamentais de nossa época mudaram toda a nossa maneira de ver, sentir, pensar. E, claro, existem realmente muitas sensações, idéias, neuras que são produtos diretos dessa ansiedade, desse niilismo fin-de-siècle, desse vale-tudo cada-um-por-si em que vivemos; mas, no fundo, a impressão que tenho é que as patéticas angústias humanas são, sempre foram e sempre serão as mesmas: insegurança sobre nós mesmos, medo da solidão, dúvidas sobre o sentido dessa palhaçada toda. Nada novo, mas foi onde os pensamentos resolveram passear nessa tarde de sábado. São necessárias maiores justificativas?

Marcadores: ,

Estou entregue a ponto de estar sempre só


O show do Jeneci ontem no Cedo e Sentado foi coisa séria, seríssima. Tudo tão lindamente delicado que todo mundo saiu de lá flutuando. Cada música mais bonita que a anterior, passei o show inteiro emocionado. O Jeneci tem aquele raro talento de achar a nota, o acorde, o som, a entonação, a palavra exata pra tocar naquele lugar especial que você guarda bem guardado dentro de você. Eu sabia que ia ser legal, mas não esperava tanto. Mas já devia ter desconfiado: o cara não só toca com alguns dos meus músicos favoritos como alguns dos meus músicos favoritos tocam com ele. Eu já o achava um gênio de vê-lo e ouvi-lo tocando com o Cidadão Instigado e a Andréia Dias, entre várias outras pessoas legais, mas ontem a coisa existiu em um outro nível, numa categoria só dele. Tocando com ele estavam o Curumin (na bateria, alguns samples, guitarra em uma música), o Régis (guitarra, baixo, violão de 12) e a Laura (violoncelo, pandeirola e linda voz). O Jeneci tocou wurlitzer, órgão, acordeão, violão, guitarra e cantou. E não houve um único som tocado durante o show inteiro que estivesse fora do lugar, nenhuma nota a mais ou a menos.

Aqui, "Amado", parceria dele com a Vanessa da Mata.
Aqui, "Quarto de dormir", parceria dele com o Arnaldo Antunes.

(Foto daqui.)

Marcadores: ,

Emoção sólida



Ele assistiu ao filme todo mudo e sem reação nenhuma.

Ao final da sessão, quando os créditos começaram a subir, sua mulher, Pilar, debruçou-se sobre Saramago e me agradeceu, emocionada. Silêncio ao meu lado. Antes de terminar os créditos principais, as luzes do cinema foram acesas, eu ousei olhar para o lado e vi que ele fitava a tela sem reação, como se estivesse interessado no nome dos assistentes de cenografia que passavam.

Deu tudo errado, pensei. Toquei seu braço levemente e lhe falei que ele não precisava comentar nada naquele momento, mas, então, com uma voz embargada, ele me disse, pausadamente: "Fernando, eu me sinto tão feliz hoje, ao terminar de ver este filme, como quando acabei de escrever "O Ensaio sobre a Cegueira'".

Apenas agradeci e ficamos ali quietos. Dois marmanjos segurando as próprias lágrimas em silêncio. Ele passou a mão nos olhos, disfarçando a sua. Pensei no meu pai. Emoção sólida, dessas que se pode cortar em fatias com uma faca. Num impulso, beijei sua testa.

Na conversa e no jantar que se seguiram, ele disse que não considera o filme um espelho de seu trabalho e que nem poderia ser assim, pois cada pessoa tem uma sensibilidade diferente.

Disse ter gostado da experiência de ver algo que conhecia, mas que, ao mesmo tempo, não conhecia. Falou que o filme não era perfeito, mas que nunca havia assistido a um filme perfeito.


Fernando Meirelles, compreensivelmente romantizando a primeira sessão de "Blindness" do Saramago, na Folha Ilus de hoje.

Marcadores: , ,

Hoje!

Marcadores:

Triscando as botinhas


Zooey, ela, gravando o primeiro vídeo da sua banda com o M.

Marcadores: ,

I feel a little more blue than then


O som está ruim e a imagem não é das melhores, mas vale: essa pessoa filmou várias das músicas novas que o Caetano está apresentando no show Obra em Progresso, durante algumas quartas no Vivo Rio. Como a idéia é exatamente testar o repertório novo e ir esquentando a banda, essencial que se vaze todo o show. Agora, bem que o próprio Caetano podia ter se agilizado com um povo pra filmar legal e criar seu próprio canal no YouTube, né? Podia ter conseguido um marketing à Radiohead, divulgação das suas músicas novas meses antes delas serem lançadas (o que as tornaria "velhas favoritas" quando efetivamente saíssem) e ainda passava uma imagem de tiozão up-to-date pros jovens que acreditam no MTV Overdrive e ganharam um pouco de respeito pelo "disco rock" do Caê.

Acima, "Perdeu", música que abriu o show, dica do Zeflas, que foi lá ver o show in loco. Até o fim dessa temporada vou tentar matar saudades do Rio e ir ver qualé desse Ensaio Aberto do Caetano. Boto muita fé nessa fase que ele passa, nessa banda sensacional que ele montou e nessas músicas novas que tem escrito.

As outras inéditas do show:

"Tarado ni você"


"Por quem"


"Base de Guantánamo"


"Sem cais" (parceria com Pedro Sá)


"A cor amarela"

Marcadores: , ,

I'm not lonely, I just wanted a drink


A primeira vez que vi Norah Jones, já simpatizei. Mas achei que ela fosse mais uma de uma enorme lista de cantoras gringas suaves e simpáticas. // A primeira vez que soube que ela tinha se tornado a maior popstar do mundo, fiquei chocado. Mas pensei por um segundo e tudo fez sentido: carisma não se compra na esquina e eu dou todo o mérito do mundo a quem tem. // A primeira vez que li que ela seria a protagonista do (então) filme novo do Wong Kar-Wai, que seria o primeiro dele em inglês, me apaixonei. Ele é foda, ela é foda e o filme teria ainda Rachel Weisz, Natalie Portman, Chan Marshall. // A primeira vez que soube que ela tinha vários projetos musicais além dos discos solo pela Blue Note, gostei mais ainda dela. Porque ela simplesmente faz questão de deixar claro que é humana. // Eu adoro os popstars. Respeito e admiro muito quem veste um personagem e vai até o fim sem hesitar, como quem brinca de sério. Mas aqueles artistas que ganham todo respeito artístico e ainda fazem questão de nunca se colocar acima de ninguém? Esses são raros e especiais.

E agora ela resolveu bolar mais uma brincadeira: El Madmo. De peruca loira, guitarra na mão e pseudônimo ("Maddie"), ela agora toca também em um trio à indie-rock, com dois amigos ("El" e "Mo"), uma gravadora independente, ilustrações massa, letras meio retardadas e um release que diz que a banda nasceu de "ineptidão social e uma crença sem idade em gostosuras-e-travessuras" e oferece "fuga, justiça, postulação cármica e aquela sensação que dá quando você sabe de algo que mais ninguém sabe".

A banda já existe há uns dois anos e fez alguns shows discretos por aí. O primeiro disco está saindo hoje. Não é bem que eu recomende especialmente ou ache o som incrível - prefiro as coisas quanto mais sussa melhor -, mas só de saber que ela perde tempo fazendo isso, confio mais nela.

Marcadores: ,

Entrevista: Paulo Cesar de Araújo



Duas semanas atrás Paulo Cesar de Araújo, autor do censurado Roberto Carlos em Detalhes, comemorou.

Como você certamente se lembra, há pouco mais de um ano Roberto entrou com dois processos criminais e um civil contra Paulo Cesar e a Editora Planeta porque não gostou de ver lançado o livro, que saiu no dia primeiro de dezembro de 2006. Em uma "audiência conciliatória" entre o cantor e seus advogados e Paulo Cesar e os advogados da Editora Planeta, o livro saiu proibido por um acordo em comum - ou foi o que pensamos na época. Pouco depois, Paulo Cesar contou: a audiência havia sido um show de horror, com o juiz fazendo ameaças a ele e tietagens pra cima de Roberto.

E agora, um ano depois, Paulo Cesar teve sua primeira pequena vitória nessa briga de Davi contra Golias: na vara cível, a juíza Márcia Cristina Cardoso de Barros tirou a razão de Roberto Carlos. Eu aproveitei a história toda para conversar com Paulo Cesar, descobrir mais detalhes e saber em que pé anda tudo.

O que significa, na prática, essa nova sentença da juíza Márcia Cristina Cardoso de Barros? Há chances do livro voltar às lojas? A Planeta está disposta a comprar a briga?

O livro continua proibido, mas a juíza deu mais munição para eu continuar na luta porque afirmou que Roberto Carlos não tem razão nesse processo. Invasão de privacidade, uso indevido de imagem, exploração comercial de seu nome – de nada disso pode ser acusado o livro "Roberto Carlos em Detalhes". Ao contrário de juizes anteriores, que se valeram de regras gerais para julgar um caso especifico, a magistrada analisou esta biografia na sua especificidade. Ela argumentou, por exemplo, que a "obsessão compulsiva de tudo controlar sobre si mesmo" não pode se sobrepor ao "direito democrático constitucional de informação", especialmente "se a pessoa é pública e a informação verdadeira". Enfim, ficou claro agora que o livro está amparado pela legislação do país. Isto, inclusive, já tinha sido enfatizado por juristas e advogados como, por exemplo, o ex-ministro Saulo Ramos. Mas desta vez é a palavra de uma juíza titular que trabalhou no caso, analisou os autos e proferiu a sentença. Por tudo isso, vou continuar lutando para trazer o livro de volta. Já a Editora Planeta não quer saber de briga com Roberto Carlos. Portanto, estou agora sozinho nesta luta.

Como você se lembra hoje da audiência de reconciliação em abril de 2007 em que o juiz e compositor Tércio Pires entregou um CD a Roberto Carlos, na qual o "contexto era desfavorável" a vocês e da qual o livro saiu proibido?

Aquele foi talvez o pior momento da minha vida. Vi um trabalho de quinze anos ser destruído numa reunião de cinco horas. O mais grave não foi o juiz dar o CD a Roberto e depois tirar fotos com ele. O pior foram as ameaças. Por duas vezes o juiz disse que poderia mandar fechar a Editora Planeta. Isto assustou os diretores da empresa. O juiz e os promotores também enfatizaram os riscos de carregarmos um processo criminal nas costas. Enfim, o que seria uma "audiência de conciliação" acabou se tornando uma "audiência de condenação".

A propósito, você acha que Roberto ouviu o CD do juiz cantor?

Acho que Roberto Carlos ouviu sim e depois deve ter manifestado sua opinião ao juiz, pois ele fez este pedido ao cantor. "Roberto, por favor, ouça este disco e dê a sua opinião sincera. Este é o meu primeiro CD, já estou gravando agora um segundo, e gostaria muito de ouvir a sua opinião".

Você sente que o comportamento do juiz foi pontual ou é representativo da justiça brasileira?

O comportamento deste juiz foi apenas mais um exemplo do que freqüentemente acontece no Brasil. A lei é para todos, mas a interpretação que a Justiça faz da lei é, na maioria das vezes, favorável aos mais poderosos e influentes.

Olhando em retrospecto hoje todas as reportagens, opiniões, colunas, editoriais e notas sobre a censura do livro, considera que a imprensa tratou bem toda a história?

De maneira geral o tratamento foi bom, pois houve uma ênfase no direito à liberdade de expressão. A lamentar o fato de que a maioria daqueles que escreveram sobre o caso não leu o livro e enfatizou apenas aquilo que seriam as reclamações de Roberto Carlos: o caso Maysa, a morte de Maria Rita, o acidente na infância. Isto deu ao público a falsa impressão de que o livro fala somente da vida pessoal do artista. Entretanto, como você observou bem na crítica que escreveu na Folha, "Roberto Carlos em detalhes" é muito mais do que isso. O livro traz milhares de informações sobre Roberto Carlos e a música brasileira, redimensiona a obra do cantor, situando-o em momentos cruciais, tais como na era do rádio, na eclosão da bossa nova e depois no tropicalismo.

Depois de todo o auê - positivo e negativo - da novela Roberto Carlos em Detalhes, futuras biografias correm risco, Roberto abriu precedentes perigosos?

É um precedente perigosíssimo, porque se valer para os outros o que está valendo para Roberto Carlos ninguém mais poderá escrever a história do Brasil. Fernandinho Beira-Mar, por exemplo, é um personagem da nossa história e também poderá impedir que alguém escreva sobre ele usando os mesmos argumentos de Roberto Carlos: "Minha história é um patrimônio meu, eu é que tenho que escrever a minha biografia, não autorizei o uso de imagem, estão invadindo a minha privacidade...". Por outro lado, este caso foi tão absurdo que chamou a atenção para as brechas da lei que dão respaldo a isso. O deputado Antônio Palocci apresentou agora no Congresso Nacional um projeto de lei favorável a publicação de biografias não-autorizadas no Brasil. E estou otimista porque este é um projeto apoiado pelo poder econômico, as editoras. Não acredito na formação de uma bancada antibiografias. Ou seja, de precedente perigosíssimo, esta minha polêmica com Roberto Carlos poderá resultar numa mudança da lei que favoreça a liberdade de expressão e o direito à informação.

E, afinal, até agora você chegou a ouvir algo diretamente do Roberto? Sabe se ele leu o livro ou se continua sabendo de tudo apenas pelos resumos adulterados do advogado Marco Antonio Bezerra Campos?

Se Roberto Carlos tivesse lido meu livro jamais teria me processado. Mas como analiso naquele capítulo "Roberto Carlos e a política", ele não tem mesmo o hábito de ler; prefere ver televisão, especialmente novelas e programas tipo Big Brother. O próprio advogado dele, Marco Antônio Campos, confirmou numa entrevista, dias depois do acordo, que o cantor não leu o livro. "Nas primeiras reuniões, fizemos um resumo para ele. Depois ele leu alguns trechos, só".

Marcadores: , ,

Nem mais um minuto


Como já está virando tradição, mais um momento bonito da música brasileira captado em vídeo e pinçado no YouTube para nosso prazer: Gal na TV Record em 1973, tocando violão e cantando "Trem das onze", do Adoniran, em versão cheia de vocalises e coro do público do teatro. Sete minutos de pura singeleza joãogilbertiana na voz da jovem gal, de lambuja inventando o visu menina-hippie, de cabelão e flor no cabelo.

Marcadores: ,

A seguir, cenas do próximo capítulo

Tenho certeza que você já está sabendo: o Studio SP está de mudança. Daqui menos de duas semanas é bye-bye Vila Madalena e olá Baixo Augusta. O Cedo e Sentado, projeto do qual eu sou curador, vai não só continuar no endereço novo como já vai chegar cheio de novidades inacreditáveis. Aguarde e verá. Enquanto isso, isso aqui é para avisar: só temos mais uma semana no Studio que serviu de cenário para tantos shows memoráveis nos últimos anos, então é hora de se despedir vendo as ótimas últimas apresentações ali e já se esquentando para o lugar novo. Agora é a hora de aproveitar e fazer tudo que você sempre quis fazer neste espaço e andava adiando.

Se você só estava esperando um bom motivo, te dou seis.

HOJE, sexta, 16 de maio
Quarteto com influências que vão de Eumir Deodato a Zero 7, de Raul de Souza a Four Tet, de Herbie Hancock a Cinematic Orchestra, o Lavoura tem em seu DNA, nas palavras deles próprios, "eletrônica híbrida, psicodelia digital, funk setentista e afrofuturismos". Ou seja: elementos altamente jazzísticos se cruzam com detalhes eletrônicos e uma pegada roqueira. Para esse show eles ainda prometem algo especial e tocam, além de suas próprias músicas, composições de Jimmy Smith, Marcos Valle, John Coltrane e grooves eletro-jazz afins.
http://www.myspace.com/lavoura

Amanhã, sábado, 17 de maio
Um dos shows mais simpáticos e good vibe que passaram pelo palco do Cedo e Sentado desde sempre, Pipo Pegoraro volta aclamado e dessa vez acompanhado da sua banda Julia Car, em formação expressa. Juntos, eles trazem seu pop esperto e despretensioso com toques de hip-hop, eletrônico orgânico, brasilidades não-óbvias e mais um monte de referências legais.
http://www.myspace.com/pipopegoraro
http://www.myspace.com/juliacar

Quarta, 21 de maio
Marcelo Jeneci
Pianista, tecladista, maestro, explosão de criatividade, Marcelo Jeneci toca com um monte de gente finíssima, de Cidadão Instigado a Andréia Dias, de Bruna Caram a Arnaldo Antunes. Agora, está aí com mais um projeto nas mãos: o seu próprio. Ele fez sua estréia solo há duas semanas no Sesc Santana e agora chega junto pra apresentar o trabalho pra gente, acompanhado de ninguém menos que Curumim, Régis Damasceno e Laura Lavieri.

Quinta, 22 de maio
Projeto da futura superstar Tulipa Ruiz nos vocais com seu lendário pai Luiz Chagas na guitarra (mais uma banda massa junto, claro), o Pochete Set tem o senso de humor da vanguarda paulistana com o toque pop dos Beatles com a delicadeza da Gal nos seus melhores momentos. Tá bom pra você? "Às vezes" já é hit-repeat por aqui: clica no link-MySpace aí embaixo e ouve.
http://www.myspace.com/pocheteset

Sexta, 23 de maio
Um pouco de samba, um pouco de rock, um tanto de suingue e leveza pop tropical são alguns dos elementos da música de Tupiniquin, que chega chegando lançando seu primeiro disco, "Made in São Paulo", com toda a pinta de nova música pop brasileira. Nas gravações, ele contou com a participação de gente do naipe de Régis Damasceno, Rian Batista, Tita Lima, Karina Buhr, Guizado, Dustan Gallas. No show, promete levar alguns deles pra cima do palco.
http://www.myspace.com/tupiniquin

Sábado, 24 de maio
Talvez o melhor show que aconteceu no Cedo e Sentado nesses quatro meses em que estou lá fazendo a curadoria, tudo indica que o Guizado só vai melhorar ainda mais daqui pra frente. Projeto solo do Gui Mendonça, trompetista brilhante que toca com uma galera do bem, é algo como uma versão atualizada, tropical e quebrada de um Miles fusion. Seu disco, Punx, já está pronto e deve ser lançado a qualquer momento. Vai ouvindo as músicas no MySpace dele e não falte por nada. (Chegue cedo e fique! No mesmo dia, logo depois, fechando o Studio com chave de ouro, tem show do São Paulo Underground.)
http://www.myspace.com/guizado

Logo mais te conto as novidades e os shows de junho.

Marcadores: ,

Eu também




Eu acredito em João Gilberto porque ele é simples, sincero e extraordinariamente musical.

(Tom, na contracapa do Chega de Saudade.)

Marcadores: , , , , ,

Have I got this memories or have they got me?



Essa é pra Dani.

Marcadores: , , , ,

Studio novo na Augusta


A essa altura você já está sabendo: o Studio SP está de mudança da Vila Madalena para o Baixo Augusta. Grandes novidades para o Cedo e Sentado, projeto do qual eu sou curador, mas daqui a pouco eu conto. Enquanto isso, como todo mundo me pergunta "e aí, você já foi ver o espaço novo, é legal?", fui lá e tirei essa foto do processo de obras a todo vapor. Saca o tamanho do palco, o pé-direito, imagina tudo já finalizado e caprichado e me diz, legal ou não o espaço?

Daqui menos de duas semanas, é nóis lá.

Qualquer Coisa: cenas de bastidores



Não tenho avisado aqui de cada edição nova do Qualquer Coisa porque já está todo mundo sabendo: toda segunda-feira tem edição nova no ar. Na mais recente, nossa bróder Clarah apareceu pra contar umas histórias e falar do filme Nome Próprio, baseado na sua vida/obra. Agora sente o profissionalismo do produção: enquanto a gente gravava, Clarah e Zé viam os peitos da Juliana e o Terron assistia o último show da Madonna.

Marcadores: ,

Hoje: Ensaio + Thalma


Hoje tem mais um Ensaio Aberto no Cedo e Sentado, do Studio SP.

Tatá Aeroplano, Mauricio Fleury, Leo Cavalcanti e Isidoro Cobra se reúnem para mostrar os nascentes hits do projeto, apresentar novas composições, testar idéias, receber convidados, criar parcerias e espalhar um clima massa por São Paulo.

Prometendo subir no palco para tocar com os anfitriões hoje estão Helio Flanders, do Vanguart, e Zé Pi, do Druques. Mais as surpresas de sempre, claro.

O Ensaio Aberto começa pontualmente às 22h30. Na seqüência, no palco de baixo, ninguém menos que Thalma de Freitas canta e comemora seu aniversário entre amigos e ninguém menos que DJ Nuts comanda as picapes.

Ou seja: é uma daquelas noites que, se você perder, vai ficar se arrependendo por um bom tempo.

Nos vemos logo mais.

Marcadores: , ,

Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro

Não acredito na felicidade - estou lhe dizendo a verdade. Acredito apenas na inquietude. Ou seja, nunca estou feliz por completo - sempre preciso fazer outra coisa. Mas admito que na vida existem felicidades que duram dez segundos ou meia hora, como quando nasceu meu primeiro filho -naquele instante, eu estava feliz. Mas são momentos muito breves. Alguém que é feliz a vida toda é um cretino. Por isso, antes de ser feliz, prefiro ser inquieto.

Umberto Eco, hoje, na Folha.

Marcadores: ,

Let's play that


Hoje: vernissage, Coletivo Galeria, Rua dos Pnheiros, abertura de exposição massa de fotografia Lomo, com produção da Dani, uma galera participando e eu discotecando.

Antes, às 19h30, espetáculo sensacional no Sesc Consolação.

Vamoaê?

Marcadores:

30 toneladas de papel, 2000 quilos de chumbo e 500 mil palavras

Aproveitando o papo cinema brasileiro, li na Ciça Cecília: em 1965, copidesque do jornal, Nelson Pereira dos Santos dirigiu um estilosíssimo curta sobre o JB, que o jornal acaba de recuperar do limbo. Aqui.

Vale o comentário que no meu mosaico particular de referências o Boca de Ouro, do Nelson Pereira, é um dos grandes clássicos. Ele, o Todas as Mulheres e o São Paulo S/A formam a trinca dos filmes mais modernos feitos por aqui até hoje.

(E o SPS/A, pelo menos, já saiu e é encontrável em DVD. O resto...)

Marcadores: ,

Um jeito das pessoas seguirem o pensamento das outras

Falando no Domingos e no Todas as Mulheres, o Carneiro fez ontem um post responsa no blog dele sobre o assunto. Além de comentar o filme com elegância, ainda me conta que o Domingos agora tem um blog no site da Bravo!.

Com a palavra, Domingos:

Outro dia compreendi o que é um blog. Por isso eu resolvi aceitar este por um mês. É uma coisa muito mais importante do que eu tenho pensado. É um jeito das pessoas seguirem o pensamento das outras. Do jeito que ele é. Descontínuo. Desordenado. Casual. É uma espécie de diário do escritor do blog. Selecionado aquilo que pode interessar a todos. E a meta do blog é “fazer amigos e influenciar pessoas”, título de um livro do meu tempo que fez um sucesso danado, acho que foi o primeiro de auto-ajuda. Dale Carnegie.”

Marcadores: , , ,


Alguém uploadou o Todas as Mulheres do Mundo inteiro no Youtube, em blocos de dez em dez minutos. O filme é coisa finíssima: Leila Diniz no auge, Domingos de Oliveira no seu melhor momento, influências do Le Mépris, das melhores fotografias do cinema nacional. Se nunca viu - ou se faz tempo desde sua última vez -, vai dando play ou salva o permalink e volta depois com calma pra assistir tudo. A imagem não é aquela Brastemp e é quase sacrilégio ver nessa telinha dentro da telinha do computador, mas qual a opção? Eu recomendaria o DVD, mas como pra variar é um transtorno de achar, se joga no Youtube:










Marcadores: , , ,

I wanna take a little time just to fall in love again


Reverendo Al Green está lançando no fim do mês disco novo, "Lay It Down", co-produzido pelo ?uestlove (mais ou menos como se o Ganjaman produzisse o Tony Tornado) e com sopros dos Dap-Kings, além de várias participações e produção com timbres clássicos, arranjos de cordas e tudo que o mestre tem direito. Dá pra ver um mini-making of aqui. Eu, fã da Corinne Bailey Rae e mais ainda dos discos dos anos 70 do Al Green, não consigo tirar do repeat esse dueto lindão deles, "Take Your Time". Ouça aqui embaixo, só dar play.


powered by ODEO

just you take your time
just you take your time

do you remember when we used to take our time
you'd write me a letter being there
and i'd wait for you all night

now it seems everyone's rushing around
including you and i
i wanna take a little time just to fall in love again

cause they're telling me
just you take your time
just you take your time

when i think about yesterday
everything was easy
everything was okay

now everything is going fast
you're the best thing i ever had
and losing you would make me feel soo bad

would you help me saying
just you take your time
just you take your time

sing low and take it slow
i'm inclined to agree
cause ain't nobody living can try to hurry me

just you take your time
just you take your time

Marcadores: , ,

Sem Ludwig van?


Sabia que o Laranja Mecânica, antes do Kubrick assumir o projeto, quase foi um filme com Mick Jagger no papel principal e com trilha sonora dos Beatles? É sério.

E, aproveitando o assunto, dois comentários:

Você sabia da existência disso?

E o que seria do indie rock brasileiro sem o filme do Kubrick? No mínimo, muita gente estaria sem nome: Vellocet, Ludovico, Druques...

Marcadores:

Rotating auteur theory

O Pitchfork, também conhecido como O Site Mais Indie do Mundo, publicou hoje uma resenha do "Futurismo", disco do ano passado do Kassin com o +2, que saiu agora nos States pela Luaka Bop:

No, this isn't your father's Brazilian pop, not even if your father is the famously freewheeling Caetano Veloso.


Quando o disco saiu aqui eu também escrevi uma resenha, pra Folha:

Brincando com suas próprias referências, criando arranjos simples mas recheados de pequenas surpresas, com letras sobre um mundo mais tranqüilo, calmo e devagar, o título do álbum é acertado, mas obviamente não se sustenta sem ironia. O futurismo de Kassin é um futurismo retrô, como o próprio movimento artístico que lhe dá nome, como se ele estivesse buscando no passado o ponto em que a música começou a se tornar menos interessante e dali retomou o caminho, criando um futuro alternativo em que a música pode realmente existir sendo criativa, divertida e inteligente como a sua.

Marcadores: ,

Emilinha ou Marlene?


Continuando a série Achando Vídeos Inacreditáveis no YouTube, mais um momento incrível da música brasileira em imagens: Roberto e Caetano conversando sobre as músicas que mais gostavam quando crianças e cantando juntos uma das canções mais lindas que Caetano já escreveu e que Roberto já cantou: "Como dois e dois". Música que o Caetano fez doída quando ainda estava no exílio e deu pro Roberto e pra Gal cantarem em seus discos de 1971, igualmente clássicos - este e este. E música que Caetano recuperou recentemente pros seus shows, na mesma onda de descolização que gerou o .

quando você me ouvir cantar
venha, não creia, eu não corro perigo
digo, não digo, não ligo, deixo no ar
eu sigo apenas porque eu gosto de cantar

tudo vai mal, tudo
tudo é igual quando eu canto e sou mudo
mas eu não minto, não minto, estou longe e perto
sinto alegrias tristezas e brinco

meu amor
tudo em volta está deserto, tudo certo
tudo certo como dois e dois são cinco

quando você me ouvir chorar
tente, não cante, não conte, não cante comigo
falo, não calo, não falo, deixo sangrar
algumas lágrimas bastam pra consolar

tudo vai mal, tudo
tudo mudou não me iludo e contudo
é mesma porta sem trinco, o mesmo teto
e a mesma lua a furar nosso zinco

meu amor
tudo em volta está deserto, tudo certo
tudo certo como dois e dois são cinco

Marcadores: , , ,

I used to scream when a whisper would do

Now I'm letting silence do the talking.

Marcadores: ,

Free your mind and your ass will follow

Quarta-feira última teve festa free-for-all no Astronete e fui discotecar ao lado dos amigos Farinha, Dani e Maurice. Foi bem divertido: abri a noite no soulzinho relax pro povo ir entrando no clima e depois fui subindo a pegada até entrar num back-to-back nervoso com o Mauricio. Foi a primeira vez que testamos em público uma idéia que estamos tendo de misturar nosso habitual som de vinis de funk com umas modernidades suingadas. No final ficou tudo bem massa, pista cheia do começo ao fim da noite.

Em ordem alfabética, algumas das coisas que botei lá:

Al Green - I'm glad you're mine
Betty Wright - Clean up woman
Bob Dylan - Most likely you go your way (and I'll go mine) (Mark Ronson re-version)
Calvin Harris - The Girls
Gnarls Barkley - The last time
Hot Chip - Ready for the floor
Idriss Muhammad - Superbad
Jackson 5 - I want you back
Jamie Lidell - Another day
Kool & the Gang - Hollywood swingin'
Of Montreal - Gronlandic edit
The Rapture - W.A.Y.U.H.
Sharon Jones and the Dap-Kings - What have you done for me lately?
Shawn Lee's Ping Pong Orchestra - Rock your body
Sly and the Family Stone - Thank you (fallettinme be mice elf again)
Som Nosso - Pra swingar
Stevie Wonder - We can work it out
Tony Alvon & the Belairs - Sexy Coffee Pot
Yvonne Fair - I found you

(Não lembro de tudo que o Mauricio colocou no back-to-back comigo, mas lembro de uma que não sei o nome do novo da Kylie, "Bonafied lovin'" do Chromeo, "A little bit of feelgood" do Jamie Lidell, "Você vai me destruir" da Vanessa da Mata, "Baby" do Erasmo e várias funkeiras, discos e souls clássicos.)

Marcadores:

Tell me you love me

Já viu o vídeo novo da Sharon Jones com os Dap-Kings, com um som e estáile vindo diretamente da Atlantic, 1968? Sensa.

Marcadores:


Busca


[All your base are belong to us]

Evangelista Jornalista
Investigações Artísticas

*Anos Vinte







@evansoundsystem



Feed!



© 2001-2010 Ronaldo Evangelista